Irmãos Cardeais,
Este período dedicado ao Conclave foi repleto de significado não somente
para o Colégio Cardinalício, mas também para todos os fiéis. Nestes dias
sentíamos quase sensivelmente a atenção de tantas pessoas que, embora não
partilhando da nossa fé, olham com respeito e admiração a Igreja e a Santa Sé.
De cada ângulo da terra levantou-se fervorosas e unidas orações do Povo cristão
para o novo Papa, e repleto de emoção foi o meu primeiro encontro com a
multidão presente na Praça São Pedro. Com aquela sugestiva imagem do povo
orando e alegre ainda impressa na minha mente, desejo manifestar o meu sincero
reconhecimento aos Bispos, aos sacerdotes, às pessoas consagradas, aos jovens,
às famílias, aos anciãos pela sua proximidade espiritual, tão tocante e
fervorosa.
Sinto a necessidade de exprimir a minha mais viva e profunda gratidão a
todos vocês, venerados e queridos Irmãos Cardeais, pela solícita colaboração à
condução da Igreja durante a Sé Vacante. Dirijo a cada um uma cordial saudação,
a começar pelo Decano do Colégio cardinalício, o Senhor Cardeal Angelo Sodano,
a quem agradeço pelas manifestações de devoção e pelas fervorosas saudações que
me dirigiu em nome de vocês. Com ele agradeço ao Senhor Cardeal Tarcísio Bertone,
Camerlengo da Santa Romana Igreja, pelo seu cuidado trabalho nesta delicada
fase de transição e também ao caríssimo Cardeal Giovanni Battista Re, que foi o
nosso chefe no Conclave: muito obrigado! O meu pensamento também vai com
particular afeto aos venerados Cardeais que, por causa da idade ou de doença,
asseguraram a sua participação e o seu amor à Igreja através do oferecimento do
sofrimento e da oração. E gostaria de dizer que outro dia o Cardeal Mejía teve
um infarto cardíaco: ele se recupera no hospital Pio XI. Mas acredita-se que a
sua saúde esteja estável, e nos enviou as suas saudações.
Não pode faltar o meu agradecimento também a quantos, em diversas
tarefas, trabalharam na preparação e no desenvolvimento do Conclave,
favorecendo a segurança e a tranquilidade dos Cardeais neste período tão
importante para a vida da Igreja.
Um pensamento cheio de grande afeto e de profunda gratidão dirijo ao meu
venerado Predecessor Bento XVI, que nestes anos de Pontificado enriqueceu e
fortaleceu a Igreja com o Seu magistério, a Sua bondade, a Sua condução, a Sua
fé, a Sua humildade e a Sua suavidade. Permanecerão um patrimônio espiritual
para todos! O ministério petrino, vivido com total dedicação, teve Nele um
intérprete sábio e humilde, com o olhar sempre voltado para Cristo, Cristo
ressuscitado, presente e vivo na Eucaristia. O acompanharão sempre a nossa
fervorosa oração, a nossa incessante recordação, a nossa eterna gratidão e
afeto. Sentimos que Bento XVI acendeu no fundo dos nossos corações uma chama: essa
continuará a arder porque será alimentada por Sua oração, que apoiará ainda a
Igreja no seu caminho espiritual e missionário.
Queridos Irmãos Cardeais, este nosso encontro quer ser um prolongamento
da intensa comunhão eclesial experimentada neste período. Animados por um
profundo senso de responsabilidade e de grande amor por Cristo e pela Igreja,
rezamos juntos, compartilhando fraternalmente os nossos sentimentos, as nossas
experiências e reflexões. Neste clima de grande cordialidade e de tanto crescimento
do recíproco crescimento e a mútua abertura; e isto é bom, porque nós somos
irmãos. Alguém me dizia: os Cardeais são os sacerdotes do Santo Padre. Aquela
comunidade, aquela amizade, aquela proximidade nos fará bem. E este
conhecimento e esta abertura mútua nos facilitaram a docilidade à ação do
Espírito Santo. Ele, o Paráclito, é o supremo protagonista de cada iniciativa e
manifestação de fé. É curioso: isso me faz pensar. O Paráclito faz todas as
diferenças nas Igrejas, e parece que seja um apóstolo de Babel. Mas por outro
lado, é Aquele que faz a unidade destas diferenças, não na “igualdade”, mas na
harmonia. Eu recordo aquele Padre da Igreja que o definia assim: “Ipse harmonia
est”. O Paráclito que dá a cada um de nós carismas diferentes, nos une nesta
comunidade de Igreja, que adora o Pai, o Filho e Ele, o Espírito Santo.
Propriamente partindo do autêntico afeto colegial que une o Colégio
Cardinalício, expresso a minha vontade de servir o Evangelho com renovado amor,
ajudando a Igreja a tornar-se sempre mais em Cristo e com Cristo, a videira
fecunda do Senhor. Estimulados também pela celebração do Ano da Fé, todos
juntos, Pastores e fiéis, nos esforcemos em responder fielmente à missão de
sempre: levar Jesus Cristo ao homem e conduzir o homem ao encontro com Jesus
Cristo, Caminho, Verdade e Vida, realmente presente na Igreja e contemporâneo
em cada homem. Tal encontro leva a transformar homens novos no mistério da
Graça, suscitando na alma aquela alegria cristã que constitui o cêntuplo doado
por Cristo a quem O acolhe na própria existência.
Como nos recordou tantas vezes em seus ensinamentos e, por último, com
este gesto corajoso e humilde, o Papa Bento XVI, é Cristo que guia a Igreja por
meio do seu Espírito. O Espírito Santo é a alma da Igreja com a sua força
vivificante e unificante: de muitos faz um corpo só, o Corpo místico de Cristo.
Não cedamos nunca ao pessimismo, àquela amargura que o diabo nos oferece a cada
dia; não cedamos ao pessimismo e ao desencorajamento: tenhamos a firme certeza
de que o Espírito Santo doa à Igreja, com o seu sopro poderoso, a coragem de
perseverar e também de procurar novos métodos de evangelização, para levar o
Evangelho até os extremos confins da terra (cfr At 1,8). A verdade cristã é
atraente e persuasiva porque responde à necessidade profunda da existência
humana, anunciando de maneira convincente que Cristo é o único Salvador de todo
o homem e de todos os homens. Este anúncio é válido hoje como o foi no anúncio
do cristianismo, quando se trabalhou a primeira grande expansão missionária do
Evangelho.
Queridos Irmãos, força! A metade de nós está em idade avançada: a
velhice é – parece-me dizer assim – a sede da sabedoria da vida. Os idosos têm
a sabedoria de ter caminhado na vida, como o velho Simeão, a velha Ana no
Templo. E propriamente aquela sabedoria fez-lhes reconhecer Jesus. Doemos esta
sabedoria aos jovens: como o bom vinho, que com os anos torna-se melhor, doemos
aos jovens a sabedoria da vida. Vem à minha mente aquilo que um poeta alemão
dizia sobre a velhice: “Es ist ruhig, das Alter, und fromm”: é o tempo da
tranquilidade e da oração. E também de dar aos jovens esta sabedoria. Vocês
voltarão para suas respectivas sedes para continuar o vosso ministério,
enriquecidos pela experiência destes dias, tão repletos de fé e de comunhão
eclesial. Tal experiência única e incomparável nos permitiu acolher em
profundidade toda a beleza da realidade eclesial, que é um reflexo do esplendor
de Cristo Ressuscitado: um dia olharemos para aquela face belíssima do Cristo
Ressuscitado!
À potente intercessão de Maria, nossa Mãe, Mãe da Igreja, confio o meu
ministério e o vosso ministério. Sob o seu olhar materno, cada um de nós possa
caminhar feliz e dócil à voz do seu Filho divino, reforçando a unidade,
perseverando concordemente na oração e testemunhando a genuína fé na presença
contínua do Senhor. Com estes sentimentos – são verdadeiros! – com estes
sentimentos, concedo-vos de coração a Benção Apostólica, que estendo aos vossos
colaboradores e às pessoas confiadas á vossa cúria pastoral.
Papa Francisco
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