A Igreja Católica
decidiu, durante a Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), promover um Ano da Paz. Essa decisão importante fundamenta-se na
urgência de unir esforços para transformar a realidade e lutar,
incansavelmente, na promoção da paz, que é um dom de Deus, entregue aos homens
e mulheres de boa vontade pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Salvador e
Redentor.
Ao investir na promoção
do Ano da Paz, a Igreja, a partir de sua tarefa missionária de anunciar Jesus
Cristo e seu Reino, empenha-se e busca sensibilizar outros segmentos da
sociedade para enfrentar a violência, que atinge de modo arrasador a vida, a
dignidade humana e as culturas. Uma fonte de sofrimento que ameaça o futuro da
humanidade, com graves consequências para diferentes povos e sociedades. Ao
promover o Ano da Paz, a CNBB aciona a grande rede de comunidades de fé que
forma a Igreja no Brasil para que, em parceria com outras instituições, seja
cultivada uma consciência cidadã indispensável na construção de uma sociedade
sem violência. Para isso, conforme ensina Jesus no Sermão da Montanha, é
necessária a vivência de uma espiritualidade que capacite melhor os filhos de
Deus, tornando-os construtores e promotores da paz.
Trata-se de um percurso
longo a ser trilhado, uma dinâmica complexa a ser vivida, para que o coração
humano torne-se coração da paz. O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica
Alegria do Evangelho, sublinha que, enquanto não se eliminarem a exclusão e a
desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos, será impossível
erradicar a violência que, venenosamente, consome vidas, mata sonhos e atrasa
avanços.
A vivência do Ano da
Paz é uma tarefa que deve ser assumida pelos homens e mulheres de boa vontade,
empenhados no trabalho de contribuir para que cada pessoa se reconheça como um
coração da paz. Esse serviço deve ser vivido de modo criativo, sem
enrijecimentos ou complicações, valendo-se de estruturas, instituições,
especialmente as educativas e os meios de comunicação. No exercício dessa
tarefa, é preciso cultivar uma espiritualidade que determina rumos. Ao mesmo
tempo, torna-se imprescindível exercitar a intrínseca dimensão política de
nossa cidadania, lutar pelo estabelecimento de dinâmicas e processos que ajudem
a avançar na erradicação dessa assombrosa e crescente onda de violência que se
abate sobre nossa sociedade, provocada, de certo modo, pela mesquinhez que
caracteriza o mundo atual.
A vivência do Ano da
Paz, ainda que sem impactantes eventos, é a esperança de que as ações simples e
cotidianas, de cada pessoa, podem provocar grandes mudanças, especialmente as
culturais, que contribuem para a manutenção da violência. No Brasil, por
exemplo, as estatísticas mostram que, anualmente, o número de homicídios é
equivalente ao de guerras pelo mundo afora. Não se pode abrir mão de análises
profundas com força sensibilizadora, capaz de despertar certa indignação
sagrada e cidadã. Também são importantes os debates em congressos, seminários e
outras modalidades, aproveitando oportunidades variadas para se falar do tema
da violência e suas consequências, que acabam com tudo – inclusive com a
possibilidade de se partilhar ocasiões festivas.
A ausência da paz
inviabiliza, por exemplo, que os diferentes partilhem momentos de festa nos
estádios de futebol, de modo saudável, alegre e fraterno. Infelizmente,
prevalecem situações de selvageria nos estádios e nas ruas. A violência se faz
presente também no ambiente das empresas, escritórios e, abominavelmente, no
sacrossanto território da família, pela agressividade contra as mulheres. A
ausência da paz nos lares, o desrespeito às mulheres, impede que crianças e
jovens desfrutem do direito insubstituível de ter uma família, escola do amor e
humanização.
Que o Ano da Paz comece
sempre pelo exercício eficaz de se silenciar, em comunhão com os membros da
própria família, nos escritórios, salas de aulas, nas igrejas, nas reuniões e
em outros grupos. Um minuto de silêncio pode fazer diferença no cultivo da paz
no próprio coração, tornando-o um coração da paz. Nesse caminho, cada pessoa se
qualifica para atuações mais comprometidas na mudança de cenários, valorizando
os pequenos gestos e as pequenas mudanças na construção da grande e urgente
transformação cultural, um “passo a passo” para vencer a violência. Do tempo do
Advento – preparação para o Natal deste ano – até a celebração do Natal em
2015, vamos vivenciar o Ano da Paz, oportunidade para cultivar uma densidade
interior. Essa experiência permitirá a todos, no dia a dia, em diferentes
oportunidades, com gestos e ações, contribuir para o novo advento, a paz entre
nós.
Dom Walmor Oliveira de
Azevedo
O Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte
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