“Por causa dele, perdi
tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido
a ele. E isto, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a justiça que
vem pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, com base na fé. É assim que
eu conheço Cristo, a força da sua Ressurreição e a comunhão com os seus sofrimentos,
tornando-me semelhante a ele na sua morte, para ver se chego até a Ressurreição
dentre os mortos. Não que eu já tenha recebido tudo isso, ou já me tenha
tornado perfeito. Mas continuo correndo para alcançá-lo, visto que eu mesmo fui
alcançado pelo Cristo Jesus. Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma
coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à
frente. Lanço-me em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do alto, Deus
me chama a receber, no Cristo Jesus” (Fl 2, 9-14).
Faz parte da vida
cristã ter clareza a respeito da meta a ser alcançada, malgrado todos os
limites e defeitos que possamos ter. Olhar para frente e enfrentar os
obstáculos, reconhecer os erros, saber pedir perdão, na confiança absoluta na
misericórdia de Deus e recomeçar sempre, pois quem para já está regredindo.
A experiência do
Profeta Isaías (6, 1-8), diante da presença de Deus, é de um homem muito
limitado. Sentia-se um homem impuro, vivendo no meio de um povo de lábios
impuros. Mesmo assim, viu o Senhor, experimentou Sua forte presença! Logo em
seguida, veio a purificação, seguida do chamado: “Um dos serafins voou para mim
segurando, com uma tenaz, uma brasa tirada do altar. Com ela tocou meus lábios
dizendo: ‘Agora que isto tocou os teus lábios tua culpa está sendo tirada, teu
pecado, perdoado.’ Ouvi, então, a voz do Senhor que dizia: ‘A quem enviarei?
Quem irá por nós?’ Respondi: ‘Aqui estou! Envia-me'”. Valha especialmente para
os mais jovens, em tempo de discernimento do futuro, deixar-se tocar e purificar
por Deus. Na diversidade das vocações, brote a resposta generosa.
O apóstolo São Paulo,
cujo apostolado abriu tantas frentes para o Evangelho de Jesus Cristo, abria o
coração com franqueza: “Eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de
apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus. É pela graça de Deus que sou o que
sou” (1 Cor 15, 9-10). Foi alcançado pela graça misericordiosa, experimentou a
presença do Ressuscitado, que lhe apareceu, saiu anunciando a grandeza da obra
do Senhor em sua vida e na vida de tantos irmãos. Deus lhe concedeu grande
lucidez para enxergar com clareza seus muitos limites e pecados, sem perder o
rumo! Podemos imaginar sua alegria ao ouvir do Senhor: “Basta-te a minha graça;
pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente” (2 Cor 12,9).
Pedro, o São Pedro
Pescador, teve o rumo de sua vida mudado (Lc 5,1-11). Pescador desconfiado, tem
que acolher palpites de Jesus Carpinteiro! “Na tua palavra, lançarei as redes”
(Lc 5,5). Àquela altura da vida, teve que passar a pescar gente! O pescador de
peixes virou pescador de homens e suas redes se tornaram sinais do grande
trabalho da Igreja, pelos mares revoltos da vida, para que entrem nelas todas
as espécies de peixes. Ao Senhor, no fim dos tempos, cabe distinguir os peixes
bons e os maus. A Pedro, só a labuta, o suor, a alegria das redes cheias,
muitas vezes a decepção pelos fracassos, a dedicação total da vida à missão.
Sabendo bem de sua história, o espanto que dele se apoderou suscitou uma
confissão pública: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador” (Lc 5,8).
E a sua história tornou-se história de vocação, para que, dali para a frente,
muitos possam avançar para águas mais profundas (Cf. Lc 5, 4) e lançar
Isaías, Paulo, Pedro,
você e eu, tantos homens e mulheres pelo mundo afora, tantos tiveram de chorar
amargamente seus próprios pecados, mas experimentaram a face mais bonita do
amor, que é a misericórdia! Deixaram para trás as vitórias e os fracassos,
olharam para a meta. Continuamente, quando participam da Santa Missa, dizem
extasiados: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos; toda a terra está
repleta de sua glória” (Is 6, 3).
Estamos às portas da
Quaresma. Olhamos para frente, e a meta tem o nome de Páscoa, Ressurreição do
Senhor. No momento, cabe-nos reconhecer com sinceridade as marcas de pecadores
que se encontram em nós e em tantos irmãos e irmãs. A Igreja não nos quer amassando
barro nas lambanças que os nossos pecados provocaram. Para os próximos dias, a
proposta é fazer um pacote, envolvido com os laços de ternura da Mãe Igreja,
passar com ele pelas Portas da Misericórdia, abertas neste Ano Santo e
entregá-lo com confiança, ungido pelas lágrimas do arrependimento, no Tribunal
do Sacramento da Penitência. Neste Tribunal, para quem sinceramente está
arrependido, só existe uma sentença: “Eu te absolvo dos teus pecados em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Dá gosto ver o sorriso de gente que se
confessa bem, com abertura de alma e confiança em Deus, que nos ama de verdade!
O resultado deste
encontro com Deus é o transbordamento da alegria, com o pedido sincero ao
Senhor: “Estendereis o vosso braço em meu auxílio e havereis de me salvar com
vossa destra. Completai em mim a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para
sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos”
(Sl 137/138, 7c-8). O cristão que caminha pelo mundo é portador da força de
salvação que o Senhor lhe oferece. Sabe que ainda não alcançou plenamente a
meta, mas olha para frente e para o alto, caminha, enche-se de coragem e
valentia. Atrás dele e junto dele, seguem-se muitos outros irmãos e irmãs,
todos marcados com o selo do Cordeiro Imolado, o Senhor Salvador e Redentor!
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