As diferentes narrativas da crucifixão de Nosso Senhor que nos são oferecidas pelos evangelhos, revelam igualmente diferentes nuances dessa trama impressionante. Lucas (23, 46) e Marcos (15, 37) destacam o grito triunfal de Cristo perante a morte. O evangelista João (19, 25-26), por sua vez, esclarece que ao pé da cruz estavam Nossa Senhora, Maria de Cléofas, Maria Madalena e o “o discípulo que Jesus amava”.
Mas é através de São Mateus (27, 45-50) que podemos perceber algo normalmente olvidado pelos comentaristas da Paixão: um personagem. Um personagem que, nas narrativas sinóticas, embora não omitido, encontra-se camuflado, quase imperceptível. Ele chega a ser confundido com um malfeitor, quando na verdade faz um gesto de consolação.
Como os outros evangelistas, Mateus indica que, por ocasião da crucifixão de Jesus, houve trevas em Jerusalém do meio dia até as três horas da tarde. Naquelas circunstâncias, era normal que a multidão se dispersasse, deixando os arredores do Calvário numa sombria calma. Ali permaneceram apenas os que tinham algum interesse no caso, como os soldados romanos, obrigados a guardar o condenado e certificar-se de sua morte.
Jesus exprimiu sua imensa dor interior mediante um grito: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”. Para mim, esta é a fala de Jesus na cruz que melhor descreve o seu sentimento. Neste momento, “alguns dos que tinham ficado ali” comentaram entre si sobre o significado daquelas palavras, concluindo que Jesus chamava pelo profeta Elias.
Mas um deles, num gesto incontido, “imediatamente saiu correndo, pegou uma esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa vara, dava-lhe de beber” (v. 48). Ao contrário do que os outros evangelistas dão a entender, Mateus posta a atitude desse desconhecido como um gesto de compaixão. De fato, esse “vinagre” era uma bebida levemente ácida de que usavam os soldados romanos. “Dava-lhe de beber”, neste caso, não tem a intenção de aumentar o sofrimento, mas de aliviar a dor de Jesus. Isso fica mais evidente pela reação dos soldados: “Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo” (v. 49). E como se reprovassem a atitude daquele homem.
Sim, havia mais alguém ao pé da cruz além de João, Maria e as outras mulheres. Um personagem anônimo que, ao ouvir o grito de Jesus, não ficou especulando sobre o seu significado, mas num ímpeto de compaixão, “saiu correndo” para agir com amor. Sim, havia mais alguém ao pé da cruz. Alguém que não se conteve em si. Ele como que abre um espaço na cena da crucifixão, para que ali se fixem todos os que querem consolar o Senhor e reparar a indiferença e a ingratidão dos homens.
Nas celebrações que atualizam a redenção, quero permanecer como ele. Encontrar um lugarzinho, ainda que escuro e sombrio, de onde possa estar atento às divinas queixas de Jesus e aliviar sua sede de salvar almas.
Ronaldo José de Sousa
Retirado do Site da Comunidade Shalom
Um comentário:
Quem não veio, lamentamos a sua ausência, principalmente, Ele, o Autor de Tudo! que é AMOR E PERDÃO!!! Porque vivenciamos fortes emoções!
Paixão de Cristo! vivenciada com todas as letras à luz do Evangelho, no Santuário de N. Sra de Fátima, desde 4@ Feira, com Noite da Reconciliação, Missa da Ceia do Senhor, Transladação do Santíssimo, Via Sacra com(Dramtização Teatral Grupo de Jovens), Paixão do Senhor, Procissão do Senhor Morto...Foi um dia de fortes emoções mesmo!!!... E HOJE, às 9h, As Sete Dores de Nossa Senhora e às 19h Vigília Pascal.
Uma Feliz e Abençoada PÀSCOA a todos!!!
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