Com essa etapa da
entrevista motivacional, chegamos ao fim de nossa série, trabalhada em
diferentes temas a cada semana. No encontro anterior, falamos da fase de
manutenção, na qual a pessoa procura se manter no novo comportamento,
permanecendo abstinente. Hoje, abordaremos algo importante e, muitas vezes,
assombroso para o dependente: a recaída.
A primeira coisa que
deve estar clara para aquele que está em processo de mudança comportamental é
que os deslizes e recaídas são comuns e, até mesmo, esperados nessa trajetória.
Sobretudo para a família, é importante que não se encare esse momento como um
fracasso ou ruína, mas uma oportunidade de fortalecimento de aspectos que
poderiam ser melhor abordados e vividos durante o tratamento. Quando o
indivíduo sofre uma recaída, ele retorna para alguma das etapas do caminho
motivacional abordadas anteriormente: a pré-contemplação, a contemplação ou a
ação.
Nesse momento, é
importante o apoio e o encorajamento do dependente, reforçando, com ele, as
estratégias que anteriormente foram traçadas e, se necessário, trilhar novos
caminhos, começando de novo, às vezes, a partir de um outro ponto, com uma nova
abordagem. É comum que o desânimo e o sentimento de culpa alcancem grandes
proporções nesse cenário, o que requer do usuário e da família um olhar de
esperança, fé e confiança mútua.
No consultório, ao
acolher um paciente em recaída, procuro identificar, com ele, as situações
relacionadas àquela queda. De forma concreta, auxilio-o a identificar onde, com
quem e, sobretudo, a motivação que o levou a retornar o uso do álcool ou de
outras drogas, apesar de sua firme decisão inicial pela abstinência. Aqui é
imprescindível que ele encontre o motivo que o fez cair e, principalmente, o
sentido para se reerguer.
É comum que a
autocondenação ou a culpabilidade externa, sobretudo familiar, atrasem a saída
dessa fase, pois pioram a autoestima do dependente, em vez de incentivar a
autoconfiança. O remorso ou o apontamento dos erros são muito diferentes da
responsabilização do paciente, que é algo importante e deve acontecer dentro de
uma abordagem correta. O momento é de retomada de rumos e para isso a condução
deve ser cuidadosa e qualificada, dentro de uma perspectiva motivacional.
Como qualquer dança,
existem os tropeços e até mesmo as quedas. Mas isso não significa que a música
se silencia ou que os passos não podem ser retomados. Pelo contrário! É
preciso, o quanto antes, erguer-se para não perder tempo, não perder o ritmo.
A Palavra de Deus
ensina que é preciso perdoar 70×7 vezes. Perdoar aos outros, perdoar a si mesmo
também. Atirar pedras ou deixá-las sobre nós é como fechar-se em um sepulcro de
desconfiança, medo e baixa autoestima. Levantar-se sempre que cai significa romper
a porta do sepulcro da morte, deixar a pedra rolar e a vida, outra vez, vencer!
Érika Vilela
Fundadora
da comunidade 'Filhos de Maria'
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