Eu nasci numa família
de nove irmãos. Perto da minha casa, morava um tio, que tinha quinze filhos. Um
pouco mais longe, morava o senhor Guatura com seus 24 filhos e mais um adotivo.
Era assim há uns cinquenta anos.
E que festa era!
Faltava bola para jogarmos futebol no quintal; então, fazíamos bolas de pano.
No aniversário de cada
filho, bastava convidar os primos para a casa já ficar cheia. Minha mãe fazia
um delicioso ‘pão de ló’ coberto com suspiro. Era o manjar dos deuses! Cada um
tinha o direito – só naquele dia – de tomar um guaraná ‘caçula’. Para acabar
devagar, pedíamos ao papai para fazer um furinho na tampa. Que tempo bom!
Não tínhamos quase
nada, só um rádio. Não havia TV, internet, fogão a gás, geladeira, batedeira,
freezer em micro-ondas, mas não nos faltava nada, havia muitos irmãos e muito
amor.
É por isso que o
Catecismo da Igreja diz que “a Sagrada Escritura e a prática tradicional da
Igreja veem, nas famílias numerosas, um sinal da bênção divina e da
generosidade dos pais” (n.2373). E ainda: “O filho não é algo devido, mas um
dom. O ‘dom mais excelente do matrimônio’ e uma pessoa humana’” (n. 2378).
Ora, se Deus diz, pela
boca da Sua Igreja, que “os filhos são o dom mais excelente do matrimônio”,
então, dentro dessa lógica, quanto mais filhos melhor. Ninguém rejeita um dom
de Deus, certo? É por isso que, no altar, o padre pergunta aos noivos:
“Prometem receber os filhos que Deus lhes enviar, educando-os na fé de Cristo e
da Igreja”?
Bem, sabemos que o
mundo mudou muito nesses cinquenta anos. A vida ficou mais cara e os pais têm
mais dificuldades para criar e educar os filhos. Mas não há justificativa para
irmos ao outro extremo, pois há muitos casais que já não querem ter filhos ou
adiam o nascimento destes por muitos motivos.
Todos os países da
Europa já estão com a população diminuindo, e muitos deles fazendo fortes
campanhas para aumentar a natalidade. O Japão, por exemplo, está investindo
três bilhões de ienes para fomentar o nascimento de mais crianças.
O Brasil tem somente 20
pessoas por km2, enquanto o Japão tem 330; dezesseis vezes mais. E eles querem
aumentar a população, pois esta está envelhecendo. E o Brasil quer diminuí-la.
A Igreja ensina que
cada casal deve viver segundo a “paternidade responsável”, isto é, deve ter
todos os filhos que puder criar adequadamente. O critério de natalidade não
deve ser o egoísmo, o medo ou o comodismo, mas o amor a Deus e ao filho, “o dom
mais excelente do matrimônio”. Num casal cristão não pode faltar “a fé que move
montanhas”. A Bíblia diz que “sem fé é impossível agradar a Deus”.
Não tenho dúvidas ao
dizer que quanto maior uma família tanto mais alegria há nela. Como é gostoso,
nos fins de semana, os cinco filhos, o genro e as quatro noras, mais os onze
netos. É uma festa que não tem preço! É claro que tudo isso custou caro, muito
trabalho, suor e lágrimas. Mas é uma festa contínua. Só quem dela participa
sabe o seu significado.
Nós damos valor a uma
família grande sobretudo na hora da dor e do sofrimento, quando todos se juntam
para ajudar aquele que sofre. Como foi bom ver meus filhos e noras
acompanhando, todos os dias, em revezamento, a minha esposa no hospital, em São
Paulo, em um mês de internação, antes de Deus a chamar! Como é bom compartilhar
as alegrias e as lágrimas com aqueles que têm o nosso sangue!
Portanto, mesmo com as
dificuldades da vida moderna, o casal deve, na fé, não negar a Deus os filhos
que puder ter. Afinal, o Catecismo diz que “os pais devem considerar seus
filhos como filhos de Deus e respeitá-los como pessoas humanas” (n.2222).
A maior glória que
podemos dar ao Senhor é gerar um filho, pois nada neste mundo é tão grande e
belo quanto ele. A nossa liturgia reza que “tudo o que criastes proclama o
Vosso louvor”. Pode a criação dar mais glória a Deus do que quando surge uma
vida humana? Um cientista disse que “o cosmo chorou quando viu o homem surgir”.
Infelizmente, caiu
sobre o mundo todo um pavor estranho, um medo enorme de ter filhos; mas o casal
cristão não deve se deixar levar pelo pânico de muitos ecologistas exagerados e
de outros catastrofistas de plantão.
Felipe Aquino
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