Nas primeiras páginas do
livro da criação, o Autor Sagrado expôs, com perspicácia, a sabedoria com que
Deus criou o mundo e nele introduziu, ao fim da luminosa descrição poética e
profundamente religiosa, o homem e a mulher, feitos à Sua imagem e semelhança,
com inteligência e liberdade. Deus, fonte de todo bem, viu que tudo era muito
bom. Começou a aventura da liberdade!
Muitas pessoas foram
convocadas por Deus para participar da construção de uma história de salvação.
Noé encontrou graça aos olhos do Senhor quando a Terra estava cheia de violência.
Abraão foi escolhido e chamado por Deus, também Moisés, Samuel, Isaías e
Jeremias, ao lado de tantas outras pessoas que aprenderam, em meio às luzes e
sombras, a discernir a voz do Senhor. E ainda foram muitas as histórias de
infidelidades, pecados, traições, nas quais um povo de cabeça dura voltou
atrás, depois de decidir-se pelo seguimento da Palavra do Senhor. E Deus, em
Sua misericórdia, sempre estava aberto para o perdão.
Na plenitude dos tempos,
foi chamada uma jovem, quem sabe, apenas adolescente, a Virgem Maria, na qual o
Céu encontrou a mais transparente de todas as respostas. Nela, a Palavra Eterna
de Deus se fez Carne. Em nome da humanidade, foi o 'sim' que a Deus agradou, a
contrapartida da humanidade para se realizar a salvação, mãe que fez a vontade
de Deus. E veio Jesus Cristo!
Depois dos anos vividos
em Nazaré, Jesus vai ao Jordão, acolhe a voz do Pai e a manifestação do
Espírito Santo, e inicia a pregação do Reino. Jesus chamou os primeiros
apóstolos, abriu o leque para convocar os que foram chamados de discípulos, envolveu
famílias amigas, como vemos nas visitas a Marta, Maria e Lázaro. O Senhor teve
colóquios de amizade e confidência com Pedro, Tiago e João; olhou com amor
provocante e desafiador para muitas pessoas, suscitando nelas a decisão pelo
Seu seguimento, dirigiu-se às multidões, consolou, curou e perdoou! Ninguém
passou em vão ao lado de Cristo!
No correr do caminho,
conquistou discípulos e amigos, mas também granjeou reações ferrenhas de Seus
opositores e esteve com grupos que Lhe prepararam verdadeiras armadilhas verbais.
Para estupor de todos os que n'Ele depositam a segurança de sua vida, foi até
considerado um homem possuído por Belzebu. Sabemos que muitas ciladas foram
preparadas para prendê-Lo, o que só aconteceu quando chegou a hora de passar
deste mundo para o PaI.
Nosso Senhor Jesus
Cristo é Senhor da História, mas se submeteu ao julgamento da própria história,
deixando aberta a margem da maravilhosa e terrível realidade da liberdade
humana, para que todos os seres humanos possam se decidir diante d'Ele. Os que
se decidem pelo Seu seguimento participarão de Suas alegrias e também de Suas
provações ou privações. A eles caberá usar o precioso dom da liberdade, para
tomar decisões acertadas, para se erguerem das próprias quedas e assumirem o
norte de suas vidas, iluminados que foram pela bússola da fé.
São Paulo, um dos
chamados na undécima hora, fez a experiência da fé em Jesus Cristo. Nele é
possível encontrar alguns critérios para as decisões a serem tomadas, pois
todos nós somos igualmente chamados ao seguimento de Cristo, aprendendo a
pensar o que é certo e realizá-lo.
A luz da fé, suscitada
pelo seguimento de Jesus, provocado pelo anúncio da salvação, é o horizonte
para as decisões. O cristão não é indiferente diante dos cruzamentos das
estradas de sua vida. Ele escolhe o que é conforme Cristo e Seu Evangelho, sem
medo de nadar contra a correnteza. Por causa de sua fé, fala e dá testemunho
corajoso, superando a pusilanimidade que conduz à omissão vergonhosa. Para
tanto, sua força está na oração, com a qual experimenta a presença certa
daquele Senhor que escolheu para seguir.
Diante das
dificuldades, é sua tarefa vencer o desânimo e erguer os que estão caídos.
Cabe-lhe sempre tomar a iniciativa! Sabe que os sofrimentos, as dores e a
própria morte não têm a última palavra, pelo que se renova dia a dia e aposta
sua vida no que é invisível e eterno.
Decisões guiadas pela
fé, oração, iniciativa, coragem diante dos obstáculos, capacidade de olhar para
o alto! Nada menos do que a proposta da Igreja para todos e não para um grupo
de privilegiados. A decisão está nas mãos de nossa liberdade!
Dom Alberto Taveira
Corrêa
Arcebispo de Belém - PA
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