Espírito Santo, amor de Deus derramado em nossos corações

“E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5, 5).

Esta passagem bíblica nos ensina que a esperança não nos decepciona. Ela só não vai nos decepcionar se o seu fundamento for o amor de Deus, se ela estiver alicerçada em Deus. Porém, nós humanos queremos "pirateá-la" e, assim, criamos uma pseudoesperança, que não é derramada em nossos corações pelo Espírito Santo, mas por aquilo que nós mesmos buscamos. Desse modo, encontramos pessoas que confundem esperança com suas próprias expectativas, por isso surgem questionamentos como: “Como a esperança não decepciona se eu estou cheio de mágoas e tristezas?”

Essa esperança que o deixou decepcionado é uma esperança falsa, que não está baseada no amor de Deus nem no Espírito Santo. Existem dois tipos de esperança: uma que vem de Deus e outra que é criada e manipulada pelo homem.

Muitas vezes em que nossas expectativas não são atendidas é gerada em nós a decepção com Deus, com os outros e com nós mesmos. Com Deus, porque criamos uma esperança falsa de que o Senhor faria tudo o que quiséssemos, que Ele iria nos obedecer. Com os outros ao criarmos em nosso coração a expectativa de que fulano iria nos falar algo, fazer isso ou aquilo e isso não aconteceu.

Com isso eu lhe pergunto: Você já se decepcionou com alguém? Você já foi causa de decepção para os outros? A esperança baseada em nossa vontade sempre nos decepciona! Quantas feridas nós trazemos porque esperávamos determinadas atitudes dos outros e eles nos decepcionaram porque não se encaixaram no que queríamos deles. E por último, há a decepção com nós mesmos, quando planejávamos fazer algo, mas acabamos fazendo outra coisa; e não entendemos como é que fizemos aquilo. Criamos uma mentira a nosso respeito, nos vemos maiores do que realmente o somos; e quando descobrimos a nossa verdade vem a decepção. As medidas da esperança são as medidas do Espírito de Deus. Contudo, todos esses exemplos que eu dei são formados pelas medidas humanas, por isso nos ferem.

Muitas das nossas decepções são geradas pelas expectativas que criamos. Todas as vezes em que Deus não nos obedece, que os outros não nos obedecem e que não atendemos as nossas expectativas nós nos decepcionamos, ficamos chatos e intransigentes.

“Os que vivem segundo a carne gostam do que é carnal; os que vivem segundo o espírito apreciam as coisas que são do espírito” (Rm 8, 5).

Quem vive dessa esperança carnal, quem se enche dela, vive cheio de decepções com a Igreja, com o Papa, com o padre, com o marido, com os filhos e até consigo mesmo, porque ninguém consegue atender à expectativa que é baseada em um amor-próprio. Quem são as pessoas que matamos em nossos corações? As pessoas que nos decepcionaram, as pessoas que não tiveram a competência de fazer como e o que queríamos e, com isso, nosso coração vai se transformando em um cemitério em que colecionamos sofrimentos. A nossa esperança, criada por nós, se rebela contra a vontade de Deus.

Essas aspirações da carne são uma rebeldia contra Deus. Quem vive dessas esperanças pessoais e carnais não se submete aos acontecimentos da vida e quer o mundo ao seus pés.

A Palavra continua: “Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele” (Rm 8, 9).

O Espírito de Deus, que mora em nós, vai nos dando a face de homens e mulheres ressuscitados e fazendo-nos enxergar que a esperança, na qual construímos a nossa vida, tem nos decepcionado por ser nossa criação; não de Deus. E nos ensina que o mundo não é obrigado a seguir o que nós queremos, quando e como queremos.

A esperança é fruto dessa presença de Deus, que habita em nós, e o que torna o nosso coração consagrado a Ele é a presença do Seu Espírito. Se o nosso coração é habitado por uma esperança carnal ele ficará deformado e diferente do Coração de Jesus. A esperança não nos decepciona quando deixamos Deus conduzir a nossa vida.

Quero denunciar uma dupla que nos prejudica: a falsa esperança e o hábito de pôr a culpa nos outros. Quando nós criamos uma falsa esperança esta se torna companheira do hábito de colocarmos a culpa nos outros. E, assim, nos decepcionamos, nos tornamos chatos, velhos, insuportáveis e intransigentes. E como mudar isso? Deixando que a esperança verdadeira conduza a nossa vida e nos abrindo à experiência de nos deixar conduzir por Deus.

Muitas pessoas hoje estão sozinhas porque todos aqueles que não se encaixaram em seu projeto de vida e não fizeram o que elas queriam foram eliminados por elas. Muitas das nossas decepções não aconteceram porque os outros nos machucaram, a maior parte delas vem da esperança boba que criamos de que o mundo vai nos obedecer. Aquele amor da esposa que, a todo momento, quer transformar seu marido no que ela quer; o exigir que o outro seja como queremos para amá-lo, o querer que o seu filho siga a profissão que você quer. Tudo isso se chama egoísmo. O mesmo vale para a religião: se minha Igreja não me dá o que eu quero, como e quando eu quero eu troco de Igreja, porque eu criei um roteiro e a vida não seguiu esse roteiro.

Mas a verdadeira esperança não nos decepciona! Devemos fixar a nossa esperança somente em Deus, porque se esta está em nós mesmos só trará decepção. A verdadeira esperança vem de um coração habitado por Deus.

Padre Fabrício

Sacerdote missionário da Comunidade Canção Nova

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