A conversa se trava entre Jesus e seus discípulos a caminho. E
discípulos, somos também nós agora, aqui reunidos, fazendo um caminho de vida
cristã com Jesus.
Neste caminho, Jesus faz uma espécie de sondagem de opinião
sobre sua pessoa e sua missão. Informam-lhe que as opiniões entre o povo se
dividem. Acham que Jesus é algum personagem histórico e famoso que reapareceu:
talvez João Batista, ou Elias, ou outro profeta. “E vocês? O que vocês dizem?”,
pergunta Jesus. Pedro não titubeia: “Com certeza, o Messias”. Jesus, por sua
vez, proíbe “severamente” que fiquem espalhando isso por aí afora. Isso, o quê?
Que Jesus é o Messias. Mas que Messias? Certamente o falso “messias” que Pedro
ainda tinha na cabeça.
A partir das críticas e resistências que vinham já sofrendo por
parte das autoridades religiosas judaicas, Jesus trata logo de informar os seus
discípulos sobre o seu destino e, consequentemente, em que consiste de fato o
seu messianismo: “E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem
sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser
morto e, depois de três dias ressuscitar” (Mc 8,31).
Pedro, ainda com a ideia triunfalista de um messianismo
poderoso, reage na hora, chama Jesus à parte e começa a censurá-lo (cf. v.32).
Jesus, por sua vez, responde com palavras duras: “Vai para trás de mim,
satanás! Não tens em mente as coisas de Deus, e sim as dos homens”. Não se
trata de um ataque pessoal a Pedro com certeza, mas ao padrão triunfalista de
falso messianismo alojado no seu corpo. Pedro tem que desconstruir essa
perigosa teologia” messiânica que tenta obstaculizar o caminho do Mestre, o
caminho do sofrimento, a rejeição, da cruz, do total desapego e,
consequentemente, da vitória da vida.
Não é Jesus que tem de seguir o pensamento de Pedro, mas Pedro
que deve seguir o exemplo do Mestre! Por isso Jesus completa: “Se alguém quer
vir após mim [ o caminho é este! ], renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por
causa de mim e do Evangelho, a salvará” (v.34-35). Esse é o caminho da salvação
messiânica: desapegar-se de tudo, até da vida!
Interessante que tal destino do Messias Servo Jesus já fora
instruído e anunciado pelo profeta Isaías, a cerca de 500 anos antes, como
vimos na primeira leitura. Ele, o Servo, confiando somente em Deus seu
Auxiliador e, por isso, desapegado de tudo, não se deixa abater, não desanima
com as terríveis torturas sobre seu corpo. Em Deus ele se firma (cf. Is
50,5-9a), certo de que com Ele vai superar toda humilhação. Por isso, hoje
Jesus vem e repte conosco o Salmo 116: “Caminharei na presença do Senhor na
terra dos vivos” (v.9)
Desapegar-se de tudo, até da vida, operando em favor da saudável
qualidade de vida para todos: Isso que é Fé messiânica cristã! Por isso que
hoje, pela carta de São Tiago, na segunda leitura, Deus nos lembra
oportunamente que a fé, se não se traduz em obras, por si só está morta (cf. Tg
2,14-18).
Diocese de Limeira
Nenhum comentário:
Postar um comentário