Num dos capítulos de "Nas Encruzilhadas do Amor", Pe. Caffarel fala das atualidades do coração. Afirma que para a estabilidade do casal é de máxima importância o conhecimento mútuo. Mas um conhecimento atual, ou melhor, uma redescoberta renovada a cada dia. O motivo é uma realidade que não podemos esquecer: o amor não é conquista definitiva, nem é imutável a pessoa amada. O amor é decisão, escolha de cada instante, não por ele, que por si seria definitivo, mas por nós, que somos tão volúveis. A pessoa amada hoje não é exatamente o que era ontem; tem de se revelar hoje de novo, tem de ser reconhecida e aceita hoje, na sua realidade atual. Não é real o amor preso a sombras do passado e cego para o brilho do agora; nem é possível o amor, a menos que se continue olhando com os olhos do coração.
É preciso que ambos continuem a se revelar mutuamente, sem nunca dar por garantido que o outro já sabe tudo. Não sabe. Sabe como você era antes. Revele agora sua atualidade, use linguagem e códigos que o outro possa captar. Não seja esfinge envolta em enigmas. É preciso que ambos estejam sempre atentos um ao outro, prontos a perceber as menores variações e os indícios mais leves. A linguagem do amor e da revelação pessoal não é estática. Como a linguagem comum, está sempre a mudar, a inventar novas palavras, porque as antigas já não parecem adequadas.
E não se esqueça: se parece que o outro mudou tanto, pare um pouco e examine se quem mudou não foi você, se não é o seu amor que anda meio reticente, se não é o seu egoísmo que anda meio solto, se não está na hora de mudar as lentes que condicionam seu olhar, se não está na hora de voltar ao encantamento de antigamente. Encantamento que não é ilusão, mas aguçamento do olhar, como o que leva o fotógrafo a perceber detalhes que para outros não dizem nada.
Encantamento que não é ilusão, mas percepção alegre da realidade, acolhida agradecida do que o outro pode realmente dar, sem sonhos de uma perfeição impossível, tanto para ele como para você. Preste atenção, veja bem o que lhe está sendo oferecido generosamente: alegre-se com o dom, apenas porque é dom; não espere no verão os frutos do outono, nem no inverno as flores da primavera. Tanto mais que, se pensamos bem, os dons que do amor recebemos são sempre muito maiores e muito melhores do que merecemos.
Não é possível o amor, a menos que continue olhando com os olhos do coração. Com os olhos do coração, curiosos sempre como os olhos de namorados.
Pe. Flávio Cavalca de Castro, cssr
SCE da Super-Região
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