Epifania do Senhor

A leitura de Isaías se refere à situação de Jerusalém. Ela é desanimadora. É tempo de pós-exílio, onde tudo está por ser feito Se o exílio era amargo, a saída dele e a reconstrução do país foram marcadas por grandes dificuldades: Jerusalém está prostrada por causa de sua população diminuta, pela falta de recurso e pela dominação estrangeira (império persa) que não permitia a organização política dos que retornaram, além de impor pesado tributo.

Teria Deus abandonado seu povo e a cidade santa? O papel do profeta (Terceiro Isaías) é suscitar ânimo e esperança. Deus continua sendo o esposo da cidade. Por causa do amor fiel que tem para com Jerusalém, esta será transformada em ponto de convergência da caminhada das nações. Neste contexto, precisamos entender a palavra do profeta.

O texto de Isaías (60,4) é uma poesia de consolo à comunidade que retorna do cativeiro: “Lança um olhar em volta e observa: todos estes reunidos para virem a ti, teus filhos vêm de longe, tuas filhas carregadas ao colo”. Jerusalém acolhe os seus que foram deportados, e, resplandecente, vibra pela justiça de Deus.

Amanhece o dia: trabalhos de reconstrução, acumulação de tesouros. Triunfam a paz e a justiça. O dia passa, mas a noite não chega: começou o dia sem fim de luz, vida, justiça e fecundidade, porque a glória do Senhor se levantou sobre a cidade. Jerusalém deve despertar da noite do exílio e ver com alegria a chegada das nações cantando louvores a Deus.

A carta de Paulo aos Efésios fala do desígnio eterno de Deus de se revelar à humanidade; esse mistério completou-se em Jesus, o Messias, a chamar a si toda a humanidade, judeus e não judeus. Deus revelou-se no momento presente pelo Espírito: os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo e associado à mesma promessa em Jesus Cristo.

No Evangelho, uma luz paira sobre o lugar do nascimento de Jesus. Lendo-o a partir da primeira leitura com seu salmo, nos é possível perceber como se cumpre em Jesus o que se anuncia acerca de Jerusalém e do Rei-Messias.

Mateus fala da visita dos magos do Oriente a uma casa onde se encontram Jesus e sua Mãe. Herodes Magno é rei da Judeia. É visto como ilegítimo por parte da população por ser estrangeiro. Para ele Jesus é um rival perigoso que deve ser eliminado.

A estrela esperada, que sairia da linhagem do pai Jacó (Nm 24,17), é Jesus de Nazaré, descendente de Davi, outra estrela da estirpe de Jacó. Essa estrela é a verdadeira luz para todos os povos, é o “sol da justiça”, anunciado pelo profeta Malaquias (Ml 3,20). Davi é da tribo de Judá e Belém é sua aldeia de origem. Por isso, os autores deste relato fazem memória da esperança do profeta Miquéias (Mq 5,1-3), que não acreditava mais nas autoridades de Jerusalém, a capital, mas em um governante que viria desde a periferia, como Davi, quando era um pobre pastor de ovelhas antes de se tornar rei em Hebron e, depois, também em Jerusalém.

Outro aspecto dessa memória da esperança do povo é o fato de lembrar vários textos que anunciam a vinda do rei justo para todos os povos, enquanto do Oriente e do Ocidente eles viriam trazendo-lhe presentes (Sl 72,10-15; Is 49,23; 60,5-6). Os presentes anunciam que Jesus é rei (ouro) divino (incenso), que veio trazer libertação para muitos. Por isso, é uma ameaça para outros, que o matam (a mirra era usada nos sepultamentos – Jo 19,39-40)

Contrastando com Herodes estão os magos do Oriente. Seriam sacerdotes persas, mágicos, astrônomos ou astrólogos babilônios? Importante é que eram conhecedores das tradições judaicas. Chegam a Jerusalém, perguntando pelo rei dos judeus recém-nascido, pois viram sua estrela e vieram homenageá-lo. Herodes tremeu e com ele toda a Jerusalém ligada ao poder. Ele conhecia a esperança messiânica do povo e temia como ameaça ao seu poder político.

Os sumos sacerdotes e doutores foram indagados sobre onde devia nascer o Messias. Eles citam o profeta Miquéias (5,1): “Mas tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel. Sua origem é antiga, de épocas remotas”. A profecia de Miquéias opõe a humilde aldeia de Belém à capital, Jerusalém.

O rei se informa sobre o tempo em que havia aparecido o astro, recomendando que enviassem informações para que ele pudesse ir homenagear a criança. Os magos partiram e a estrela os conduzia, motivo de imensa alegria. Entraram em casa e viram o menino com a mãe Maria. Não é uma gruta, ou sala de peregrinos, ou um dormitório. É uma casa. Não menciona José.

Na tradição bíblica, a presença do rei ou do herdeiro tem papel importante (cf. Sl 45,10). Prostraram-se, homenageando a criança e lhe ofereceram ouro, incenso e mirra, reconhecendo sua dignidade como rei, Filho de Deus e ser humano. Avisados para no retornarem a Jerusalém, voltaram para o Oriente por outro caminho, impedindo os planos de Herodes.

Algumas conclusões se impõem: Jesus é o rei que vem fazer justiça. Ele é o mestre da justiça. Essa missão se concentra na salvação dos pagãos, aqui representados pelos magos. O verdadeiro Rei dos Judeus não é violento nem assassino. É um recém-nascido que tem suas raízes no poder popular alternativo que se forma a partir do descontentamento e das necessidades básicas do povo, ou seja, lembrando que Jesus é Rei à semelhança do pastor Davi. No reinado de Jesus, a salvação não vem de Jerusalém, mas de Belém.

No século VII, eles teriam recebido “nomes” populares: Baltazar, Melchior e Gaspar. E, no século XV, lhes teriam sido atribuídas as “cores”: Melquior representaria as etnias brancas, Gaspar as amarelas e Baltazar as negras, a fim de simbolizar o conjunto da humanidade que acolhe e reconhece o Messias como Deus conosco e libertador de todas as formas.

Diocese de Limeira

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