Bem nos inícios do cristianismo, o domingo era o grande dia da Páscoa. Esta era celebrada toda semana, quando chegava o domingo. Não existia a celebração organizada de uma Páscoa anual.
Bem cedo, no entanto, inspirando-se no costume religioso judaico, os cristãos começaram a realizar a celebração de um domingo especial, um grande domingo, isto é, uma especial celebração anual da Páscoa.
Foram organizando esta celebração primeiro por meio de uma vigília noturna. A saber: as comunidades passavam a noite toda reunidas. Nesta reunião, à luz do mistério pascal, primeiro liam os textos bíblicos relativos à história da salvação, entremeando-os com cantos de salmos e hinos bíblicos. Depois vinha a celebração da Ceia pascal.
Portanto, dois eram inicialmente os componentes essenciais desta vigília pascal: a Palavra e a celebração da Ceia. Mas logo aparece um outro componente: a celebração do batismo.
Como se vê, na altura do século III, nesta vigília, as comunidades cristãs celebravam a Páscoa de Jesus, primeiro, por maio da Palavra proclamada e ouvida, em seguida, por meio da ação ritual e profundamente pascal de batizar, e enfim, vinha a celebração da Ceia pascal propriamente dita, de todos os membros da comunidade, incluindo os neo-batizados.
Toda esta vigília era preparada por um jejum durante três dias. Quem fazia o jejum? Os que se preparavam para o batismo, bem como os cristãos já batizados. Começava na quinta-feira à noite.
Mas, á medida que o tempo vai passando, durante este jejum de três dias os cristãos tendem a valorizar sempre mais os acontecimentos “histórico” dos últimos dias da vida terrena de Jesus, narrados pelos Evangelhos, tais como: a ultima ceia, o lava-pés, a traição de Judas, a condenação, o sofrimento, a cruz, a morte. Inclusive com o acréscimo de celebrações em torno de tais fatos! Resultado: a mente dos cristãos vai se distanciando do sentido profundo da vigília pascal. Pois o interesse se concentra mais em fatos da vida terrena de Jesus do que na Páscoa em si, como passagem da morte para a vida, que é o centro e o núcleo da nossa fé.
Resultado: a vigília pascal vai se esvaziando. E com isso o povo também não tem muito interesse em passar a noite pascal ouvindo a história da salvação. Importante mesmo passa a ser os dramas da Sexta-feira santa, da paixão de Jesus.
Para resolver este grave problema da Igreja se esvaziando da celebração da páscoa propriamente dita, resolveram então antecipar a vigília para as 13h ou 14h do sábado santo. Depois, no século XII, anteciparam-na ainda mais, para as 11h ou 12h. no século XVI, com o papa Pio V, a vigília pascal passa a ser antecipada ainda mais, para as 9h da manhã! E tudo isso com terríveis incongruências, pois em plena luz do dia de sábado santo, o diácono canta diante do Círio aceso: “Ó noite santa esta, iluminada pela luz da ressurreição!”.
E mais, celebrando absurdamente a vigília pascal em plena luz do dia no sábado santo, que é o do dia do silencio, o dia da sepultura, o dia de Jesus na mansão dos mortos fazendo uma visita de esperança de ressurreição a todos os falecidos, de repente a Igreja irrompe com o solene canto de “Aleluia!”... Por isso, erroneamente, passaram a chamar o sábado santo de “sábado de aleluia”.
Em 1951, o papa Pio XII mandou celebrar a vigilia pascal de novo como era nas origens, a saber, na noite do sábado santo para o domingo da páscoa. A reforma do concilio Vaticano II a confirmou. Com isso se resgatou o valor e sentido supremo da Páscoa da ressurreição. Mas tem gente que ainda continua chamando equivocadamente o sábado santo de “sábado de aleluia”!
Retirado do Livro Liturgia em Mutirão – Ed. CNBB
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