O Pai ama por meio do
Filho (cf. Jo 10,17) e derrama o Seu Espírito, o Defensor, para que permaneça
com os Seus (cf. Jo 14,16), ou seja, é um dom de Deus para toda a humanidade.
Desde os primórdios, os padres da Igreja ensinam que esta nasceu no Espírito
Santo doado por Cristo no alto da cruz, e também no cenáculo em Pentecostes. O
Pentecostes, narrado no livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 2, é o mais
famoso relato sobre Sua vinda, porém houve outros Pentecostes (Atos 4,31;
8,16-17; 11,44-48).
A Igreja nasceu no
Espírito. Ela é movida, sustentada, guiada por Ele. Enfim, sem o Espírito Santo
fica difícil pensar em Igreja, assim também nos membros dela. Nós não podemos e
não conseguiremos viver sem o sopro do Espírito.
O Espírito Santo é
invocado nos sacramentos. Como é maravilhoso perceber que, nas fases da vida
cristã, recebemos essa força do Senhor! No batismo, somos batizados em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo. Quando somos perdoados no sacramento da
penitência, somos perdoados pelo Espírito enviado do Pai e do Filho, e assim
todos os sacramentos são realizados pela ação do Espírito.
Quando falamos da vida
segundo o Espírito, não devemos imaginar uma vida fora da realidade,
desvinculada de si mesma; aliás, a vida humana é composta pela realidade
física, biológica, psíquica e espiritual. Nenhuma deve ser descartada, pois o
ser humano é um todo. Devemos ter bem claro isso: somos um conjunto, mas
precisamos reconhecer que, quando a vida espiritual vai mal, as outras
realidades acabam indo mal; e quando se vive uma espiritualidade sadia,
consegue-se superar o males físicos, biológicos e psíquicos. Quando há saúde
espiritual, os males em outras áreas podem não ser sanados, mas superados pela
força do Espírito. O mal físico e a violência podem nos impedir de caminhar
alguns metros e nos limitar, enquanto o Espírito nos leva a distâncias
longínquas, porque n’Ele somos livres.
Hoje, sem dúvida, temos
de valorizar a vida espiritual, uma vida segundo o Espírito de Deus. Em nosso
tempo, uma das grandes dificuldades que as pessoas vivem é uma vida sem sabor,
sem sentido, uma vida de erros, à qual chamamos de pecado. Uma vida sem o
auxílio do Alto é fadada ao fracasso, susceptível às doenças psíquicas e
físicas. Quantas pessoas doentes no espírito, quantas pessoas perdidas! Quantas
pessoas vão à igreja, mas, desanimadas, não conseguem se levantar ou possuem
dificuldades para fazer isso?
Tanto para as pessoas
que estão na igreja quanto para as que não estão fica o convite: precisamos ter
uma vida no Espírito para que todos sejamos saudáveis, fortes, esperançosos,
para que não desanimemos frente às limitações humanas e aos poderes do mal.
Essa vida segundo o
Espírito é vivida sob a orientação de Deus, sob a moção divina. Mas como
consegui-la? É possível, por meio de uma vida de oração, ter contato com Deus,
onde o Espírito Santo é o que nos impulsiona, é o que nos esclarece e ordena, é
Aquele que nos faz perseverar e entender as situações. E mesmo que não as
entendamos, Ele nos dá esperança, sentido à nossa vida. Os dons do Espírito nos
ajudam no dia a dia.
Nós devemos buscar uma
vida em Deus não só nos momentos difíceis, pois todo o tempo estamos sendo
testados. Somos chamados, a cada momento, a dar uma resposta coerente, segundo
o Cristo. Graças a Deus, existe um caminho que podemos percorrer para não nos
perdermos: a Igreja Católica Apostólica Romana, pois esta já fez e faz um
caminho sob a orientação do Espírito Santo.
Jesus, como narra e
evangelista João, soprou sobre os discípulos o Espírito Santo (Jo 20,22). O
Paráclito não foi derramado sobre um, mas sobre todos os discípulos, sobre a
primeira comunidade reunida, a Igreja. Assim, eles se tornam apóstolos, e,
encorajados pelo Sopro Divino, anunciam, com ousadia, o Cristo Ressuscitado.
Quando surgiam os problemas e as dúvidas, os apóstolos podiam contavam uns com
os outros. Pedro até poderia, como o primeiro, decidir, mas tomava a decisão
junto com os apóstolos. Um exemplo é a eleição dos diáconos (Atos 6,1-6). Já no
capítulo 15 de Atos, Paulo e Barnabé, em Antioquia, encontraram dificuldades
com alguns cristãos judeus e foram tratar do assunto em Jerusalém. Esse é o
primeiro concílio da Igreja.
A Igreja é mãe e
mestra, afinal, são “apenas” dois mil anos de experiência, de acertos e erros.
Nós aprendemos e somos educados por ela. Quando digo que vivemos movidos pelo
Espírito, digo que somos movidos pelas orientações da Igreja. O Espírito nos
orienta quando nos colocamos em oração, quando temos sensibilidade para
realizar algo; principalmente quando tudo isso está dentro daquilo que a Igreja
aprova e nos orienta.
Por fim, uma vida
segundo o Espírito é uma vida no Espírito Santo, seguindo Suas orientações numa
comunhão com a Igreja, a qual nos leva a discernir entre o certo e o errado,
ajuda-nos a fazer a vontade de Deus e nos orienta em todos os momentos da nossa
vida, principalmente quando nos impulsiona a viver a caridade. A vida segundo o
Espírito nos faz pessoas melhores não para nós mesmos, não para nos sentirmos
bem, mas ela nos leva ao necessitado, nos faz desprendidos das coisas terrenas,
livres para servir aos outros e amá-los.
Deus seja louvado!
Padre Márcio do Prado
Sacerdote na Comunidade
Canção Nova
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