Os últimos Papas têm
insistido em que os católicos participem da vida pública, sobretudo da
política, que é a ciência do “bem comum”, uma forma de fazer a caridade
pública. Recentemente o Papa Francisco, ao falar sobre isso, declarou:
“Envolver-se na
política é uma obrigação para o cristão. Nós não podemos fazer como Pilatos e
lavar as mãos, não podemos. Temos de nos meter na política porque a política é
uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos
cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja, mas eu
pergunto: está suja por quê? Por que os cristãos não se meteram nela com
espírito evangélico? É a pergunta que faço. É fácil dizer que a culpa é dos
outros… Mas, e eu, o que faço? Isso é um dever. Trabalhar para o bem comum é
dever do cristão”.
Note que o Sumo
Pontífice enfatizou que a política é uma das “formas mais altas de caridade”,
porque é por ela que um país é governado, atendendo especialmente os mais
necessitados. Contudo, se os homens e mulheres públicos forem desonestos ou
despreparados, essa caridade não existirá. E a culpa, acima de tudo, é do
próprio povo, porque é ele quem escolhe pelo voto seus governantes.
São aqueles que exercem
cargos públicos, eleitos pelo povo, que empregam o dinheiro de todos,
arrecadado por intermédio dos impostos, para cuidar do povo, especialmente os
mais necessitados, investindo na saúde, no transporte público, na educação, nas
moradias, no saneamento básico, no fornecimento de água, de energia, telefone,
internet, entre outros.
Na sua Encíclica
“Evangelii Gaudium”, em português “A Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco
repetiu: “A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas
mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (EG, 205).
O Papa Bento XVI
afirmou o seguinte sobre esse tema: “Reitero a necessidade e urgência de
formação evangélica e acompanhamento pastoral de uma nova geração de católicos
envolvidos na política, que sejam coerentes com a fé professada, que tenham
firmeza moral, capacidade de julgar, competência profissional e paixão pelo
serviço ao bem comum” (Vaticano, 15/11/ 2008).
O Concílio Vaticano II
também já tinha se pronunciado sobre isso: “Lembrem-se, portanto, todos os
cidadãos ao mesmo tempo do direito e do dever de usar livremente seu voto para
promover o bem comum. A Igreja considera digno de louvor e consideração o
trabalho daqueles que se dedicam ao bem da coisa pública a serviço dos homens e
assumem os trabalhos deste cargo” (Gaudium et Spes, 75).
E o nosso Catecismo da
Igreja Católica, no número 899, repete: “A iniciativa dos cristãos leigos é
particularmente necessária quando se trata de descobrir, de inventar meios para
impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com as exigências da
doutrina e da vida cristãs”.
Na “Christifidelis
laici”, no número 42, São João Paulo II disse: “Para animar cristãmente a ordem
temporal [...], os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação
na «política», ou seja, da múltipla e variada ação econômica, social,
legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e
institucionalmente o bem comum”.
Infelizmente o demônio
colocou na cabeça dos bons que a política é coisa de gente má; então, muitos maus
a dominaram. É preciso acordar desse pesadelo. Os cristãos precisam ter uma
participação ativa na política, não só como candidatos, como também na promoção
dos bons políticos.
O povo precisa aprender
a votar e a conhecer bem os candidatos. Alguns, no dia da eleição, pegam um
papel de propaganda na rua e dão o seu voto a qualquer um. Pior ainda são os
que anulam o voto ou votam em branco, jogando fora o direito e o dever sagrado
de participar da vida da nação. E, ao agirem assim, acabam facilitando a eleição
dos piores. Anular o voto é pecado, é desprezar o direito sagrado de participar
da vida pública. O voto nulo ajuda o mau político a se eleger. Se não gostamos
de nenhum candidato devemos votar no “menos ruim”, mas nunca em branco ou nulo,
pois alguém será eleito.
Hoje com a internet,
ficou mais fácil saber quem é político e quem é “politiqueiro”; quem quer
trabalhar para o povo e quem quer trabalhar para si mesmo. Então, é fundamental
que os cristãos informem seus irmãos e suas comunidades sobre quem não merece o
voto deles.
Precisa ficar claro que
a política é boa, o que não presta é a politicagem; e que o político é bom, o
que não presta é o “politiqueiro”.
O pior problema hoje do
nosso país é que grande parte da população é alienada da vida pública, não lê
um jornal, uma boa revista sobre o assunto, limita-se a ver noticiários de
televisão e se deixa, muitas vezes, enganar por um favor que recebe. São
pessoas que votam com o estômago e não com a cabeça.
O voto é sagrado, é a
arma da democracia se ele for dado com conhecimento de causa e com honestidade,
sem se vender. Contudo, se não houver nada disso, a democracia ficará doente e
poderá se tornar ditadura disfarçada.
O Brasil carece de uma
reforma política séria, por meio da qual se implante, por exemplo, o voto
distrital, se acabe com o tal “coeficiente eleitoral”, que faz com que muitos
sejam eleitos com os votos de outros. Mas tudo isso só acontecerá quando houver
uma mudança na qualidade dos nossos governantes.
Muitos que hoje são
eleitos têm suas caríssimas campanhas políticas custeadas por grandes
corporações: sindicatos, igrejas, cooperativas, empresários, entre outros.
Depois de eleitos, vão trabalhar para o bem do povo? Não. Para o bem de quem os
custeou. Desse modo, a política como caridade não existe e os lobbies a
dominam. Então, é preciso termos governantes eleitos, de fato, pelo povo,
conscientizado e não comprado com caros investimentos. Cabe a cada cristão se
conscientizar a respeito disso e conscientizar seus irmãos para que não sejam
manipulados, comprados e subjugados.
Felipe Aquino
Prof. Felipe Aquino
Nenhum comentário:
Postar um comentário