A 1ª Leitura de hoje antecipa o tema da ressurreição, proposto por Jesus
no Evangelho. Escutamos esta célebre e dramática narração, a qual ressalta a
coragem de uma família judaica durante as perseguições do rei grego Antíoco IV
Epifânio, por volta do ano 167 a.C. Uma mãe e seus sete filhos recusam-se
decididamente a comer carne de porco, proibida pela lei. Antes de violar a lei,
enfrentam a morte, professando com firmeza a fé na ressurreição dos mortos.
Na 2ª Carta aos Tessalonicenses, depois da parte dedicada à catequese
sobre a vinda do dia do Senhor, encontramos uma série de exortação de Paulo,
introduzidas por uma oração. O Apóstolo propõe como meta a “consolação eterna”
e saliente que, através da virtude do amor e do empenho da comunidade, lá
chegaremos um dia. Apesar das dificuldades Paulo apóia-se na fidelidade do
Senhor, que nos confirma e guarda do maligno.
Em Jerusalém, Jesus entra em conflito com vários grupos representativos
do povo judaico. O texto para este domingo revela a conflituosidade de Jesus
com os saduceus, classe aristocrática dos sacerdotes. Eles constituíam um
partido influente na época, composto pelos chefes dos sacerdotes e pelos nobres
anciãos da sociedade. Era a maioria do Sinédrio. Detinham o poder político,
econômico e religioso como fiéis colaboradores do império romano que ocupava o
país.
No interior da trama social do
judaísmo, eram os porta-vozes das grandes famílias ricas, que vivam e
desfrutavam dos copiosos donativos dos peregrinos e do produto dos sacrifícios
oferecidos no templo. Arraigados à lei de Moisés, representavam a velha
sociedade excludente, a quem Jesus critica com sua pregação.
Os saduceus negavam a ressurreição dos mortos. Para eles a vida era um
estágio no tempo. Tudo terminava nesta vida. Como materialistas, mais do que
elucidar a realidade da vida além da morte, inventando um caso fictício de uma
mulher, queriam ridicularizar o ensinamento de Jesus sobre a vida eterna e seu
prestigio junto do povo.
Os saduceus apresentam a Jesus uma questão que até aprece uma anedota.
Envolvia a lei judaica do levirato, ou seja, do cunhado (cf. Dt 25, 5-10).
“Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se alguém tiver um irmão casado e este
morrer sem filhos, deve casar-se com a mulher para dar descendência ao irmão’”
(Lc 20,28).
A lei do levirato, implantada por Esdras e seus sacerdotes e escribas,
na época do pós-exílio, previa que toda mulher casada que ficasse viúva sem
filhos passasse a ser esposa de seu cunhado mais velho e/ou do parente mais
próximo, a fim de que o falecido pudesse dar à esposa descendência. Mais do que
descendência, a preocupação recaía sobre os bens. Ocorre que a mulher era
comprada da casa de seus pais e passava a ser propriedade do marido ou da
família deste. E se ela, como viúva, se casasse com um homem fora da parentela
do falecido, os bens investidos no casamento passariam para outros.
Jesus, percebendo a malícia dos interlocutores aristocratas e
conservadores, não se atém à lei do levirato e responde enfaticamente que, na
outra vida, as realidade serão diferentes. Casamento, descendência, bens e
herança são preocupações e questões desta vida e não da eternidade (v.33-34).
Lá não haverá marido ou mulher nem herança para ser discutida.
O futuro não será uma reprodução de nossa sociedade. “Neste mundo,
homens e mulheres casam-se, mas o que forem julgados dignos de participar do
mundo futuro [...] serão iguais aos anjos” (v.34-36). Estes vivem a vida em
outra dimensão, isto é, na plenitude. A ressurreição não é um regresso à
condição terrena, mas uma autêntica vida nova.
Aos saduceus que rejeitam a ressurreição, Jesus mostra que ela se fundamenta
na própria revelação de Deus que se deu a conhecer como o “Deus não de mortos,
mas de vivos, pois todos vivem para ele” (v.38). Mostra que o Deus do Antigo
Testamento, o Deus do Êxodo (cf. Ex 3,1ss) é o Deus da vida, da libertação e da
esperança. Não é um Deus que vai em busca de coisas mortas. Ele quer a vida e é
na vida e no tempo que ele se comunica e se deixa encontrar.
Diocese de Limeira
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