5º Domingo da Quaresma - Domingo da ressurreição de Lázaro

João estruturou de tal forma o seu evangelho que a narração da ressurreição de Lázaro ocupa o lugar do sétimo e último sinal onde Jesus manifesta a glória de Deus e realiza sua missão de dar vida ao mundo. As cenas estão cheias de alusões a esta passagem: dia e noite, luz do dia e luz da fé, dormir e morrer, vida e morte. O uso da frase “eu sou”, lembrando a revelação de Deus a Moisés na sarça ardente, expressa que, neste gesto de restituir a vida aos que são seus, Jesus torna-se a nova revelação do amor de Deus ao seu povo. Ao mesmo tempo, a ressurreição de Lázaro prefigura a ressurreição de Jesus. Note-se, por exemplo, o simbolismo dos panos e dos três dias. Paradoxalmente, este episódio da ressurreição de Lázaro torna-se o pretexto da morte de Jesus, tornando-se, assim, a introdução narrativa da sua paixão. O texto alcança o seu ponto alto, tal como nas narrativas da samaritana e do cego de nascença, na profissão de fé. É Marta quem se faz porta-voz de toda a comunidade dos fiéis ao proclamar: "Sim, Senhor, eu creio que és o Messias, aquele que devia vir ao mundo".

A ressurreição de Lázaro é parábola do caminho catecumenal e, consequentemente, da vida do discípulo(a), chamado(a) a passar do medo da morte para a liberdade de filho e filha de Deus. Não se trata apenas de um caminho intelectual ou de uma crença, mas de uma passagem total e de uma mudança de condição. A vida do batizado implica rupturas e mudanças radicais com determinadas práticas de vida, ao mesmo tempo em que ele é inserido numa nova comunidade de vida. A figura de Lázaro, preso dentro do sepulcro e amarrado em faixas, torna-se, assim, o protótipo do discípulo que, ao chamado de Jesus, precisa sair do seu mundo - e o sepulcro é uma imagem muito forte disto - para ganhar a vida. Neste processo, intervêm dois atores fundamentais. Em primeiro lugar, é claro, o próprio Cristo, que age e intercede junto do Pai e que, ao seu chamado, traz o morto para a vida. Mas também a comunidade, que avisa o Senhor do acontecido, que professa sua fé e que, por fim, desamarra o próprio Lázaro. Este último gesto é sinal da ação comunitária que contribui na caminhada de conversão e mudança dos seus membros.

Esta passagem da morte à vida - e Jesus é bem claro ao responder a Marta, que sua promessa de ressurreição é para hoje - se cumpre no aqui e no agora da vida da comunidade reunida na liturgia. A ressurreição e a vida não são apenas esperanças que portamos para o futuro, mas realidades que atuam em nossas vidas e relações, das quais participamos desde agora. A celebração deste quinto domingo da quaresma, onde, por antiga tradição, se procede à última purificação daqueles que receberão os sacramentos da iniciação na páscoa, é ela mesma um sinal desta ação de Jesus que intercede ao Pai e nos chama à vida. Ao mesmo tempo, a comunidade dos crentes, retomando a profissão de fé de Marta, torna-se também ela um sinal sacramental da ressurreição de Jesus, preparando-se, todavia, para celebrar a paixão do Senhor.

A 1ª leitura mostra que o povo exilado na Babilônia encontra-se numa situação de morte, sem esperança de vida, como ossos secos na sepultura. Mas, Ezequiel anuncia que a ação de Deus se manifestará através do Espírito, fazendo o povo sair das sepulturas, do exílio para se estabelecer em sua terra. Na 2ª leitura, a comunhão com Cristo morto e ressuscitado nos possibilita viver segundo o Espírito, que habita em nós de forma renovada pela justiça.

Retirado da Revista de Liturgia

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