12º Domingo do Tempo Comum

Um mundo dominado pelo medo faz com que construamos relações baseadas na desconfiança. O outro constitui sempre uma ameaça para mim. Os muros das nossas casas são cada vez mais altos; câmeras de segurança são espalhadas nas ruas, nos lugares públicos e privados. Nos tornamos a cada dia prisioneiros dentro dos nossos próprios lares.

O medo é a mais clara manifestação do nosso instinto fundamental de conservação. O medo é o instinto natural de defesa contra absolutamente tudo que nos arranca o que temos de mais precioso: a vida. Ele é a pronta resposta a um perigo que se manifesta clara ou veladamente. O medo se manifesta diante do perigo mais temido por todo ser vivente: a morte; se manifesta diante dos perigos aparentemente pequenos que ameaçam a nossa tranqüilidade, a nossa saúde física, o nosso mundo afetivo, a nossa vida financeira, familiar, profissional, etc.

Para o medo humano não tem escola. Ele chega improvisamente diante do perigo, “as coisas se encarregam por si mesmas de incutir-nos medo; o temor de Deus, ao contrário, se deve aprender. ‘Vinde filhos, escutai-me’ diz um salmo ‘vos ensinarei o temor do Senhor’ (Sl 33,12)” (R. Cantalamessa. Dal Vangelo della vita. PIEMME, Milano, 2012, p. 89-90).

O Sentido do temor de Deus é completamente diferente daquele do medo. “Temer a Deus é o princípio do saber” (Sl 111,10), isto é, tem sua fonte exatamente no saber quem é o Senhor. Se o medo nasce da obscuridade do desconhecido, o temor de Deus nasce do conhecimento de Deus. O temor do Senhor é um maravilhar-se diante dele, como diante de alguém que é imensamente maior. Como o povo que ficou todo “tomado de temor e glorificava a Deus” diante do jovem filho da viúva de Naim que estava morto e voltou a viver (Lc 7,16).

Temer a Deus é outro nome para o estupor, para o maravilhar-se diante dele e louvá-lo. Esse tipo de temor é irmão gêmeo do amor. A Oração do dia da missa de hoje é muito significativa porque coloca esses “sentimentos” como inseparáveis para aqueles que são firmados no amor de Deus e por Ele conduzidos: “Dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer”. Ele, o temor, é o receio de desagradar ao amado que se percebe em toda verdadeira relação amorosa.

O temor implica uma segurança inabalável no outro e constitui uma graça. O temor é também uma forma de profissão de fé, como nos atesta a Antífona de Entrada: “O Senhor é a força do seu povo, fortaleza e salvação do seu ungido” (O hinário litúrgico da CNBB propõe a seguinte tradução: “De seu povo ele é a força, salvação do seu ungido, salva, Senhor, teu povo, socorre os teus queridos”. CNBB, Hinário litúrgico, 3º fascículo, domingos do tempo comum anos a,b e c. Edições Paulinas, São Paulo, 1991, p. 122).

Na 1ª Leitura, para o profeta Jeremias a relação com o Senhor é uma relação de inteira confiança. O Senhor é aquele ao qual, nos momentos de tribulação e angústia, o crente pode declarar sem medo a sua causa, porque quando ele permite que o cristão seja provado é com o objetivo de “ver os sentimentos do (seu) coração” e ao mesmo tempo ele se coloca ao lado do perseguido e humilhado “como forte guerreiro”. Maravilhado, então, o profeta convida: “Cantai ao Senhor, louvai o Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem”.

Ele mesmo, o Senhor, tem se apresentado como pastor do seu povo, que é capaz de dar a vida por suas ovelhas (2ª ant. da comunhão), por isso todos os olhos se voltam esperançosos para ele que no tempo certo sacia abundantemente a todos (1ª ant. da comunhão).

Como sempre o Evangelho nos ajuda a olharmos para os nossos dias com olhar transfigurado e lança luzes sobre o nosso cotidiano. O nosso tempo é um tempo de angústia e a ansiedade e o medo tem se tornado as doenças por excelência e principais causas de infartos e suicídios. Como se pode explicar essa situação se na atual conjuntara temos tantos recursos, em relação ao passado, que nos garantem segurança econômica, planos de saúde, meios para enfrentar doenças e formas para retardar o envelhecimento e a morte? Ou será que na nossa sociedade diminuiu o temor de Deus e quanto mais se diminuiu o temor de Deus se cresce o medo dos homens? Os adolescentes e jovens que perderam o temor dos pais, que por sua vez perderam o temor de Deus, são mais livres e seguros de si?


Diocese de Limeira

Nenhum comentário: