Liturgia: como uma casa

O sonho de toda família é ter sua casa: um lugar para morar, guardar suas coisas, ficar á vontade, brincar com os filhos, convidar os amigos... O sonho leva às vezes anos e anos para se realizar. As economias são poucas e tudo está muito caro. Pouco a pouco, os alicerces vão sendo colocados, as paredes vão subindo devagar, já dá para andar por cada um os cômodos, o vão das janelas e das portas estão aí aguardando o futura acabamento. Quando se terminou de colocar a laje... que vitória: já dá para morar... Só que para se ter uma ‘casa’ de verdade, não bastam o prédio: o alicerce, as paredes, portas e janelas, uma laje... Tudo isso é absolutamente necessário, porém, é também absolutamente insuficiente. Porque casa é lar! Casa é convívio, abrigo, amparo, aconchego, proteção, encontro, carinho, cuidado, comunhão... Só as paredes não bastam.

Liturgia é como uma casa. É absolutamente necessário cuidar da estrutura da celebração, de cada um de seus elementos: os ritos iniciais, a Liturgia da palavra, as leituras, o Salmo, a música, a Liturgia eucarística, os ritos finais o espaço litúrgico... É preciso escolher cuidadosamente os cantos de acordo com o tempo litúrgico e cada momento da celebração. É indispensável preparar bem as leituras, a homilia, as preces, escolher a oração eucarística com seu prefácio, pensar em alguma ação simbólica relacionada com o evangelho do dia ou com o tempo litúrgico. Cada ministério deve saber o que lhe cabe fazer e preparar sua parte.

No entanto, só isto não basta: ainda é absolutamente insuficiente. Porque Liturgia é para ser ‘lar’, encontro transformador com o Deus que nos acolhe em seu aconchego e renova nossa vida no encontro com ele, como renovou a vida de Abraão, de Moisés, de Elias, de Maria, de João batista, de Simão, Tiago, André, João, Maria Madalena, Lázaro, Marta e Maria, Paulo, Lydia e tantas outras pessoas... Para que isto aconteça, não basta uma Liturgia tecnicamente perfeita. Se não for capaz de nos arrancar de nossa mesmice, de iluminar os olhos de nosso coração para perceber a presença do Mistério em nossa vida, se não for capaz de criar convivência e calor humano, de fazer acontecer o encontro, a relação com Deus e entre nós aqui e agora... não há Liturgia de verdade. É casa-parede, mas não é ainda casa-lar onde se possa morar e se abrigar em tempos de felicidade, como em tempos de dúvidas, de incerteza, de desesperança, de rejeição, de desamor... Frieza, impessoalismo, indiferentismo, desinteresse... impedem que a Liturgia aconteça. Porque Liturgia é a celebração de aliança, de comunhão, é questão de se criar laços, conhecer pelo nome, reconciliar, interessar-se uns pelos outros, estar atento, cuidar...

Por isso, tanto na preparação como durante a celebração, cada momento deve vir entranhado de atitude orante, de carinhosa devoção, de mística intimidade com Deus.

Retirado do Livro Liturgia em Mutirão – Ed. CNBB

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