As três leituras
apresentam uma situação de vida na qual cada um pode, facilmente, reconhecer
seu próprio caminho. Uma surpreendente pedagogia divina acompanha e estimula o
crescimento rumo à plena libertação de toda humana ilusão.
A sede, como a fome,
constitui uma das experiências mais traumáticas da vida humana. A procura para
satisfazer suas exigências a transforma em potente motor que impele a pessoa a
uma contínua busca, até que seja satisfeita. Nesta luta para a vida, se
encontra, porém, a tentação de se apegar a tudo o que parece dar resposta
imediata ou de buscar solução no passado.
Na 1ª Leitura, diante
da aridez do deserto, Israel desconfia das promessas de Deus, se queixa de
insuportável fadiga e sonha com a água e a carne que o Egito lhe garantia,
embora em condição de escravidão. Contudo o Deus de Israel é o Deus que
constrói o futuro, não somente do passado, é o Deus da libertação, ano o Deus
da escravidão. Ordena a Moisés que vá para frente e promete que ele mesmo
estará lá, pronto a operar novas maravilhas. “Passa adiante do povo (…) Toma a
vara com que feriste o rio Nilo. Eu estarei lá, diante de ti sobre o rochedo
(…) Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber”.
Jesus estará sempre à
frente dos discípulos no caminho para Jerusalém, renovando seu compromisso com
a missão recebida do Pai, e pedindo aos discípulos para “segui-lo”, sem voltar
atrás (Lc 9,51-62). Ele está sempre diante de nós e nos convida a segui-lo.
Na 2ª Leitura, Paulo
destaca a gratuidade da iniciativa com a qual Deus estabeleceu conosco uma
relação de autentica renovação em Cristo Jesus, derramando nos nossos corações
seu Espírito, princípio de vida nova, fundamento da esperança e penhor da plena
participação em sua vida. “Por ele, só tivemos acesso, pela fé, a esta graça na
qual estamos firmes, mas ainda não ufanamos da esperança da glória de Deus. E a
esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dados”.
No Evangelho, Jesus, em
seu encontro com a mulher samaritana junto do poço de Jacó (evangelho), revela
a absoluta liberdade com a qual ele se doa a todos e a cada pessoa. Ao mesmo
tempo, com delicada pedagogia, ele faz a mulher passar da procura de solução
insuficiente às exigências mais elementares da vida, como a água, para a
atenção aos mais profundos anseios de verdade, de beleza e de vida, que estão
em seu coração, escondidos dela mesma.
O próprio Jesus se faz
mendicante e companheiro de procura. “Dá-me de beber”. O gesto de proximidade
guia a mulher a descer às profundidades do poço que se encontra nas entranhas
de sua própria experiência. “Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que
te diz: ‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva”. Ela, com
surpresa, descobre que o sedento estrangeiro está, de fato, lhe oferecendo uma
água que não se pode recolher dentro do balde e sim no coração. “Mas quem beber
da água que darei, nunca mais terá sede (…) Senhor dá-me dessa água…”.
Tal invocação recebe em
resposta, a abertura de uma perspectiva ainda mais inesperada: participar do
novo culto a Deus em Espírito e plenitude, superando toda divisão e redução aos
critérios religiosos humanos: “Mas vem a hora, e é agora, em que os que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade”.
Os discípulos são
conduzidos a percorrer um caminho de abertura e conversão aos critérios de
Deus, parecido com o caminho feito pela mulher de Samaria. Com estranhamento ao
encontrar Jesus falando com a mulher estrangeiras, porém solícitos para que o
mestre como algo depois de tanta fadiga da viagem, eles são conduzidos por
Jesus a mudar de horizonte: “Eu tenho um alimento para comer, que vós não
conheceis (…) O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e levar a termo
a sua obra.”.
Esta mudança de
horizonte constitui a passagem/ páscoa que os discípulos terão dificuldade a
cumprir em si mesmo, até que o Espírito converta o coração deles e o próprio
Jesus lhes abra a mente depois da ressurreição. Os discípulos, iluminados e
fortalecidos pelo Espírito, conseguirão dar testemunho de Jesus, somente depois
da Páscoa.
A mulher samaritana, ao
contrário, parece mais disponível a deixar-se guiar pela novidade
extraordinária encontrada em Jesus, e inicia imediatamente a dar testemunho
dele. “Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus, por causa da
palavra da mulher que testemunhava: “Ele me disse tudo o que fiz””.
Ela se torna a
“primeira evangelizadora”, antecipando, profeticamente, o alegre anúncio da
ressurreição, dado por Maria Madalena e pelas mulheres aos discípulos, na
madrugada de Páscoa.
Diocese de Limeira
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