O magistério nunca foi
uma escolha e sim uma consequência. Venho de uma família de professoras; minha
mãe pedagoga, incentivava-me a seguir a mesma trajetória iniciada pela minha
avó. Porém, o jornalismo cruzou meu caminho e lá fui eu me aventurar na arte de
informar. Foram dez anos de muito estudo, persistência e descobertas. Pude
entender a escrita da notícia, explicar aos outros os principais fatos que
ocorriam ao seu redor, na esperança de prestar um serviço e mudar a realidade.
Que coisa boa!
A minha rejeição em
lecionar vinha de uma realidade que as estatísticas comprovam. Quem quer ser
professor hoje em dia? Ganhar baixos salários, enfrentar desrespeito,
indisciplina e não ser valorizado? A formação de docentes no Brasil tem caído
nos últimos quatro anos consecutivos. Dados do Censo de Educação Superior de
2013 mostram que é cada vez menor o número de estudantes que procuram cursos de
licenciatura como Letras, Matemática, Química, Biologia, Educação Física entre
outros. Corremos o risco de não ter professores com formação num futuro
próximo.
Eram esses argumentos
desfavoráveis que predominavam na minha cabeça quando tinha 17 anos e estava
prestes a escolher uma profissão para o resto da vida. Consegui me formar
jornalista, cursei pós-graduação, trabalhei com assessoria de imprensa e
televisão. Sem me dar conta, acabava exercendo a função de educadora no
ambiente de redação em que trabalhava. Ao treinar os recém-chegados, ensinava a
prática jornalística, corrigia quando precisavam de ajustes, tarefas
costumeiras que faziam parte do meu cotidiano no telejornalismo.
A sala de aula entrou
na minha vida, no ano de 2011, precisamente em agosto. Por mais que dominasse o
conteúdo, o que importava naquele momento era conquistar os alunos do ensino
superior na minha frente. Como demonstrar a eles, em 45 minutos, tudo o que eu
sabia e estava disposta a transmitir? A boca secava e os nervos se contorciam,
mas fui lá e encarei. Depois da primeira aula, saí suando, e era inverno. Que
experiência gostosa! Naquela noite, ao retornar para casa, não conseguia comer
nem dormir. Paralisada, cobrava-me se realmente havia agido como deveria.
Superei ou decepcionei as expectativas que tinham sobre mim?
Como o passar do tempo
e o contato com os alunos, o medo inicial acabou e cresceu uma vontade de estar
com a turma todos os dias, de explicar a eles os detalhes de cada conceito,
encaminhá-los para o mercado de trabalho, alertá-los quanto aos perigos que
poderiam correr. Enfim, não percebia que era amor o nascimento de um sentimento
novo e diferente.
Hoje, lecionar
significa muito na minha vida. Consigo entender o que realmente motiva pessoas
a enfrentar transportes públicos lotados para trabalhar diariamente em escolas
distantes; compreendo o que impulsiona professores a encararem salas de aula
com pouco espaço físico disponível, ambientes desprovidos de materiais
didáticos para fazer a diferença na vida do outro. A vontade de ensinar acaba
superando os obstáculos que o ensino nacional enfrenta. Como é gratificante ouvir
de um aluno que ele está colocando em prática o que aprendeu em sala, que
determinado conhecimento o ajudou a conquistar algo que desejava. Isso não tem
preço!
Acredito que muito mais
do que transferir conhecimento, o professor precisa motivar o aluno a querer
aprender. É despertar o desejo de melhorar, de ir além do que o básico
proporciona. Parece clichê, mas é uma tarefa difícil em tempos de ansiedade e
imediatismo constantes. Mesmo assim é possível. Se um acreditar, basta para
levantar a multidão. Mostrar que você se importa e levá-lo a descobrir suas
potencialidades é um processo fantástico!
Nem sempre o impulso de
transformar uma realidade é interpretado com bons olhos, porém se o trabalho é
feito com cuidado, carinho e respeito, logo a verdade aparece e os resultados
são extraordinários.
Neste dia dos
professores, convido você a refletir sobre como pode contribuir para o bom
trabalho de um professor. Se for pai, participe mais da vida escolar dos
filhos; se for professor, busque avançar independente das circunstâncias; e se
você estiver em dúvida sobre qual profissão seguir, opte por aquela que pode
formar todas as outras e que lhe dará chances de ser inesquecível na vida de
alguém.
Blog Canção Nova
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