24º Domingo do Tempo Comum

A conversa se trava entre Jesus e seus discípulos a caminho. E discípulos, somos também nós agora, aqui reunidos, fazendo um caminho de vida cristã com Jesus.

Neste caminho, Jesus faz uma espécie de sondagem de opinião sobre sua pessoa e sua missão. Informam-lhe que as opiniões entre o povo se dividem. Acham que Jesus é algum personagem histórico e famoso que reapareceu: talvez João Batista, ou Elias, ou outro profeta. “E vocês? O que vocês dizem?”, pergunta Jesus. Pedro não titubeia: “Com certeza, o Messias”. Jesus, por sua vez, proíbe “severamente” que fiquem espalhando isso por aí afora. Isso, o quê? Que Jesus é o Messias. Mas que Messias? Certamente o falso “messias” que Pedro ainda tinha na cabeça.

A partir das críticas e resistências que vinham já sofrendo por parte das autoridades religiosas judaicas, Jesus trata logo de informar os seus discípulos sobre o seu destino e, consequentemente, em que consiste de fato o seu messianismo: “E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias ressuscitar” (Mc 8,31).

Pedro, ainda com a ideia triunfalista de um messianismo poderoso, reage na hora, chama Jesus à parte e começa a censurá-lo (cf. v.32). Jesus, por sua vez, responde com palavras duras: “Vai para trás de mim, satanás! Não tens em mente as coisas de Deus, e sim as dos homens”. Não se trata de um ataque pessoal a Pedro com certeza, mas ao padrão triunfalista de falso messianismo alojado no seu corpo. Pedro tem que desconstruir essa perigosa teologia” messiânica que tenta obstaculizar o caminho do Mestre, o caminho do sofrimento, a rejeição, da cruz, do total desapego e, consequentemente, da vitória da vida.

Não é Jesus que tem de seguir o pensamento de Pedro, mas Pedro que deve seguir o exemplo do Mestre! Por isso Jesus completa: “Se alguém quer vir após mim [ o caminho é este! ], renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (v.34-35). Esse é o caminho da salvação messiânica: desapegar-se de tudo, até da vida!

Interessante que tal destino do Messias Servo Jesus já fora instruído e anunciado pelo profeta Isaías, a cerca de 500 anos antes, como vimos na primeira leitura. Ele, o Servo, confiando somente em Deus seu Auxiliador e, por isso, desapegado de tudo, não se deixa abater, não desanima com as terríveis torturas sobre seu corpo. Em Deus ele se firma (cf. Is 50,5-9a), certo de que com Ele vai superar toda humilhação. Por isso, hoje Jesus vem e repte conosco o Salmo 116: “Caminharei na presença do Senhor na terra dos vivos” (v.9)

Desapegar-se de tudo, até da vida, operando em favor da saudável qualidade de vida para todos: Isso que é Fé messiânica cristã! Por isso que hoje, pela carta de São Tiago, na segunda leitura, Deus nos lembra oportunamente que a fé, se não se traduz em obras, por si só está morta (cf. Tg 2,14-18).

Diocese de Limeira

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