Jesus, pleno
do Espírito Santo pelo batismo (3,21-22), era conduzido pelo Espírito através
do deserto durante quarenta dias, e tentado pelo diabo. Assim, ele revive de
modo especial o êxodo do povo pelo deserto em busca da terra prometida (Dt
8,2). Como Filho de Deus e Servo, Jesus enfrentou dificuldades que impediam a
realização do projeto de Deus. Diante da realidade da fome, resiste à tentação
de utilizar seu poder divino em vantagem própria. Sua atuação, alimentada pela
palavra do Pai - Não só de pão vive o ser humano (4,4; Dt 8,3) - conduz à
partilha solidária. Jesus rejeita toda forma de tentação que desvia do projeto de amor do Pai, para o
caminho do poder e riqueza dos reinos deste mundo. Seu reinado a serviço da
justiça, paz e fraternidade ensina a adorar e servir somente a Deus (4,8; Dt
6,13). Jerusalém é o lugar onde Jesus completará o êxodo (9,31) através da
Páscoa, da vitória definitiva sobre o mal e a morte. Não porás à prova o Senhor
teu Deus (4,12; Dt 6,16), diz Jesus, ao vencer o poder maléfico destruidor da
vida, como em 11,14-23. Na paixão, o poder das trevas (22,3.39-53) será vencido
pelo amor oblativo de Cristo (Jo 13,1), que libertará todos os cativos (At
10,38).
A leitura de
Deuteronômio mostra a ação salvadora de Deus na história, especialmente na
libertação do Egito, no caminho pelo deserto, no dom da terra prometida. O povo
oferece as primícias como sinal de reconhecimento, renovando sua fé e
compromisso.
O salmista
busca refúgio no Senhor, confiante na sua fidelidade: Eu o defenderei, pois
você conhece o meu nome.
A leitura aos
Romanos convida a testemunhar a fé como adesão total a Deus que veio ao nosso
encontro em Cristo, ressuscitado dentre os mortos e Senhor de todos (cf. Fl
2,11).
“Jesus dá prova de entrar verdadeiramente no
deserto da existência humana” (Diretório Homilético, 61). Tentado como nós, ele
permanece fiel ao projeto do Pai. O caminho de seguimento exige vigilância
contínua, para discernir a voz de Deus em meio às vozes que apontam para
direções contrárias ao caminho proposto pelo evangelho.
Neste
primeiro domingo da quaresma, fazendo memória da vitória do Cristo sobre as
provações, sentimo-nos conduzidos pelo Espírito ao deserto e acolhemos com
abertura de coração a Palavra que revela a nós o rosto de Deus, nossa verdade
mais íntima, nossa pobreza e instabilidade. Que o próprio Cristo, com o pão da
sua Palavra e da ceia, venha em socorro de nossa fraqueza.
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