Olhou-me com dois olhos límpidos e penetrantes. Em seguida,
perguntou-me: “Quantas horas reza todos os dias?”. Fiquei surpreso com
semelhante pergunta e tentei defender-me, dizendo: “Madre, da senhora eu
esperava um incentivo à caridade, um convite a amar mais os pobres. Por que me pergunta
quantas horas rezo?”. Madre Teresa tomou minhas mãos e estreitou-as entre as
suas, quase para me transmitir o que tinha no coração; depois, confidenciou-me:
“Meu filho, sem Deus somos demasiado pobres para ajudar os pobres. Lembre-se:
eu sou apenas uma pobre mulher que reza. Rezando, Deus coloca o Seu amor em meu
coração, e assim posso amar os pobres. Rezando!”
Nunca mais esqueci esse encontro: o segredo de Madre Teresa está todo
aqui. Voltamos a nos ver muitas outras vezes, mas constatei que toda ação e
toda decisão de Madre Teresa são maravilhosamente coerentes com essa convicção
de fé: “Rezando, Deus coloca o Seu amor em meu coração”.
Retornando de Oslo, Madre Teresa fez escala em Roma. Vários jornalistas
se aglomeraram no pátio externo da pobre moradia das Missionárias da Caridade,
sobre o Monte Celio. Ela não evitou os jornalistas, mas os acolheu como filhos,
colocando na mão de cada um uma medalha da Imaculada. Os jornalistas foram
generosos em fotos e perguntas. Uma das perguntas foi um tanto marota: “Madre,
a senhora está com setenta anos! Quando morrer, o mundo será como antes. O que
mudou depois de tanto trabalho?”. Madre Teresa poderia ter reagido com um pouco
de santo desdém, mas, ao contrário, esboçou um sorriso luminoso, como se lhe houvessem
dado um beijo afetuosíssimo, e acrescentou: “Vejam, eu nunca pensei em poder
mudar o mundo! Procurei apenas ser uma gota de água limpa, na qual pudesse
brilhar o amor de Deus. Isso lhes parece pouco?”
O jornalista não conseguiu responder, ao passo que, em volta da Madre
estabeleceu-se o silêncio da acolhida e da emoção. Madre Teresa retomou a
palavra, dirigindo-se ao jornalista “descarado”: “Procure ser também o senhor
uma gota de água limpa; assim, seremos dois. É casado?”. “Sim, Madre”,
respondeu. “Diga-o também a sua mulher, e assim seremos três. Tem filhos?”.
“Três filhos, Madre”, respondeu novamente. “Diga-o também a seus filhos, e
assim seremos seis”.
De Massa Marítima fomos à ilha de Elba, de helicóptero, para um segundo
encontro de oração. Durante o trajeto, indicava a Madre Teresa as várias
localidades da Etrúria, enquanto ela enviava a cada uma delas o presente de uma
Ave-Maria. Em dado momento, um homem, que nos acompanhava no voo, caiu de
joelhos a meu lado e disse-me com voz trêmula: “Padre, eu não sei o que está me
acontecendo! Mas parece-me que Deus, o próprio Deus, está me olhando por meio
do olhar daquela senhora”.
Transmiti as palavras imediatamente à Madre, tão logo foram ouvidas. E
ela, com tranquilidade desarmante, comentou: Diga a ele que Deus o está olhando
há muito tempo, era ele que não percebia! Deus é amor!”. E, dirigindo-se ao
homem, apertou-lhe a mão com afeto e entregou-lhe algumas medalhinhas de Nossa
Senhora. Pareciam beijos, que continham o perfume do amor de Deus. Madre Teresa
era assim: simples, humilde, límpida, evangelicamente transparente.
Mons. Angelo Comastri
Bispo de Loreto, na época do encontro com Madre Teresa
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