Maldito o homem que confia em outro homem!

Num primeiro momento, esta passagem de Jeremias 17, 5a parece um apelo à desconfiança mútua e um lema a não amizade entre os homens, mas não é bem assim. Na verdade, é o maior hino da amizade possível. Mas como?

Continuemos com a passagem:"Maldito o homem que confia em outro homem, que da carne faz seu apoio e cujo coração vive distante de Deus" (Jer 17, 5) Ora, talvez agora as coisas tornem-se claras. O problema não está nos homens, uma vez que Deus a tudo criou e tudo que fez é bom (Gn 1, 10b, 18, 21b, 31a), como também nos ensia Agostinho no Livro VII das Confissões: sendo Deus bom, como pode o mal provir Dele? Assim, a continuação da passagem esclarece que o problema está no fato de elegermos o homem como "apoio" e não Deus.

A verdadeira amizade é regada no Amor de Deus, que é fonte de toda sorte de bençãos e graças. Ora, se os amigos são uma benção, devem sê-lo por emanarem de Deus e não porque nós assim o que quisemos. Não é nossa eleição que defina a bondade no coração do homem, mas a escolha pelo autor de toda bondade. Deste modo, quando Jeremias amaldiçoa os homens que confiam em outros homens, ele está amaldiçoando aqueles que por si mesmos são autosuficientes e cheios de si, esquecendo que é Deus o rochedo seguro: É inútil vigiar ou guardar a casa se não for o Senhor a sentinela (Salmo 126). A benção episcopal começa com a seguinte invocação: A nossa proteção está no Nome do Senhor! Que fez o Céu e a Terra! e assim deve ser! Os homens confiam nos homens quando reconhecem neles o espelho de Deus, mas nunca põe na carne seu apoio, pois assim ficarão com o coração longe de Deus. Por isso, essa frase de Jeremias elogia os verdadeiros amigos que sabem que na amizade o sustentáculo legítimo e verdadeiro é Deus, uma vez que o que une os corações amantes - já que os amigos se amam - é o único e verdadeiro Amor, Deus.

Deus é o selo, a aliança, a força, o apoio, o amparo, o alento em meio a desilusão dos homens. Se eles falham, Quem nos sustenta nunca falha, logo, a amizade não se arruina, mas reforçasse no Amor de Deus e vence as limitações. O verdadeiro amor de amigo nada espera e tudo suporta - como canta São Paulo em I Cor 13 -, espera e, mais do que isso, tudo dá sem nada esperar. A espera na retribuição gera desalento e mostra que ainda colocamos nos homens nossa confiança. Se amamos como Deus, tudo doamos em entrega total e esperamos de Deus o verdadeiro "prêmio", que é estar junto Dele, junto com quem amamos - nossos amigos.

Maldito o homem que põe em outro homem sua confiança, pois será feliz aquele que a todos ama em Deus, sem nada esperar. Isso pode parecer forte e até louco, mas Deus merece nosso amor mesmo que Ele não fizesse nada em troca. Pense nisso. Espero que você possa caminhar na vida cristã até os cumes do verdadeiro amor que TUDO SUPORTA, TUDO ESPERA E TUDO DOA!!! SEJAMOS VERDADEIROS AMIGOS!

"Amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e chega ao conhecimento perfeito, pois quem ama, conhece a Deus!" I Jo 4, 7-8

Luis Felipe
Retirado do Site do Santuário São Francisco de Assis - DF

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