Vocação é um chamado. Exige uma resposta. Na vida cristã, a vocação à
família é um dom inestimável. A família é o berço de todas as outras vocações.
A família é o lugar onde se desenvolvem nos seres humanos os seus
relacionamentos mais significativos e especiais. É instituição divina desde a
criação do mundo. "Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá
a sua mulher e os dois já não serão mais duas, mas uma só carne". A união
entre o homem e a mulher é fundamental e querida por Deus. Os filhos são a
bênção do casamento, que trás em seu bojo os sinais da fidelidade, da
fecundidade e da eternidade.
Os sagrados laços do matrimônio despertam no homem e na mulher a vocação
ao amor, dada por Deus mesmo a todo ser humano. Ele que é amor nos mandou amar
como Ele mesmo. Criados à sua imagem e semelhança não poderia, de fato, ser
diferente. O parágrafo 1604 do Catecismo da Igreja Católica chama nossa atenção
para este dado importante do amor: "Deus que criou o homem por amor,
também o chamou para o amor, vocação fundamental e inata do ser humano. Pois o
homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é amor. Tendo-os Deus
criado homem e mulher, seu amor mútuo se torna uma imagem do amor absoluto e
indefectível de Deus pelo homem. Esse amor é bom, muito bom, aos olhos do
criador, que é amor. E esse amor abençoado por Deus é destinado a ser fecundo e
a realizar-se na obra comum de preservação da criação: "Deus os abençoou e
disse: sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn
1,28)".
Que o homem e a mulher foram criados um para o outro não se discute.
Assim é afirmado na Sagrada Escritura: "não é bom que o homem esteja
só". Daí o Senhor lhe faz uma companheira semelhante: "carne de sua
carne, ossos de seus ossos".
O matrimônio é a caracterização do início de uma nova família. Já não
são mais dois, mas uma só carne. Além de ser uma instituição divina é também de
índole natural. A união entre o homem e a mulher garante as gerações da prole
ao longo dos anos. O Matrimônio é, portanto, uma aliança onde homem e mulher se
unem pela vida toda, tendo em vista o bem de ambos e a geração e educação dos
filhos. Foi o próprio Jesus que elevou esta união à dignidade de sacramento.
Muitas ameaças do mundo moderno hoje colocam em questão o verdadeiro
sentido do matrimônio. Precisamos sempre mais resgatar o valor da família. O
Beato Papa João Paulo II chama a família de "santuário da vida". Ao
longo de todos os séculos a Igreja sempre trabalhou e zelou pela promoção da
família e de seus valores. Afinal, ela tem consciência de que esta é de
fundamental importância para o bem-estar de toda a humanidade. Quanto mais
nossas famílias se estruturarem devidamente e sobre os alicerces da fé e da
verdade, mais o mundo tomará consciência de sua verdadeira identidade e missão.
O Concílio Vaticano II, no documento Gaudium et spes, ressalta que "a
salvação da pessoa e da sociedade humana está estreitamente ligada ao bem-estar
da comunidade conjugal e familiar".
A família é a vocação natural dos seres humanos. As demais vocações são
específicas e especiais e não poderiam existir não fossem famílias generosas a
oferecer seus membros em vista de um bem comum. A família não exprime sua
importância apenas entre seus membros, mas suas atitudes refletem sobre a
sociedade como um todo, sem dúvida. Daí a afirmação do Concílio da necessidade
da família na salvação de toda a humanidade.
No sacramento do matrimônio os noivos se aceitam um ao outro, unindo-se
à oferenda de Cristo à sua Igreja. Assim como Cristo amou a Igreja, os cônjuges
devem se amar também. São os esposos que se conferem mutuamente o sacramento,
expressando diante de toda a Igreja ali reunida o seu consentimento. O
sacerdote testemunha o consentimento que é dado um ao outro. A bênção
sacramental é importante na celebração. O Catecismo da Igreja Católica no §1624
ressalta este aspecto de modo claríssimo: "as diversas liturgias são ricas
em orações de bênção sobre o novo casal, especialmente sobre a esposa. Na
epiclese deste sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão de
amor de Cristo e da Igreja. É ele o selo de sua aliança, a fonte que
incessantemente oferece seu amor, a força em que se renovará a fidelidade dos
esposos. Toda esta configuração do sacramento está para confirmar e ressaltar
que o matrimônio não é uma celebração exclusiva ou particular, mas um ato
eclesial: isto se manifesta claramente na presença do ministro da Igreja, bem
como dos presentes, as testemunhas. O casamento é um ato litúrgico, cria
direitos e deveres na Igreja, entre esposos e filhos; é um estado de vida na
comunidade de fé e sua celebração tem caráter público.
Uma vez que os noivos se deram em casamento está constituída a nova
família. Os filhos são frutos desse amor. O sacramento é o selo de Deus na vida
do casal. Jamais pode ser dissolvido. Uma especial graça concedida ao casal é a
graça que é o próprio Cristo: na união conjugal um deve ajudar o outro a se
santificar, estando sempre unidos um ao outro e na aceitação e educação dos
filhos. O amor que os une deve ser delicado e fecundo, sincero e firmado no
temor de Deus.
O amor conjugal exige a indissolubilidade, a fidelidade e a fecundidade.
Sinaliza o amor de Cristo com sua Igreja. Este amor é indissolúvel, pois nada
pode romper, nenhuma miséria humana e nenhuma outra situação seria capaz de
dissolver este amor; é fiel, porque dura de geração em geração, mesmo se a
humanidade, no mal uso de sua liberdade, afastar-se de Deus e de seus santos
ensinamentos; e fecundo, porque, como na vida do casal os filhos são frutos do
seu amor, na Igreja, Cristo oferece a vida aos que renasceram na água do
batismo e com ele foram sepultados e irromperam tão logo vitoriosos e
ressuscitados.
Jesus nasceu em uma família: a sagrada família de Nazaré. Filho de Maria
e José. A igreja é a família de Deus. Nela todos são chamados a servir ao Deus
vivo e verdadeiro: "Crê no Senhor Jesus e serão salvos tu e os de tua
família". Nosso tempo urge que as famílias se convertam na fé e animem o
mundo com a força que vem do próprio Deus. Ainda o Catecismo da Igreja
Católica, no § 1656, ressalta esta necessidade: "Em nossos dias, num mundo
que se tornou estranho e até hostil à fé, as famílias cristãs são de
importância primordial como lares de fé viva e radiante. Por isso, o Concílio
Vaticano II chama a família usando uma expressão antiga, de "igreja
doméstica". É no seio da família que os pais são para os filhos, pela
palavra e exemplo, os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria a
cada qual, especialmente a vocação sagrada".
O lar da família é o espaço privilegiado da educação, do cuidado e da
ternura; é a escola da vida e da fé. Os pais são, portanto, o primeiro
catequista de seus filhos. Cabe-lhes introduzir sua prole no caminho cristão e
acompanhar todo o seu desenvolvimento nas diversas etapas do caminho da fé. É
lá, também, o celeiro de vocações e de um suficiente e necessário
desenvolvimento e enriquecimento da pessoa humana. As melhores e mais
importantes lições vêm de casa. Ninguém deve estar privado da família. Assim
também nossas igrejas, comunidades paroquiais devem ser casa e família para
todos, especialmente para os mais cansados, excluídos e enfraquecidos. Seguindo
a orientação de São Paulo, na carta aos Efésios, que os maridos amem suas
esposas como Cristo amou a Igreja. Grandioso mistério de amor de um Deus que se
revela e se deixa conhecer.
“Que a família comece e termine sabendo onde vai, que o homem carregue
nos ombros a graça de um pai; que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e
calor e que os filhos conheçam a força que brota do amor” (Pe. Zezinho)!
Orani João Tempesta
Retirado do Site da Comunidade Shalom
Nenhum comentário:
Postar um comentário