“O sábado está localizado entre a sexta-feira e o domingo, entre a memória da paixão e a da ressurreição. Maria o preenche, porque nesse dia, o Sábado Santo, toda a fé da Igreja está recolhida nela. Em seu grande coração recolhia-se toda a vida do corpo místico, do qual, sob a cruz, ela fora chamada a ser a mãe espiritual. Enquanto a fé se escurecia em todos, ela, a primeira alma fiel, permaneceu sozinha mantendo viva a chama, imóvel na escuridão da fé. Mais uma vez, a Igreja se identificou com ela. Mais do que Francisco, naquele dia ela carregou em seus ombros todo o edifício da Igreja. É essa a razão pela qual o Sábado torna-se o dia de Nossa Senhora”(A. Bergamini).
“Um grande silêncio reina hoje na terra; um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar os que dormiam desde séculos… Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, como uma ovelha perdida”. Deus se ausenta e silencia, mas vai ao “sheol” ressuscitar os mortos, os justos, os que morreram na sua vontade. Para nós que cremos, quando vivemos a crise, a prova e a aparente ausência de Deus, na verdade, ele está a nos salvar de nós mesmos e de nossos pecados. Desce Deus aos nossos sepulcros para aí ressuscitar o que em nós está morto. Assim constatamos que também os nossos sofrimentos, como os próprios acontecimentos da nossa história não são uma tragédia, por mais incompreensíveis que sejam. Passado a prova vemos as marcas do amor e da ressurreição de Cristo. O mundo em que vivemos não quer “um Cristo com uma cruz”, mas apenas um “Cristo em quem se pode crer conforme as circunstâncias”. No filme Paixão de Cristo – nos lembrava Dom José Antônio, arcebispo de Fortaleza – são comoventes as palavras colocadas na boca de Jesus quando, em meio aos sofrimentos e dores, diz a ela: “Mãe, é assim que faço novas todas as coisas!” Eis a vitória no aparente fracasso. A última palavra não é a da morte, mas a da vida, da ressurreição e da misericórdia.
Neste dia de silêncio a Igreja não pode esquecer que a Sexta-feira Santa e o Sábado Santo constituíram a crise mais forte da fé e da esperança dos apóstolos. Diante da cruz, houve um desabamento de fé e de esperança: “Nós esperávamos que fosse ele o libertador de Israel” (cf. Lc 24,1ss). Nesses dois dias, apenas uma criatura, a mais próxima do Senhor, Maria, sua mãe, acreditou e esperou. Quando o Senhor desce à mansão dos mortos no Sábado Santo, vivemos o silêncio na terra. Pode nos parecer que estamos sozinhos, abandonados, que nosso Deus morreu para sempre, e que foi deitado também para a corrupção. Mas Não! Não estamos no vazio, na tristeza, na solidão interminável. O próprio Senhor disse aos discípulos: “Por um breve momento vocês ficarão tristes, não mais me verão, mas logo eu vos verei de novo! E esta alegria ninguém pode roubar de vós” (cf. Jo 16,16-22).
A cruz de Cristo transformou a maldição do sofrimento e do abandono em vitória e redenção. A cruz, símbolo da ignomínia, transformou-se em árvore da vida! Isto foi antecipado na vida de Nossa senhora pelos méritos do próprio Cristo. Ela nos foi dada como Mãe e nós a ela, como filhos (cf. Jo 19,26). É Maria que nos ensina a viver este dia, cheios de esperança no Senhor que vence a morte e ressuscita. “Na escuridão do Sábado Santo, a fé era para Maria, certeza de esperança e força para caminhar para a manhã da Páscoa” (Bento XVI, Spe Salvi, 50).
Aprendemos com Maria que a ausência e o silêncio de Deus são preenchidos de fé, ternura e esperança na ressurreição. O mundo vive um “sábado contínuo”. O “Deus” dos que saíram da esperança da fé, morreu como um fracassado para sempre. Não é isto o que constitui o “niilismo moderno ou o existencialismo ateu?” O filósofo Nietsche quis transformar o “Sábado Santo da esperança” no “sábado da desesperança”. O norte da vida é apenas o “Pensar e o produzir”, o “comer e beber”, isto nos basta hoje. Amanhã morreremos! Afinal de contas, “Deus está morto!”. O que eles não sabem e não experimentaram é que não se entende o mistério do Sábado Santo pelo fazer ou saber, ou pelas alocubrações do pensamento, mas pela memória, pela gratidão, pela oração, fé e esperança. A fé é a resposta do homem ao silêncio de Deus. Unidos à Santíssima Virgem Maria, escutamos o Senhor nos dizer neste dia, ao entrar na nossa sepultura, o mesmo que disse a Adão quando desce para ir buscá-lo na mansão dos mortos: “Eu sou teu Deus, e por causa de ti me tornei teu filho. Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do inferno. Levanta-te dentre os mortos, eu sou a vida dos mortos”(CIC 635).
“A Igreja no mundo vive a sua paixão, prolongando a de Cristo, e não afrouxa o seu cotidiano, sofrido caminho ao encontro do Senhor. Então, a sexta-feira se transforma em sábado, e sábado de Maria, fermentado pela expectativa da ressurreição. Com ela, a alegria de viver e a coragem de esperar são reencontradas. (…) No mundo desorientado, ela é a estrela” (A. Bergamini). Mãe, quis o Senhor fazer novas todas as coisas através da oferta do Seu Filho, Jesus Cristo. Tu estavas nos seus maravilhosos desígnios, para com os quais não voltaste atrás. Tua fidelidade na alegria, na prova e na dor, através de uma fé inabalável, foi canal da nossa salvação, da incomparável obra nova nas nossas vidas. Ajuda-nos a viver e a proclamar essa feliz verdade ao coração do homem, especialmente neste “dia de Sábado” que, é tristeza e morte para muitos, mas esperança de vida ressuscitada para quem permanece nas promessas do Senhor.
Antonio Marcos
Retirado do Site da Comunidade Shalom
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