O tempo Quaresmal é
propício para a contemplação dos sofrimentos de Jesus Cristo, que se tornam
mais frutuosa na presença materna da Virgem Maria.
Nesta Quaresma, nós que
somos filhos e consagrados da Santíssima Virgem Maria, podemos viver esse tempo
e contemplar os santos mistérios com ela, que permaneceu junto com seu Filho
Jesus Cristo até a morte na cruz. Neste tempo fecundo que é a Quaresma, nos
preparemos para morrer com Jesus Cristo e ressuscitar com Ele para uma vida
nova. Nesse caminho de conversão, Nossa Senhora quer estar conosco e nos ajudar
a preparar-nos para adentrar espiritualmente no mistério pascal de Cristo, na
Sua paixão, morte e ressurreição.
O tempo Quaresmal é
propício para a contemplação dos sofrimentos de Jesus Cristo, que se tornam
mais frutuosa na presença materna da Virgem Maria.
A Virgem Maria se
encontra com seu Filho Jesus à caminho do Calvário
São José Maria Escrivá
nos ensina que “muitas conversões, muitas decisões de entrega ao serviço de
Deus, foram precedidas de um encontro com Maria. Nossa Senhora fomentou os
desejos de busca, ativou maternalmente a inquietação da alma, fez aspirar a uma
transformação, a uma vida nova. E assim, o fazei o que Ele vos disser converteu-se
numa realidade de amorosa entrega, na vocação cristã que ilumina desde então
toda a nossa vida”. Façamos essa experiência do encontro com a Santíssima
Virgem, para que nossos corações se convertam cada vez mais a nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo e vivamos com Ele e por Ele uma vida nova.
A Virgem Maria como
modelo de contemplação
São João Paulo II
afirma que “a contemplação de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável”. O
rosto do Filho de Deus pertence a sua Mãe Santíssima de modo muito especial.
Pois, foi no seu ventre imaculado que Ele, em sua carne humana, foi gerado pelo
Espírito Santo. Jesus Cristo recebeu da Virgem Maria uma semelhança humana que
evidencia uma intimidade espiritual certamente ainda maior. “À contemplação do
rosto de Cristo, ninguém se dedicou com a mesma assiduidade de Maria. Os olhos
do seu coração concentram-se de algum modo sobre Ele já na Anunciação, quando O
concebe por obra do Espírito Santo; nos meses seguintes, começa a sentir sua
presença e a pressagiar os contornos” da sua face. Quando finalmente deu à luz
em Belém, os seus olhos de carne também puderam fixar-se com ternura no rosto
do Filho. Neste momento de grande alegria, podemos imaginar com que amor,
devoção e reverência Nossa Senhora envolveu o Menino Jesus em faixas e
reclinou-O numa manjedoura.
Desde então, o olhar
materno da Virgem de Nazaré, cheio sempre de reverente estupor, não se separará
mais do Filho de Deus. Algumas vezes será um olhar questionador, como aconteceu
na perda de Jesus no templo: “Filho, porque nos fizeste isto?” Algumas vezes, o
seu olhar materno será um olhar penetrante, capaz de ler no íntimo de seu
divino Filho, a ponto de perceber os seus sentimentos mais escondidos e prever
suas decisões, como na festa de casamento em Caná. Outras vezes, será um olhar
doloroso, principalmente aos pés da cruz, onde haverá ainda, de certa forma, o
olhar da parturiente. Pois, no Calvário, a Virgem Maria não se limitará a
compartilhar a paixão e a morte do seu Filho Unigênito, mas acolherá o novo
filho, que somos todos e cada um de nós, entregue a ela na pessoa do Discípulo
amado. Na manhã da Páscoa, será um olhar radioso pela alegria da ressurreição
e, enfim, um olhar ardoroso pela efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes.
A meditação dos
mistérios dolorosos com Nossa Senhora
Se todos os dias somos
chamados a meditar com profundidade os mistérios do Rosário da Virgem Maria,
muito mais o devemos fazer neste tempo favorável de conversão e encontro com
Deus que é a Quaresma. Todos os mistérios podem e devem ser rezados nesse tempo.
No entanto, rezar, meditar e contemplar os mistérios dolorosos do Rosário da
Virgem Maria se torna ainda mais significativo o tempo Quaresmal. Pois, nos
mistérios da dor contemplamos os mistérios da paixão e morte do Senhor e na
Quaresma nos preparamos para o memorial destes na Semana Santa.
Os Evangelhos dão
grande importância aos mistérios da dor de Jesus Cristo. Com base na antiga
tradição, no Rosário contemplamos alguns destes mistérios da paixão do Senhor,
fixamos neles o olhar do coração e os revivemos. “O itinerário meditativo [dos
mistérios dolorosos] abre-se com o Getsemani, onde Cristo vive um momento de
particular angústia perante a vontade do Pai, contra a qual a debilidade da
carne seria tentada a revoltar-se”. No jardim das Oliveiras, Cristo coloca-Se
no lugar de todas as tentações da humanidade de todos os tempos, e diante de
todos os seus pecados, para dizer ao Pai: “Não se faça a minha vontade, mas a
Tua”. Este seu “sim” a Deus muda o “não” dos nossos primeiros pais no jardim do
Éden. “E o quanto Lhe deverá custar esta adesão à vontade do Pai, emerge dos
mistérios seguintes, nos quais, com a flagelação, a coroação de espinhos, a
subida ao Calvário, a morte na cruz, Ele é lançado no maior desprezo: Ecce
homo!”
Neste desprezo,
revela-se não somente o amor Deus para com toda a humanidade, mas também o
sentido da vida do homem. “Ecce homo [eis o Homem]: quem quiser conhecer o
homem, deve saber reconhecer o seu sentido, a sua raiz e o seu cumprimento em
Cristo, Deus que Se rebaixa por amor ‘até à morte, e morte de cruz’”. Dessa
forma, os mistérios dolorosos nos conduz “a reviver a morte de Jesus Cristo,
pondo-nos aos pés da cruz junto de Maria, para com Ela penetrar no abismo do
amor de Deus pelo homem e sentir toda a sua força regeneradora”.
O Rosário nos coloca
diante destes mistérios, oferecendo-nos o “segredo” para nos abrir mais
facilmente ao conhecimento profundo e empenhado de Cristo. O Rosário é o
caminho de Maria. Nele, reconhecemos o seu exemplo de mulher de fé, de silêncio
e de escuta. Ao mesmo tempo, o Rosário é o caminho de uma “devoção mariana
animada pela certeza da relação indivisível que liga Cristo à sua Mãe
Santíssima: os mistérios de Cristo são também, de certo modo, os mistérios da
Mãe, mesmo quando não está diretamente envolvida, pelo fato de Ela viver d’Ele
e para Ele”. Dessa forma, podemos dizer que ao meditar os mistérios de Cristo,
meditamos também, ainda que indiretamente, os mistérios de Maria.
A oração da Via-sacra
com Nossa Senhora das Dores
A piedade cristã, desde
tempos imemoriais, especialmente na Quaresma, “deteve-se em cada um dos
momentos da Paixão, intuindo que aqui está o ápice da revelação do amor e a
fonte da nossa salvação”, através do exercício da Via-sacra. Na contemplação
deste acontecimento histórico, no qual Jesus Cristo sofreu dores indizíveis,
estava presente sua Mãe, a quem a piedade católica aplica as palavras do
profeta Jeremias: “Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor
semelhante à minha dor”. A este respeito, São João Crisóstomo dizia que: “Quem
estivesse no Calvário veria dois altares, onde se consumavam dois grandes
sacrifícios: um era o corpo de Jesus, o outro o coração de Maria”.
No livro “A Paixão”,
ditado por Jesus Cristo à confidente estigmatizada Catalina Rivas, o próprio
Senhor nos dá a conhecer, na contemplação do Seu encontro com sua Mãe na quarta
estação da Via-sacra, a íntima união do Seu Coração com o Coração de Maria:
“Segui Comigo uns momentos e, a poucos passos, ver-Me-eis na presença de Minha
Mãe Santíssima que, com o Coração transpassado pela dor, sai ao Meu encontro
com dois objetivos: para recobrar nova força de sofrer à vista de Seu Deus e
para dar a Seu Filho, com Sua atitude heroica, alento para continuar a obra da
Redenção.
Considerai o martírio
destes dois Corações. Quem mais ama Minha Mãe é Seu Filho. […] Não pode Me dar
nenhum alívio e sabe que o fato de vê-la aumentará ainda mais Meus sofrimentos;
mas também aumentará Minha força para cumprir a vontade do Pai. Quem mais amo
na terra é Minha Mãe; e não apenas não a posso consolar, como o estado lamentável
em que Me vê proporciona a Seu coração um sofrimento semelhante ao Meu. […] A
morte que sofro em Meu Corpo, recebe-a Minha Mãe em Seu Coração! […] Como se
cravam em Mim Seus olhos e os Meus se cravam também n’Ela! Não pronunciamos uma
só palavra, mas quantas coisas dizem Nossos Corações neste doloroso olhar”.
Na contemplação da
segunda queda de Jesus, na sétima estação, mais uma vez Ele se dirige a nós:
“Filhos Meus, que seguem Meus passos, não solteis vossa cruz por mais pesada
que esta vos pareça. Fazei isto por Mim, pois carregando vossa cruz
ajudar-Me-eis a carregar a Minha e, pelo duro caminho, encontrareis Minha Mãe e
as almas santas que irão vos dando ânimo e alívio”. Através destas palavras do
Senhor, compreendemos que os nossos sofrimentos, a cruz de Cristo em nossas
vidas, nos concedem a graça de nos unir aos Seus sofrimentos e de ajudá-lo a
carregar a Sua cruz. Além disso, ao carregar a nossa cruz, nos encontraremos
com sua Mãe Santíssima, com quem Ele mesmo se encontrou a caminho do Calvário,
e também com aquelas almas caridosas que nos darão ânimo e alívio nos
sofrimentos.
A íntima união do
Coração de Jesus com o Coração de Maria
Nesta Quaresma,
contemplemos o rosto de Jesus Cristo tendo como nosso modelo a Virgem Maria.
Durante este tempo, aprendamos com a Mãe de Deus a contemplação dos mistérios
divinos, para que nos preparemos bem para participar da Grande Semana, na qual
viveremos o memorial da Paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Entretanto, a Virgem Maria não é somente modelo de contemplação, mas presença
materna em nossas vidas, especialmente nos momentos de sofrimento, como esteve
presente na vida de seu Filho, de modo particular em seus maiores sofrimentos.
Assim, juntos com Nossa
Senhora, contemplemos os mistérios do Santo Rosário, especialmente os mistérios
dolorosos, que nos colocam não somente diante dos sofrimentos de Cristo, mas
também das dores de sua Mãe Santíssima. Pois, como dizia São Boaventura, doutor
da Igreja, a respeito da presença de Nossa Senhora aos pés da cruz de Jesus, no
Calvário “só havia um altar, a cruz, onde a Mãe era sacrificada com o Cordeiro
Divino”. Por isso, contemplar os mistérios dolorosos de Cristo significa também
contemplar o mistério da espada de dor que transpassou o coração de sua Mãe.
Na oração da Via-sacra,
também devemos ter a consciência dessa íntima união entre o Sacratíssimo
Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria. Dessa forma, conheceremos
muito mais os verdadeiros sentimentos de Cristo, não somente os seus
sofrimentos físicos, pela flagelação, coroação de espinhos e crucifixão, e os
causados por nossos pecados e os de toda a humanidade, mas também os causados
pelos sofrimentos de sua Mãe Santíssima. Conheceremos melhor também os
sofrimentos da Mãe de Deus, que por sua intimidade com o Filho, sofreu muito
mais do que qualquer outra mãe, não somente por que viu os sofrimentos de Seu
Filho, mas principalmente por que sabia o quanto Ele estava sofrendo.
Portanto, depois de
conhecer a íntima união do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de
Maria, sabemos que quanto mais nos aproximamos da Mãe, mais nos aproximamos do
Filho. Sendo assim, nesta Quaresma, nos aproximemos cada vez mais da Mãe de
Deus, para que nosso coração esteja mais próximo de Jesus Cristo. Contemplemos
os mistérios da paixão do Homem das dores, juntamente com a Mulher das dores,
como fez o Discípulo amado, para que a entrega desses Corações intimamente unidos
num só sacrifício produzam os frutos de conversão que o Pai quer realizar em
nós, pela força do Espírito Santo. Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!
Blog da Canção Nova
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