No dia
2 de Fevereiro, celebramos a festa de Nossa Senhora da Luz e também de Nossa
Senhora da Candelária e de Nossa Senhora das Candeias. Estas coincidem com a
festa da Apresentação do Senhor Jesus Cristo e a da Purificação da Santíssima
Virgem Maria, justamente por causa da íntima ligação existente entre elas. Além
dessas, no mesmo dia celebramos Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da
Boa Viagem. Estes dois títulos tem sua origem na invocação da Virgem Maria como
“Estrela do Mar”. A devoção a Senhora dos Navegantes e a da Boa Viagem
cresceram de modo especial no tempo das Cruzadas e posteriormente com as
grandes navegações dos portugueses e espanhóis pelo mundo.
Nossa
Senhora da Luz
A
princípio, pode parecer que não há ligação entre todas essas festas. No
entanto, há um tema que é recorrente em todas, com o qual podemos ligá-las
entre si. Trata-se do tema da “luz”, que aparece por diversas vezes nas
Sagradas Escrituras, especialmente no livro do profeta Isaías, no Evangelho
segundo Lucas e no Evangelho segundo São João. Neste último, o tema é tratado
de modo profundíssimo. À luz da Palavra de Deus, compreenderemos a importância
dessas festas não somente na vida da Igreja, mas também na vida de cada um de
nós. Pois, o tema da luz diz respeito não somente a Jesus Cristo e a Virgem
Maria, mas também a cada um de nós, que devemos ser “filhos da luz”.
A
origem da festa de Nossa Senhora da Luz
A
festa de Nossa Senhora da Luz, que historicamente tem início da Idade Média,
tem sua origem teológica na Palavra de Deus. Pois, a Virgem Maria deu à luz o
Filho de Deus, que foi profetizado como “luz das nações”: “Não basta que sejas
meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel;
vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins
do mundo”. No dia da Apresentação de Jesus no Templo, na qual também aconteceu
a Purificação de Nossa Senhora, o velho Simeão, inspirado pelo Espírito Santo,
reconheceu naquele Menino esta “luz das nações”, que esperava ardentemente:
“Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque
os meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os povos,
como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel”.
Na sua
vida pública, o próprio Jesus reconhece esta vocação, quando diz de si mesmo:
“Eu sou a luz do mundo; [em seguida, o divino Mestre diz também a nossa
respeito:] aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”.
Em outra ocasião, o Mestre também disse: “enquanto estou no mundo, sou a luz do
mundo”. Noutra passagem, Cristo diz dessa vocação não a respeito de si mesmo,
mas em relação a todos nós: “Vós sois a luz do mundo”. Nos Atos dos Apóstolos,
Paulo e Barnabé assumem esta vocação, quando dizem: “Pois assim nos ordenou o
Senhor: Eu te estabeleci como luz das nações, para que sejas portador de salvação
até os confins da terra”.
Ora, se
todos nós, filhos de Deus, somos chamados a ser luz para as nações, muito mais
devemos considerar Maria, a Mãe de Jesus, como Virgem da Luz, pois ela deu a
vida Àquele que é a “Luz do mundo” por excelência, o Salvador da humanidade.
Por este motivo, com muita razão veneramos a Mãe de Jesus com os títulos de
Nossa Senhora da Luz, das Candeias, da Candelária, pois todos estes nomes
remetem ao tema da “luz”, que em última instância é o próprio Cristo, tão
importante em tempos de trevas como os nossos. Dessa forma, Nossa Senhora se
apresenta a nós como luz, que nos conduz a Jesus Cristo, Àquele que é “Luz das
nações”. Pois, foi Ele quem disse: “Ninguém acende uma lâmpada e a põe em lugar
oculto ou debaixo da amassadeira, mas sobre um candeeiro, para alumiar os que
entram”. A Virgem Maria é essa luz, acesa pelo próprio Cristo na Igreja e no
mundo, para iluminar as trevas do pecado e da ignorância e nos conduzir a Ele.
A
Estrela do Mar e a devoção Nossa Senhora dos Navegantes
A
devoção a Nossa Senhora dos Navegantes tem a sua origem histórica e teológica
no título mariano “Estrela do Mar”. Até hoje, não foi possível datar com
precisão e saber quando surgiu este nome da Virgem Maria. Entretanto, o hino
litúrgico latino “Ave maris stella”, que traduz-se por “Ave, do mar estrela”,
foi composto por volta do século VII, o que atesta a antiguidade da devoção a
Virgem Santíssima sob este título. Há registros históricos de que esta devoção
remonta pelo menos à Idade Média, na época das Cruzadas.
Naquele
tempo, os cruzados atravessavam o mar Mediterrâneo, rumo à Palestina, para
proteger os peregrinos, que se dirigiam aos lugares santos, dos bárbaros, que
frequentemente atacavam os cristãos, roubavam seus pertences e não poucas vezes
os matavam. Tendo em vista os perigos que enfrentariam na travessia do Mar,
estes bravos homens invocavam a Virgem Maria pelo nome de Estrela do Mar. Pois,
sob esse título, Nossa Senhora já era conhecida como aquela que protege os
navegantes, mostrando-lhes sempre a melhor rota e um porto seguro para a sua
chegada. Antes das travessias, os navegantes sempre participavam da Santa
Missa, na qual pediam proteção de Nossa Senhora dos Navegantes e a graça de
enfrentar com coragem os perigos do mar, as tempestades, os ataques dos
piratas.
Com o
início das grandes navegações, especialmente por parte dos portugueses e
espanhóis, e “a descoberta de novas rotas comerciais e de novas terras pelo
mundo, a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes cresceu ainda mais e chegou à
terras cada vez mais longínquas. Sob este título, a Santa Virgem é a padroeira
dos navegantes e dos viajantes, e é também chamada de Nossa Senhora da Boa
Viagem”. Com o descobrimento do Brasil, em 22 de Abril de 1500, chegou até nós
a devoção a Nossa Senhora dos Navegantes e a Nossa Senhora da Boa Viagem.
“Muitas são as comunidades paroquiais, e até cidades, que tem Nossa Senhora dos
Navegantes como padroeira, por todo o Brasil. […] Especialmente nas cidade litorâneas,
que têm muitos pescadores e se usa muito o transporte marítimo, a devoção a
Virgem Maria sob este título é muito popular, atraindo milhares de peregrinos
em suas festas”. Todavia, a devoção de Nossa Senhora da Boa Viagem, que tem sua
raiz na devoção a Nossa Senhora dos Navegantes, não se limitou às cidades
litorâneas, mas chegou à lugares distantes do mar, como em Belo Horizonte (MG),
onde ela é a Padroeira da Cidade.
Nossa
Senhora: Mãe da Luz do mundo
O “Pai
das misericórdias” quis a livre aceitação de Nossa Senhora do mistério da
Encarnação, para que, do mesmo modo que uma mulher contribuiu para a morte,
outra mulher contribuísse para a vida; da mesma forma que pela Virgem Eva
entraram as trevas na Terra, pela Virgem Maria entrasse Jesus Cristo, a Luz do
mundo. “É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do
mundo a própria Vida, que tudo renova”. Por isso, podemos chamar Maria de Mãe
da Luz, de Jesus Cristo, que veio iluminar as nossas trevas e as trevas do
mundo.
Como
vimos anteriormente, esta vocação de ser luz para o mundo não se limita a Jesus
Cristo e a Virgem Maria, mas diz respeito a todos nós cristãos. Se somos
chamados, à semelhança de seu Filho, a ser luz do mundo, consequentemente temos
que reconhecer a maternidade de Nossa Senhora como um vínculo necessário. Pois,
a Mãe de Deus gerou Jesus Cristo, a luz do mundo, a luz das nações, e deve
gerar-nos também, se queremos ser “filhos da luz”.
Como
filhos de Maria, filhos da luz, temos uma alta vocação, à qual somos chamados a
corresponder com fidelidade: “Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do
dia. Não somos da noite nem das trevas. Não durmamos, pois, como os demais. Mas
vigiemos e sejamos sóbrios. Porque os que dormem, dormem de noite; e os que se
embriagam, embriagam-se de noite. Nós, ao contrário, que somos do dia, sejamos
sóbrios. Tomemos por couraça a fé e a caridade, e por capacete a esperança da
salvação. Porquanto não nos destinou Deus para a ira, mas para alcançar a
salvação por nosso Senhor Jesus Cristo”.
Nossa
Senhora: luz que nos conduz à verdadeira Luz
Assim,
ao celebrar as festas de Nossa Senhora da Luz, da Candelária, das Candeias, e
também a da Apresentação do Senhor Jesus Cristo e a da Purificação da Virgem
Maria, bem como de Nossa Senhora dos Navegantes e da Boa Viagem, temos diante
de nós o mistério desta Luz esplêndida, que é Jesus Cristo. Mas, para chegar
até esta Luz, para penetrar neste divino mistério, precisamos de uma luz para
nos guiar no caminho, como os magos do Oriente, que foram guiados pela estrela
até Belém, onde encontraram o Menino Luz. De modo semelhante, a Virgem Maria é
a estrela que nos guia, que ilumina os nossos caminhos, para encontrarmos seu
Filho Jesus Cristo, a Luz das nações.
Encontrar
Jesus Cristo, a Luz do mundo, nos coloca diante de nossa própria vocação. Nós
também precisamos ser luz para o mundo, como Ele próprio nos diz, e nisso contamos
com Aquela que gerou a Luz do mundo. A Mãe da Igreja gera esta Luz, que é Jesus
Cristo, em nós e nos gera n’Ele, em seu Corpo Místico, que é a Igreja. Dessa
forma, somos gerados para a sublime vocação, que é ser luz para as nações.
Concretamente,
nós leigos precisamos ser luz no “mundo vasto e complicado da política, da
realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das
artes, da vida internacional, dos ‘mass media‘ [meios de comunicação de massa]
e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam o amor, a
família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e
o sofrimento”. Dessa forma, enquanto Igreja peregrina, construiremos já neste
mundo o Reino de Deus e, em consequência, levaremos muitos à salvação eterna em
Jesus Cristo.
Que a
Santíssima Virgem nos ajude responder generosa e amorosamente a esta alta
vocação de ser luz das nações. Nossa Senhora da Luz, rogai por nós!
Natalino Ueda
Nenhum comentário:
Postar um comentário