A felicidade completa

“Senhor, nosso Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa servindo a vós, o Criador de todas as coisas”. Assim começa a liturgia da Igreja no trigésimo terceiro domingo do tempo comum, celebrado neste final de semana. Em palavras tão concisas, vem à tona a concepção da felicidade contida na mensagem que o Cristianismo oferece a todas as gerações, especialmente adequada ao tempo em que vivemos, tão rico de capacidades técnicas e científicas, aliadas ao risco que o uso do poder, hoje como ontem, significa para o ser humano.

Optar pelo serviço a Deus, acima de qualquer coisa, é proposta ousada, cuja fonte só pode ser o salto da fé, pois quem a aceita caminhará pela vida como se visse o invisível (Cf. Hb 11, 1-40). Esta escolha condicionará as decisões a ser tomadas no dia a dia, orientando-as por valores que significam nadar contra a correnteza, mesmo sabendo que, muitas vezes, contravalores são oferecidos como uma verdadeira avalanche. Uma mãe de família, refletindo sobre a educação dos filhos, observou, com expressão muito forte, ser “concorrência desleal” o que os filhos recebem fora do âmbito familiar. Suas armas serão a palavra e o exemplo, aliadas à intensa oração, na certeza de que o bem que foi plantado na família florescerá.

Servir a Deus significa, no miúdo da vida diária, fazer a Sua vontade, que se expressa de modo bem concreto no amor ao próximo. O cristão poderá ser feliz e melhorar o mundo se abrir bem os olhos sem deixar ninguém passar em vão ao seu lado. Pode ajudar concretamente com gestos, bens, iniciativas, criatividade? Que ele dê o primeiro passo. Pode dar sua opinião? Comece pela visão do bem existente em torno de si. Deve criticar? Faça-o com respeito, sem julgar intenções preparando-se para a bonita surpresa que Deus lhe prepara, quando descobrir o bem escondido existente nas pessoas ou situações analisadas. Cabe-lhe um espaço de decisão na sociedade, na política, na Igreja? Ocupe-o com competência, humildade e dedicação, fazendo frutificar o bem em todas as partes, sensível ao bem comum. Encerraram-se seu tempo e possibilidades de exercer uma atividade? Não tenha receio de dizer “fiz o que devia fazer” (Cf. Lc 17, 10) e abrir-se para novos desafios, sem apegos! Os desdobramentos da escolha do serviço a Deus se multiplicam e o Espírito Santo sugerirá outros passos a serem dados. Basta a docilidade!

Nossa alegria consista em servir a Deus de todo o coração! A alegria não se confunde nem se esgota na satisfação superficial e nem mesmo no prazer. É mais belo o rosto franzido de alguém que trabalhou e se cansou com um dia inteiro de trabalho ou um rosto suado do que o olhar da pessoa preguiçosa. O livro dos Provérbios (12, 14-28) já constatava: “Cada um se fartará de bens segundo as suas palavras, e em proporção a seu trabalho receberá a recompensa. O proceder do insensato é reto aos seus olhos, mas quem é sábio atende aos conselhos. O tolo demonstra logo a sua raiva, enquanto o esperto dissimula a ofensa. Quem profere a verdade manifesta a justiça; a testemunha mentirosa sustenta a falsidade. Falastrão falando dá golpe de espada, a língua dos sábios produz a cura. Quem diz a verdade permanece para sempre, a língua mentirosa não vai longe. É falso o coração dos que tramam o mal; aos que promovem a paz, porém, acompanha-os a alegria. Nenhuma desgraça sobrevirá ao justo, mas os ímpios serão repletos de males. São uma abominação para o Senhor os lábios mentirosos; os que agem fielmente, porém, lhe agradam.

A pessoa hábil esconde o conhecimento, enquanto o coração dos tolos solta besteiras. A mão dos que se esforçam chega ao poder; a dos preguiçosos, porém, acaba na escravidão. A aflição no coração deprime a pessoa, mas uma palavra de animação lhe traz alegria. O justo conduz o amigo para a retidão, enquanto o caminho dos maus os desorienta. O preguiçoso nem sequer cozinha a sua caça; quem é esforçado, porém, adquire uma fortuna valiosa. Na senda da justiça está a vida, enquanto a estrada larga conduz à morte”.

Felicidade completa só virá no serviço a Deus, Criador de todas as coisas, doador e provedor de todos os talentos. “Servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar de minha alegria” (Mt 25, 21).

Dom Alberto Taveira Corrêa
Retirado do Blog da Cancao Nova

Um comentário:

Anônimo disse...

"...Vem participar de minha alegria". Existe convite mais perfeito, completo e sincero? Claro que NÃO. E negamos a nossa presença, sei que por maior que seja o motivo, não se justifica. Nem que seja por ter vergonha de ser um(a) incompetente. Como é importante passar para o outro o sentimento de AMOR ao próximo e que TODOS são importantes em nossa vida. Quase sempre não consigo... Vocês são privilegiados perante uma linda escolha a DEUS e da melhor forma que é levando ao povo a palavra de VIDA. Nunca deixem de falar claramente nas homilias, porque um dia DEUS me provou como eu não sou nada nessa vida e é porque eu sempre aprendi desde pequena e fui educada a SER alguém para seguir aos SEUS PASSOS. Conhecendo o ritmo de vida do meu dia a dia, dentro do meu limite de oportunidades ou mesmo de capacidade, DEUS sempre me guia.
Obrigada por ter iluminado um novo caminho em minha vida.
Fico, de longe, torcendo de verdade(com amor e carinho) que a cada dia seja melhor em todos os aspectos do que o dia anterior.(Vale para os dois Pe. Ivan e Pe. Dácio)