O trabalho dignifica o homem

“Trabalharás, que Eu [Deus] te darei”. Cresci ouvindo esta frase que minha avó Maria jurava, de pés juntos, estar escrita na Bíblia. Era o argumento que ela usava para nos convencer de que era necessário trabalhar e que isso nos faria bem. Em contrapartida, fui percebendo que muita gente trabalhava duro e não conseguia conquistar o que almejava. Via trabalhadores aderirem a paralisações por melhores condições de trabalho e salários mais altos, notava também desemprego, corrupção e até formas de escravidão que não correspondiam aos benefícios do trabalho que minha avó ensinava.

Eu acreditava, realmente, que “trabalharás, que Eu [Deus] te darei” era um ensinamento bíblico. Procurei, muitas vezes, mas nunca encontrei esse registro nas Sagradas Escrituras. Até entender que, apesar de não estar na Bíblia, continha um importante ensinamento sobre a dignidade que o trabalho oferece às pessoas. O suor de cada dia é garantia também do pão cotidiano, afinal “Deus ajuda a quem cedo madruga”, como nos ensina a sabedoria popular. O trabalho, naturalmente, gera cansaço. Talvez, por esse motivo, as primeiras páginas da Bíblia o consideram como castigo dos céus. Já o Cristianismo entende que o trabalho dignifica o homem, porque lhe permite colaborar na continuação da criação divina.

Em meio à agitação do dia a dia e em busca de crescimento intelectual e econômico, uma mensagem de São João Paulo II, escrita em 1981, alerta sobre um fato importante: “O trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho”. Nesse sentido, recordo-me, todos os dias, das palavras do bispo italiano Dom Pierfranco Pastore antes de começar a rotina diária: “Bom trabalho, mas não demais”, alertava de maneira descontraída sobre o risco do ativismo. É que muitas pessoas podem realizar a própria profissão de maneira automática, sem colocar, em primeiro lugar, o amor, a dedicação e – o mais importante – as pessoas. É preciso tomar cuidado com o imediatismo e com a correria para não se tornar uma pessoa centralizadora.

Gosto de uma dica do professor Felipe Aquino. “Se não estamos dando conta dos trabalhos, é porque estamos realizando coisas que não nos competem, ou seja, estamos nos tornando centralizadores”. Daí, a necessidade de nos avaliarmos continuamente, acolhermos sugestões de quem é próximo a nós e exercitarmos a capacidade de ouvir. Além disso, podemos realizar nossas atividades em contínuo diálogo com Deus, numa atitude de discípulos que aprendem com o Mestre. Jesus veio para servir, não para ser servido (cf. Mc 10, 45), porque aprendeu com o Pai a trabalhar sempre (cf. Jo 5,17).

No Dia do Trabalhador, renovemos nossa esperança e nosso papel de colaboradores do desenvolvimento social. A comemoração do feriado do trabalhador recorda a manifestação de operários de Chicago, nos Estados Unidos, em 1886. Pessoas chegaram a ser mortas pelo simples fato de reivindicar a redução da jornada de trabalho para oito horas. Em 1955, o Papa Pio XII instituiu a Festa de São José Operário para dar sentido cristão à data e um protetor aos trabalhadores.

Que o feriado de Primeiro de Maio não represente apenas um dia a menos de estresse em nosso calendário, mas uma data para que nos recordemos de São José Operário, pai adotivo de Cristo que, “na carpintaria em Nazaré, dividia com Jesus compromissos, esforços, satisfações e dificuldades do dia a dia”, conforme nos ensina o Papa Francisco.

Rodrigo Santos

Missionário da Comunidade Canção Nova

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