Sagrada Família

As leituras e o salmo orientam a interpretação do Evangelho da apresentação do Menino. Abraão, Sara, Isaac são personagens centrais que perpassam os textos e guardam características muito comuns ao velho Simeão e à profetiza Ana. Dois homens e duas mulheres idosos, todos justos diante de Deus, irmanados pela esperança: um casal esperando a descendência e outro a realização das promessas messiânicas. Mas Abraão e Sara que em Isaac veem perdurar a descendência, são retomados na segunda leitura na perspectiva tipológica, isto é, são figuras que prenunciam a realização na economia neotestamentária. São tipos de Simeão e Ana, que no contexto litúrgico, ao seu modo, são os “novos Abraão e Sara”. Eles vêem no Menino, trazido por Maria e José, realizar a salvação, a luz que alcançar a todos os povos.

A vida futura, que, na Antiga Aliança, era compreendida na base da descendência, tem então nestes versículos escolhidos para esta liturgia apresentado nestes dois casos a evolução sofrida ao longo da historia da salvação: Abraão é desafiado a provar sua fé nas promessas divinas, sacrificando sua ultima esperança, seu próprio filho Isaac. O sacrifício não se efetua, mas a fé se confirma.

Tal compreensão e experiência da vida eterna se amadurece ao longo do percurso entre Abraão e a chegada do Menino ao Templo. Neste último se entrevê um novo sacrifício a ser realizado e a vida eterna não mais fundamentada na descendência, mas na entrega, voluntária e amorosa de Jesus, gerando a vida eterna para todos com sua ressurreição. Outrora Deus, para provar a fé do seu servo, pede o sacrifício do seu único Filho. Na nova economia, Deus aceita a oferenda livre de Jesus, que gera a fé e confirma a esperança da humanidade.

Maria e José, os ais de Jesus, levam ao templo, lugar do encontro religioso com Deus, duas pombinhas. É a oferenda dos pobres, a expressão religiosa de sua condição e pequenez. É no meio dessa situação que se situa o Filho de Deus. Na comunicação de dons, a humanidade oferece aquilo que tem: fragilidade, pobreza e pequenez.

Já Deus escolheu se encontrar com a humanidade no seio da família, é esse o lugar de encontro, profundamente humano e existencial, com a obra preferida de suas mãos. A nós ele oferece o seu Filho. A humanidade figurada por Maria e José, Simeão e Ana, acolhe Jesus, que na economia da Nova Aliança vai salvar a humanidade do pecado e da morte.

Diocese de Limeira

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