Final da Santa Quaresma. E os frutos?

Na caminhada cristã, é sempre de fundamental importância a revisão de vida, pelo chamado exame de consciência. Como se procede nas atividades comerciais, devemos recorrer ao “balanço” espiritual, para à averiguação dos lucros ou prejuízos. Ao final de mais uma Santa Quaresma, igualmente muito oportuno examinarmo-nos quanto à nossa conduta, no decorrer de todo este período tão marcante em nossa vida cristã.

No tempo quaresmal, a Santa Igreja assim nos convida a oração: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não fecheis o vossos corações”. São palavras do salmo 94, onde o salmista nos desperta para a fiel acolhida à Graça Divina, sem jamais incorrermos na censura do Senhor: “Eis um povo extraviado, seu coração não conheceu os meus caminhos” (Sl 94). Na preparação para a Semana Santa, o mistério da cruz do calvário se destaca com o brilho fascinante do amor infinito de Jesus, e como força motivadora para os frutos a ser colhidos no progresso espiritual. Disse-nos o Mestre: “Se Eu for erguido da terra, atrairei tudo para Mim” (Jo 12,32). Com o olhar do coração dirigido para o Divino Crucificado, o esforço da conversão é superado mais facilmente, não obstante a renúncia heróica à nossa vontade rebelde. Através do profeta Joel, o Senhor Deus nos admoesta: “Voltai para Mim, com todo vosso coração: rasgai o coração com o arrependimento, e voltai para o Senhor vosso Deus” (Jl 2, 12-13). Este é o critério para avaliarmos os verdadeiros frutos a serem colhidos pela resposta de amor ao Deus que nos amou primeiro: perseverarmos com mais constância, a contemplar, com o máximo enlevo, a deslumbrante misericórdia de Jesus, sacrificado no calvário pelos pecados de toda a humanidade.

Do alto da cruz, Jesus parece repetir-nos o desabafo amargurado do profeta Jeremias: “Ó vós todos que passais pelo caminho, considerai e vede se existe dor semelhante à minha”. Sob pena de nos deixarmos levar por injustificável ingratidão, jamais nos esqueceremos do titulo de Jesus, em razão dos acerbos sofrimentos pela redenção de todos: “O homem das dores”. Assim compreendemos o edificante exemplo dos santos a aprender no livro da cruz a fiel resposta de gratidão ao Senhor Deus, extasiados perante a maior prova de amor. Com muita razão se afirma não podermos atestar o verdadeiro amor a Deus, se conosco não trouxermos a disponibilidade para suportar toda a cruz e sacrifício, na busca de total conformidade com agrado da vontade divina. A Santa Quaresma foi o tempo de graças a se derramar sobre nós com tanta profusão. Não as recebamos sem os frutos espirituais de autêntica mudança de vida, como prova efetiva de terno reconhecimento perante as graças de redenção proveniente da cruz bendita do Santíssimo Salvador.

Dom Roberto Gomes Guimarães
Bispo Diocesano de Campos
Retirado do Site da Comunidade Shalom

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