Maravilhas do Mistério do Natal

Um dos maiores prazeres que sinto é o de sair para o sertão e, lá, de noite, contemplar o céu estrelado. É algo realmente encantador... São milhões e milhões de estrelas e astros... Quem será capaz de contá-los? E fico imaginando também a imensidão do espaço. Até aonde vai? Aonde termina? Se é que em algum lugar termina... As distâncias nem podem ser mais contadas em quilômetros, mas em anos-luz. O que é um ano luz? É a distância que um raio de luz percorre durante um ano numa velocidade de 300.000Km por segundo. E temos estrelas a 100.000 anos-luz de distancia daqui, e até muitíssimo mais!... Galáxias a milhões de anos-luz... Dizer que esse universo é imenso é muito pouco!... E o nosso “planeta terra” neste contexto? Proporcionalmente falando, não passa de um minúsculo grãozinho de pó. Menor ainda!... E sobre ele rastejam esses “micro-organismos” chamados seres humanos, que somos nós.

De repente, descobrindo-me tão pequeno no meio desta imensidão cósmica, lembro-me do Natal e levo como que um susto. Mas, no embalo deste susto, também mergulho numa contemplação que “me faz cócegas na alma”. Lembro-me que o Verbo eterno, criador de tudo isso, se faz pequenino, muito pequenino, micro-pequenino sobre este nosso chão pequeno. Aqui, por obra do espírito Santo, torna-se um embriãozinho humano no seio da Virgem Maria. Depois, após longos meses de carinhosa gestação, a criança vem à luz, frágil como toda criança, dependente dos cuidados da mãe. Alias, não teve nem mesmo um lugar para nascer. Foi nascer num estábulo, deitado sobre as palhas de uma manjedoura, entre o boi e o burro. Ei-lo: o Verbo criador deste universo infindo, feito mínimo do mínimo, micro-pequenino sobre este minúsculo planeta terra... É muita humildade! É amor demais por nó que, em nosso orgulho, nos rebelamos contra Ele.

O Verbo eterno de Deus criador, subsistindo na condição de Deus, se abaixa à condição de um simples ser humano, feito servo de todos e, desta maneira, vem nos resgatar a “cidadania” divina que havíamos perdido... O Verbo eterno se faz nosso irmão e, desta maneira, podemos agora sentir Deus como nosso “parente” mais próximo, ou seja, nosso Pai. Conseqüentemente, na qualidade de filhos e filhas de Deus, sentimo-nos também “parentes”, os mais próximos, uns dos outros, irmãos e irmãs, irmanando-nos todos na busca da paz. E então cantamos: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14).

Por isso a Igreja, na voz do ministro que preside a celebração litúrgica da festa de Natal, reza com alegria e confiança: “Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, daí-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade...”, e o povo todo responde com entusiasmo: “Amém”.

Depois, na Liturgia eucarística do mesmo dia, diante de Deus, nosso Pai santo, a Igreja também proclama: “Por ele, realiza-se hoje o maravilhoso encontro que nos dá vida nova em plenitude. No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos”.

Enfim, depois de participarmos neste dia da entrega maior de Jesus pela nossa salvação, isto é, depois de participarmos do seu mistério pascal na divina Eucaristia, depois que recebemos o seu corpo entregue e o seu sangue derramado, sob as espécies de pão e vinho, então a Igreja faz esta belíssima oração: “Ó Deus de misericórdia, que o Salvador do mundo hoje nascido, como nos fez nascer para a vida eterna, nos conceda também sua imortalidade. Por Cristo, nosso Senhor”. E todos respondem de novo com confiança renovada: “Amém!”.

Retirado do Livro Liturgia em Mutirão – Ed. CNBB

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