José e seus planos!
Como todos nós, José possuía seus planos. Casar-se, constituir uma família,
preparar para ela um lar e pensar nos filhos que viriam.
Como pai, compreendo
com exatidão o que significa um filho. Como nos realiza! Lembro-me de que,
quando meu filho era menor, eu gostava de fazer uma brincadeira (que, aliás,
não recomendo a ninguém, pois é perigosa) com ele. Levantando-o por baixo,
erguia-o somente com uma mão e lhe dizia: “Equilibre-se, filho!” Sempre fiz
isso com grande satisfação! Olhava para ele e convidava-o a pular, jogando-se
em meus braços. Uma vez, ao repetir a cena, Eliana comentava comigo que eu mais
parecia um campeão, erguendo “meu troféu”, meu filho, minha vitória!
Se nós homens somos
assim, é natural imaginar que José quisesse gerar seus próprios filhos. No
entanto, ele deparou-se com Deus, que mudou seus planos, sua vida, seu senso de
realização. Tudo com uma clareza, às vezes, despercebida.
No Evangelho segundo
Mateus, está escrito assim:
“O anúncio a José. Eis
qual foi a origem de Jesus Cristo. Maria, sua mãe, estava prometida em
casamento a José. Ora, antes de terem coabitado, achou-se ela grávida por obra
do Espírito Santo” (Mt 1,18).
Naquele tempo, os
casamentos aconteciam assim. Maria já havia sido prometida a José e, como
noivos, assumiram aquele compromisso como um casamento. Estavam praticamente
casados. No entanto, Deus executa e propõe Seus planos. Observe, no versículo
18, que, antes de terem morado juntos, acha-se Maria grávida pela ação do
Espírito Santo. José, que era justo, perfeito em grau altíssimo em suas
virtudes, resolve repudiá-la secretamente.
Assim conta a partir do
versículo 19:
“José, seu esposo, que
era um homem justo e não queria difamá-la publicamente, resolveu repudiá-la
secretamente. Tal era o projeto que concebera, mas eis o Anjo do Senhor lhe
apareceu em sonho e lhe disse: 'José, filho de Davi, não temas receber em tua
casa Maria, tua esposa: o que foi gerado nela provém do Espírito Santo, e ela
dará à luz um filho a quem porás o nome de Jesus, pois é ele que salvará o seu
povo dos seus pecados'” (Mt 1, 19-21)
José tinha um plano!
Por que pensou em deixar Maria? Duvidou de sua pureza? Nunca! Não compreendia o
que estava acontecendo? De forma alguma, pois tinha conhecimento de que o
Messias deveria vir de uma virgem. Mas, então, por que José pensou em a deixar?
É exatamente nesse
ponto em que se nota o maior brilho de toda a humildade desse santo homem. É
verdade que muitos interpretam como se houvesse uma suspeita, um julgamento...
Nada disso! José se
enche de temor diante daquilo que era absolutamente claro e compreensível para
ele. O que, na verdade, o move a deixar Maria é sua humildade, por não se achar
digno de a acompanhar em tamanho mistério!
Grandes teólogos
josefinos explicam, apoiados por santos doutores como São Basílio, São Bernardo
e nas revelações a Santa Brígida, que José, mesmo antes de o Anjo do Senhor lhe
ter carnação e, por humildade, quis deixar Maria.
São Bernardo,
referindo-se a esse fato atesta: “Por que razão José quis abandonar Maria?” E
responde: “Ouçamos não a minha própria opinião, mas a dos Santos Padres: Foi
pela mesma razão por que São Pedro quis afastar de si o Mestre: 'Afasta-te de
mim, Senhor, pois sou um homem pecador’. Pelo mesmo motivo que o Centurião
dizia a Jesus: 'Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa!'”
José julgou-se indigno
e pecador diante de tão grande mistério; julgou-se pequeno demais para ser
companheiro de Maria. Cheio de santo temor, sofreu sozinho a solidão de sua
incapacidade de considerar-se, ainda, esposo da Mãe do Salvador.
José duvida de si
mesmo. Exclui-se! De certa forma, José pensa em retirar-se da vida de Maria
para dar lugar a Deus. Há nisso uma humildade perfeita: o sacrifício de si
mesmo!
Com a revelação do
Anjo, José decide-se pelos planos de Deus. Torna-se pai de Jesus, não porque
lhe gera a vida, mas porque dá sua própria vida para que Jesus viva.
Obediente, é mais santo
que todos. Na verdade, é a obediência a base da santidade desse homem que nos
ensina que, na verdade, nunca somos donos de nada; nada a nós pertence;
administramos, gerenciamos os dons que são unicamente de Deus. Por isso, nossa
vida é serviço. Somente isso. Nada mais.
Provavelmente, como
carpinteiro, executou grande parte dos móveis da casa, tudo bem a seu jeito.
Tudo por causa de Maria! Tudo por Jesus! Esse é outro tesouro do quanto José
nos quer ensinar: tornar-nos, cada vez mais, devotos de Maria; cada vez mais
seguidores de Jesus, cada vez dedicados aos dois.
Compreendemos, agora, o
significado dos planos de José diante das descobertas daquilo que Deus esperava
dele. Tudo tomou novo rumo. Tudo com muito sofrimento.
“Ao despertar, José fez
o que o Anjo do Senhor lhe prescrevera: acolheu, em sua casa, a sua esposa, mas
não a conheceu até quando ela deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Jesus”
(Mt 1,24-25).
Vale a pena lembrar que
José acreditou num sonho! Provavelmente, ele precisasse ser provado com
frequência para alcançar, a todo instante, os méritos de santidade necessários
ao comprimento de sua missão. Também deve ficar bem claro que, segundo o
versículo 25 acima citado, José “não a conheceu até quando ela deu à luz um
filho...”, não quer dizer, de forma alguma, que José e Maria tiveram outros
filhos depois que Jesus nasceu. Assim está escrito, de acordo com a tradução
que mais se aproxima do original, pois era o que se sabia a respeito de José,
Maria e Jesus até então.
Com tudo o que vimos,
torna-se urgente para todos nós a necessidade de submetermos a Deus nossos
planos. Não é tão fácil assim! Não podemos nos apegar às grandes realizações,
tampouco desprezar as pequenas oportunidades. Se sou fiel no pouco...
Peçamos sabedoria. São
José a tem e quer dá-la a nós.
Ricardo Sá
Missionário da
Comunidade Canção Nova
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