Um amigo antecipa o céu

Conscientes ou não, o fato é que todos nós necessitamos uns dos outros para sermos verdadeiramente felizes neste mundo. Podemos até trabalhar para ter o pão em nossa mesa, mas ele se torna muito mais saboroso quando é degustado na presença de pessoas queridas. Esforçamo-nos para alcançar metas e conquistar sonhos, mas de que adiantaria vencer se não houvesse com quem partilhar a vitória? Ou seja, todo mundo passa pela necessidade de ter com quem contar e poder dividir sua vida; um amigo entra justamente nesse espaço sagrado do nosso ser, onde, pela força da amizade, o “eu” dá lugar ao “nós” e o egoísmo perde seu poder.

É por isso que quem tem a coragem de viver uma grande amizade consegue ir além em muitos aspectos de sua vida. Ziza Fernandes afirma em uma de suas canções que “um amigo leva a gente pra longe mesmo quando a gente se esconde”. A meu ver, essa é uma das grandes virtudes da amizade.

Um bom amigo acredita no outro, consegue ver suas capacidades muitas vezes escondidas atrás dos medos e das marcas do passado, e o ajuda a dar a volta por cima. Sabemos bem que uma das coisas mais importantes nesta vida é ouvirmos, na hora certa, alguém nos dizer: “Vá em frente, você é capaz, eu acredito em você!”. É como se essas palavras acendessem milhares de luzes em nosso interior, nos fazendo enxergar nosso potencial e nos permitindo experimentar um pouco do céu na terra. Quem é amigo sabe fazer isso com verdade e coerência. Aliás, amizade tem tudo a ver com verdade, respeito e liberdade. Ninguém, nem mesmo o melhor amigo, tem o direito de “mandar na vida do outro”, muito menos, à custa de boa intenção, passar por cima de seus valores, levando a pessoa a uma espécie de dependência afetiva que, antes de ser sinal de amizade, é sinal de egoísmo. Recordo-me de uma história que meu pai contava quando eu era criança, que nos ajuda a perceber o valor da liberdade na amizade.

Havia uma menina que morava em uma casa de sítio, e tudo lá se resumia em harmonia e sossego. Podia-se ouvir nitidamente o canto dos pássaros e contemplar, todos os dias, o nascer e o por do sol. Até que, certa vez, a menina observou que um majestoso sabiá vinha todas as tardes cantar bem próximo à sua janela. O gesto foi se repetindo por muitos dias; então, a menina considerou que o sabiá era seu amigo, começou a apreciar mais o seu canto, alegrar-se com sua chegada e, principalmente, contar-lhe seus segredos. O pássaro também foi se acostumando com a amiga, já não tinha medo de ser apanhado e chegava a cantar cada vez mais perto dela. Costumava ficava um pouco após o canto, saltando entre um galho e outro como que a ouvir suas partilhas. Depois, abria suas bonitas azas amarelas e voava na direção do infinito. A menina aguardava ansiosa a volta dele no dia seguinte, apesar de para ela parecer uma eternidade, pois queria sua presença e seu canto o tempo inteiro.

Um dia, ela teve a infeliz ideia de, numa armadilha, capturar o sabiá. Então, no fim daquela tarde, quando ele chegou para cantar, foi preso em uma gaiola que passaria a ser a sua residência. A alegria da menina contrastava com a tristeza do pássaro que se debatia de um canto a outro, querendo de volta a liberdade. Naquele dia, não houve canto nem conversa, a menina ficou chateada por perceber que o sabiá não gostou da gaiola que ela havia mandado construir com tanto requinte. Já o sabiá, ficou desapontado por perceber que, na verdade, ela nunca fora sua amiga. Nos dias seguintes, o pássaro também não cantou e estava cada vez mais abatido, até que a menina resolveu soltá-lo, afirmando que ele não serviria para ser seu amigo. Ele, por sua vez, voou para tão longe que nunca mais voltou.

Eis a moral da história: se a menina fosse realmente amiga do pássaro, não o teria prendido. Um amigo verdadeiro nunca tira a liberdade do outro e também não é egoísta, não o engaiola. O respeito às particularidades do outro é algo sublime e fundamental em todos os relacionamentos, inclusive na amizade. Penso que quem consegue valorizar e amar seus amigos por aquilo que cada um é, sem esperar nada em troca e sem roubar sua essência, traz um pouco do céu para a terra, pois é assim que Deus nos ama.

Aproveite, portanto, este dia para fortalecer os laços de amizade que fazem parte da sua história. Dedique tempo de qualidade aos seus amigos, aprenda a “apreciar o canto sem prender o sabiá”. Expresse sua gratidão e afeto a cada um, quebre distâncias com um telefonema, uma mensagem ou. se possível, vá ao encontro de seus amigos e leve um abraço, um sorriso sincero e a disposição para o acolher; dessa forma, você o ajudará a experimentar, aqui na terra, um pouco do céu.

Dijanira Silva

Missionária da Comunidade Canção Nova

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