32º Domingo do Tempo Comum

A 1ª Leitura de hoje antecipa o tema da ressurreição, proposto por Jesus no Evangelho. Escutamos esta célebre e dramática narração, a qual ressalta a coragem de uma família judaica durante as perseguições do rei grego Antíoco IV Epifânio, por volta do ano 167 a.C. Uma mãe e seus sete filhos recusam-se decididamente a comer carne de porco, proibida pela lei. Antes de violar a lei, enfrentam a morte, professando com firmeza a fé na ressurreição dos mortos.

Na 2ª Carta aos Tessalonicenses, depois da parte dedicada à catequese sobre a vinda do dia do Senhor, encontramos uma série de exortação de Paulo, introduzidas por uma oração. O Apóstolo propõe como meta a “consolação eterna” e saliente que, através da virtude do amor e do empenho da comunidade, lá chegaremos um dia. Apesar das dificuldades Paulo apóia-se na fidelidade do Senhor, que nos confirma e guarda do maligno.

Em Jerusalém, Jesus entra em conflito com vários grupos representativos do povo judaico. O texto para este domingo revela a conflituosidade de Jesus com os saduceus, classe aristocrática dos sacerdotes. Eles constituíam um partido influente na época, composto pelos chefes dos sacerdotes e pelos nobres anciãos da sociedade. Era a maioria do Sinédrio. Detinham o poder político, econômico e religioso como fiéis colaboradores do império romano que ocupava o país.

 No interior da trama social do judaísmo, eram os porta-vozes das grandes famílias ricas, que vivam e desfrutavam dos copiosos donativos dos peregrinos e do produto dos sacrifícios oferecidos no templo. Arraigados à lei de Moisés, representavam a velha sociedade excludente, a quem Jesus critica com sua pregação.

Os saduceus negavam a ressurreição dos mortos. Para eles a vida era um estágio no tempo. Tudo terminava nesta vida. Como materialistas, mais do que elucidar a realidade da vida além da morte, inventando um caso fictício de uma mulher, queriam ridicularizar o ensinamento de Jesus sobre a vida eterna e seu prestigio junto do povo.

Os saduceus apresentam a Jesus uma questão que até aprece uma anedota. Envolvia a lei judaica do levirato, ou seja, do cunhado (cf. Dt 25, 5-10). “Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a mulher para dar descendência ao irmão’” (Lc 20,28).

A lei do levirato, implantada por Esdras e seus sacerdotes e escribas, na época do pós-exílio, previa que toda mulher casada que ficasse viúva sem filhos passasse a ser esposa de seu cunhado mais velho e/ou do parente mais próximo, a fim de que o falecido pudesse dar à esposa descendência. Mais do que descendência, a preocupação recaía sobre os bens. Ocorre que a mulher era comprada da casa de seus pais e passava a ser propriedade do marido ou da família deste. E se ela, como viúva, se casasse com um homem fora da parentela do falecido, os bens investidos no casamento passariam para outros.

Jesus, percebendo a malícia dos interlocutores aristocratas e conservadores, não se atém à lei do levirato e responde enfaticamente que, na outra vida, as realidade serão diferentes. Casamento, descendência, bens e herança são preocupações e questões desta vida e não da eternidade (v.33-34). Lá não haverá marido ou mulher nem herança para ser discutida.

O futuro não será uma reprodução de nossa sociedade. “Neste mundo, homens e mulheres casam-se, mas o que forem julgados dignos de participar do mundo futuro [...] serão iguais aos anjos” (v.34-36). Estes vivem a vida em outra dimensão, isto é, na plenitude. A ressurreição não é um regresso à condição terrena, mas uma autêntica vida nova.

Aos saduceus que rejeitam a ressurreição, Jesus mostra que ela se fundamenta na própria revelação de Deus que se deu a conhecer como o “Deus não de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele” (v.38). Mostra que o Deus do Antigo Testamento, o Deus do Êxodo (cf. Ex 3,1ss) é o Deus da vida, da libertação e da esperança. Não é um Deus que vai em busca de coisas mortas. Ele quer a vida e é na vida e no tempo que ele se comunica e se deixa encontrar.


Diocese de Limeira

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