Na 1ª Leitura dos Atos dos Apóstolos, Pedro, porta-voz dos
demais discípulos, apresenta o querigma cristão. Jesus de Nazaré, o Enviado do
Pai, realizou “milagres, prodígios e sinais” em favor do povo. Ele foi acolhido
por muitos e rejeitados por outros até a morte na cruz. “Mas Deus o
ressuscitou, libertando-o das angústias da morte”, revelando a eficácia de sua
doação a serviço do projeto divino de salvação.
Em Cristo realiza-se plenamente o sentido do salmo de hoje. O
Pai não abandonou o Filho na morada dos mortos, mas o ressuscitou para a vida
plena em sua glória.
A vitória da vida sobre a morte, manifestada em Cristo,
plenifica a promessa messiânica de estabelecimento de um reino eterno de
salvação. Na obra de Jesus, o Messias (=ungido), a qual culminou com sua
exaltação à direita do Pai, cumprem-se as Escrituras. Jesus venceu a morte
através da ressurreição, instaurando o reinado eterno da justiça e da paz. Os
cristãos tornam-se testemunhas da vida nova, revelada em Cristo: “Deus
ressuscitou este mesmo Jesus, e disso todos nós somos testemunhas”.
A 2ª Leitura da primeira carta de Pedro convida a testemunhar a
fé e a esperança, durante “o tempo de permanência como migrantes”. Os cristãos,
que estavam sofrendo discriminação, opressão, como no tempo do Egito e da
Babilônia, são fortalecidos pela presença de Deus, o Pai que ama e acolhe a
todos como filhos. O amor do Pai, revelado ao povo ao longo da história da
salvação, culminou na vida, morte salvífica e ressurreição de Cristo.
“Fomos resgatados (…) pelo precioso sangue de Cristo, cordeiro sem
defeito e sem mancha”. Jesus, como cordeiro pascal, realiza o êxodo que liberta
plenamente, conduzindo à comunhão filial com o Pai.
O seguimento a Cristo, a fidelidade ao seu projeto testemunham a
verdadeira fé e esperança em Deus. A esperança em Deus, que ressuscitou Jesus
dos mortos, assegura o compromisso em defesa da vida e da dignidade dos que são
discriminados, marginalizados.
A leitura do Evangelho de Lucas narra o encontro do Ressuscitado
com os discípulos de Emaús. Esse texto, exclusivo de Lucas, convida a percorrer
o caminho do discipulado para encontrar Jesus ressuscitado, que parte o pão
conosco e revela seu amor que inflama nosso coração.
Os dois discípulos representam os cristãos de todos os tempos,
sempre a caminho com o Senhor, na década de 80 do primeiro reavivar a fé em
Cristo ressuscitado, presente na comunidade solidária que se reúne para partir
o pão.
Os dois discípulos, após a morte de seu Mestre na cruz, partem
de Jerusalém em direção ao povoado de Emaús. Jesus de Nazaré, que “foi um
profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e diante de todo o povo”,
havia suscitado a esperança messiânica de libertação. Os discípulos estão
tristes e desiludidos, pois tinham colocado a expectativa num messianismo
político nacionalista: “Esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel”.
Apesar de não terem acolhido o anúncio pascal das mulheres que
diziam: “o Crucificado está vivo”, eles lembram, conversam e discutem a
respeito de Jesus, mas seus olhos são incapazes de reconhecer a presença viva
de Jesus que estava próximo e caminhava com eles.
O Ressuscitado se faz presente no caminho dos que procuram descobrir
o significado de suas palavras e obras, dos que fazem memória de sua vida doada
totalmente. À luz das Escrituras, os discípulos e discípulas encontram o
verdadeiro sentido da paixão e ressurreição de Cristo: “Não era necessário que
o Cristo sofresse tudo isso para entrar na glória?”.
Compreendem que Jesus é o verdadeiro Messias, que realizou o
projeto salvífico, passando pelo sofrimento da cruz. “Começando por Moisés e
passando por todos os profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, as passagens
que se referiam a ele”. A presença do Ressuscitado ilumina os discípulos,
fazendo-os compreender a palavra: “Não ardia o nosso coração quando ele nos
falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”.
A adesão à palavra de Jesus manifesta-se na hospitalidade: “Fica
conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!”. O gesto de partir e
compartilhar o pão suscita a fé no Ressuscitado. Os olhos dos discípulos se
abrem e reconhecem a presença de Jesus, quando ele sentou-se à mesa, “tomou o
pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu a eles”.
Na última ceia, Jesus repartiu o pão como dom de sua própria
vida. Os discípulos de Emaús celebram o memorial de Jesus como gesto de
solidariedade, acolhendo o “peregrino” para que pudesse restaurar as forças. Ao
repartir o pão de Jesus na comunhão fraterna da vida, eles fazem a experiência
de sua presença viva e atuante.
O gesto de Jesus, que recorda sua vida compartilhada, doada por
amor, reconduz os discípulos ao caminho. Reavivados na fé e na esperança, os
discípulos levantam-se e voltam para Jerusalém, para testemunhar a experiência
do encontro com Cristo ressuscitado: “Realmente, o Senhor ressuscitou!”.
Jerusalém, lugar onde Jesus concluiu sua obra de salvação, torna-se o marco
inicial da missão dos discípulos, que deve se estender até os confins da terra.
Diocese de Limeira
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