No Livro de Números, capítulo 6, Deus fala a Moisés que
transmita as palavras de benção a Aarão e seus filhos. E eles são encarregados
de abençoar os filhos de Israel. Essa missão passa aos sacerdotes que
abençoavam o povo na festa do Ano Novo (Yom Kipur), invocando três vezes o nome
do Senhor. A benção se fundamenta na eficácia da Palavra. A imposição do nome
de Deus da Aliança era atualização da própria Aliança, com suas promessas e
exigências, realizando a própria vinda de Deus com o dom da salvação.
Para o israelita, o nome significa a presença da própria pessoa.
Esse dom se concretiza pelas três fórmulas de augúrio que acompanham o nome de
Deus, exprimindo: a benção e a proteção – benção, fonte de vida e proteção traz
segurança: a graça e a amizade: presença amiga de Deus que mostra um rosto
sorridente; o acolhimento e o dom da felicidade: olhar benevolente e acolhedor
de Deus; a paz é o estado de felicidade plena.
No Evangelho, o nome de “Deus que salva” foi dado a Jesus. Ele é
a benção do Deus que salva a humanidade. Isto comporta dizer que Deus fala em
seu Filho, nos abençoa por sua natividade. Para o povo israelita e todo o povo
semita, a benção tem força para produzir a salvação.
A segunda leitura (Gl 4,4-7) aponta melhor em que consiste a
graça e a benção de Deus: em sermos chamados de filhos e filhas de Deus a
partir da encarnação. Os frutos que nos chegam pela benção de Deus, dita em seu
Filho, no mistério de sua encarnação, têm a ver com a filiação divina que
recebemos, por gratuidade, e que o texto exprime em termos de “adoção”. É como
se disséssemos: pela encarnação a humanidade está tão impregnada de Deus que é
chamada também de “filha de Deus”.
O Filho de Maria resgata-nos da Lei e nos torna filhos. A maior
benção de Deus Pai, portanto, é seu filho Jesus, nascido de Maria, na plenitude
do tempo messiânico, coroamento da esperança longamente guardada pelo povo.
Nasceu submisso à Lei, como sua Mãe, para que nos tornássemos
filhos do mesmo Pai. Tornando-nos filhos, Deus enviou-nos o Espírito de seu
Filho para que possamos clamar: Paizinho! Não somos escravos, mas filhos e
herdeiros. Graças a Deus!
O Evangelho (Lc 2, 16-21) é a continuação a noite de Natal. Após
terem recebido o anúncio do Anjo, os pastores vão comprovar a mensagem e voltam
glorificando a Deus. No oitavo dia, realiza-se a circuncisão. Rito mediante o
qual se começava a fazer parte do povo eleito, recebendo um nome que exprimia a
missão que o novo membro assumia no conjunto do povo da aliança. Jesus será,
como o nome indica, o realizador da salvação.
Em meio a esta dinâmica, o evangelista registra o papel de
Maria, que guarda tudo na memória e medita. Maria torna-se assim modelo da
Igreja que contempla os mistérios da vinda de Cristo.
Na verdade, o Evangelho salienta mais o rito da imposição do
nome a Jesus, do que a própria circuncisão. O nome indicava a função que a
pessoa iria desenvolver no meio do Povo da Aliança. Jesus é o realizador da
salvação e quem o segue torna-se herdeiro desse nome, recebendo também a missão
de dedicar a vida à salvação de tudo o que está perdido. Como Jesus, podemos
ser benção de Deus que salva.
Em algumas situações, a benção tem se tornado algo meio
infantil, certamente porque não conhecemos bem que abençoar é por o nome de
Deus sobre o povo. É bom recuperar o sentido judaico da benção. Em muitas
famílias, ainda há essa cultura preservada com muita seriedade e fé. A benção é
sempre de Deus que nos guarda, nos ilumina, que é bondoso conosco, que nos
mostra sua face de Pai e que nos dá a paz. Podemos ser portadores desses dons
em nome do próprio Deus. A paz cultivada e desejada abrange todos os bens e
dons, abundantemente derramada sobre todos nós.
Somos filhos (as) herdeiros (as) de Deus; não somos escravos
(as), e podemos clamar como Jesus: Abba! Pai! Se chamamos Deus de Pai e nos
sentimos filhos, reconheçamos que não somos filhos únicos, mas temos irmãs e
irmãos que, como nós, precisam da benção e da paz.
Diocese de Limeira
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