O capítulo 62 do
profeta Isaías faz parte do que se convencionou chamar, na exegese,
trito-Isaías. Escrito no período pós-exílico, o texto apresenta a cidade como
esposa, depositária de uma promessa de salvação.
O evangelho de João
deste domingo está situado na parte do quarto evangelho denominada "livro
dos sinais". O nosso relato é, no dizer do narrador, o
"princípio" dos sinais, o que nos leva a compreender que o sinal de
Caná é um evento fundador. Trata-se de uma narração simbólica: ela torna
presente algo diferente do que é imediatamente dito e que lhe serve de
expressão. Aqui, o símbolo é mais importante que a materialidade dos fatos.
O tema geral é o
cumprimento por Jesus da promessa do Antigo Testamento de abundância de vinho
nos tempos messiânicos. Jesus e seus discípulos são convidados para uma festa
de casamento. A mãe de Jesus também estava lá. Falar de festa de bodas é evocar
não só a Aliança passada (Noé, Abraão, Moisés), mas a nova, em Jesus, de cuja
plenitude todos receberam graça no lugar de graça.
A festa humana das
bodas serve na tradição bíblica de metáfora para a Aliança de Deus com o seu
povo. O vinho é dom de Deus para a alegria das pessoas, e sinal de prosperidade.
É por essa razão que ele será abundante nas "bodas escatológicas". Em
Caná, o vinho oferecido por Jesus é superior ao vinho servido primeiro. Graças
à ação de Jesus, a Aliança atinge a perfeição. Por trás das palavras da mãe de
Jesus está Israel, que confia na intervenção divina, espera e vê a promessa de
salvação realizada.
O termo
"mulher" evoca Sião, representada na Bíblia com traços de uma mulher,
de uma mãe. Como em nosso relato a noiva não aparece, é a mãe de Jesus que
representa Sião, cujo esposo é Deus. Em razão de sua cor, o vinho era tido como
o sangue da vinha. Daí ele ter se tornado, como o sangue, símbolo da vida.
"Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância", diz o
Senhor. A nós, a tarefa de distribuir este vinho da alegria e de oferecer esta
vida que é dom.
Site Homilia Dominical
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