Na celebração eucarística, realiza-se a promessa de Jesus: “Eu
sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão, viverá para sempre. E o
pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha vida” (Jo
6,51).
Depois de realizar a multiplicação dos pães, Jesus, sensível à
multidão entusiasmada pelo miraculoso alimento, revela que o “sinal do pão” é
ele mesmo: “pão vivo que desceu do céu”, novo dom de Deus à humanidade. Comendo
do pão e bebendo do cálice da Eucaristia, recebemos Jesus como alimento e
bebida: sua vida doada para a vida do mundo, até a efusão de seu sangue,
torna-se nossa vida, para a eternidade. “assim Jesus manifesta-se como o pão da
vida que o Pai eterno dá aos homens” (Sacramentum Caritatis, n.7).
A multidão revelou-se sensível aos problemas da fome que afligem
o corpo. O Evangelista reage e convida à busca do pão que alimenta o corpo e
fortalece o espírito. A palavra de Jesus e seus gestos são o “pão” do qual a
multidão tem maior necessidade. Um alimento que não só imortaliza, mas que
projeta a existência ao futuro, destrói a morte em perspectiva da ressurreição.
Jesus como pão, diferente do maná do deserto, assegura o êxito da liberação e a
vida para o mundo futuro.
“E o pão que eu vou dar é a minha carne, para que o mundo tenha
vida”. Jesus aqui está se referindo ao mistério de sua encarnação. A realidade
do Espírito de Deus manifesta-se e comunica-se na realidade humana. Através
desta, o dom de Deus torna-se concreto, história e adquire realidade para as
pessoas humanas. Nesta mesma realidade, o Filho de Deus, fazendo-se “carne”,
transforma-se em dom de vida e de amor do Pai para o mundo. O dom da vida é
oferecido a todos e se comunica através da realidade humana Jesus.
“Como pode esse homem dar-nos a sua própria carne?”. Os judeus
não entendem a metáfora do pão e sentem-se desorientados e inseguros. Não
entendendo o que significava “comer a sua carne”, buscam explicações e não as
encontram. Jesus apenas quis lhes dizer que o “pão” é a sua própria realidade
humana.
Jesus prossegue afirmando: “Se vocês não comem a carne do Filho
do Homem e não bebem o seu sangue, não terão a vida, em vocês”. É uma
referência ao sacrifício da cruz. Ele dará sua carne, sendo imolado. Nesta hora
manifestará a vida, o Espírito, o amor e a glória. Não terão vida, isto é, não
haverá realização, senão pela assimilação daquilo que Jesus é. “Assimilar”,
neste contexto, tem o sentido de aceitação e de adesão.
O que dá vida aos humanos é o “comer sua carne e beber seu
sangue!”, isto é, assimilar sua realidade humana. Na perspectiva eucarística,
Jesus é novo maná, alimento que fortalece e vivifica. A Eucaristia é o memorial
de sua vida e morte, é dom que comunica seu amor e sua vida. Da parte dos
seguidores de Jesus, a Eucaristia é aceitação que gera nova conduta. O dom
recebido impulsiona à doação. É o amor que responde com gestos de amor
solidário.
O “comer da carne e o beber do sangue” produz íntima comunhão
com Jesus e faz o discípulo viver em estreita identificação com ele. A
aceitação de Jesus é sempre adesão de amor, que estabelece comunhão de vida que
procede do Pai. Comungando o corpo e o sangue de Jesus Cristo, nos tornamos
participantes de sua vida divina de modo sempre mais adulto e consciente.
Cristo alimenta-nos, unindo-nos a ele (Cf. Sacramentum Caritatis, n.70).
Na 1ª Leitura, a Eucaristia é memorial da presença de Deus na
história de seu povo. “Deus o alimentou com o maná, que nem você e nem seus
antepassados conheciam”. Na história caminhada do deserto, o maná se
transformou no sinal da presença amorosa e fiel de Deus no meio de seu povo.
Alimentando-se desse dom, o povo tinha forças para olhar apara o futuro e
caminhar em direção à Terra Prometida.
Na 2ª Leitura, assim como na experiência do deserto, os hebreus
alimentando-se do maná, foram se transformando no povo de Deus. Hoje, na
opinião de Paulo, a participação e a comunhão no corpo e sangue de Jesus, o
novo maná nos transforma em membros do Corpo Cristo, a comunidade eclesial, o
novo Povo de Deus a caminho da nova terra e do novo céu.
O discurso simbólico do Evangelho de João, referindo-se ao comer
e beber, ao pão e vinho, ao corpo e sangue, é um evidente direcionamento à ceia
eucarística, celebrada nas comunidades cristãs. Não se trata de um simples
ágape, mas do memorial da morte e da ressurreição do Senhor (ao Filho do
Homem). Comer do pão partido e beber do sangue derramado é um gesto simbólico,
por meio do qual a comunidade cristã (e pessoalmente cada cristão) assimila
como seu o projeto de vida de Jesus Cristo.
Diocese de Limeira
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