Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

As primeiras comunidades cristãs de Jerusalém, movidas pela devoção e pelo desejo de partilhar de perto, com amor, os passos de Jesus no seu caminho de paixão e de glorificação, organizaram, sobretudo a partir do século IV, celebrações especiais em cada lugar onde Jesus tinha vivido seus últimos dias de presença física no meio dos seus discípulos, dias tão decisivos no plano de Deus e para a nossa salvação: da entrada de Jesus em Jerusalém e da última ceia no cenáculo à paixão no horto das oliveiras; da morte no Calvário à sepultura e ressurreição no jardim, até a ascensão na colina perto de Jerusalém.

As celebrações da Semana Santa, porém, não são somente comovidas maneiras de pôr em cena os trágicos eventos dos últimos dias de Jesus em Jerusalém. Elas nos proporcionam a graça de nos mergulhar, com fé, em sua relação de amor com o Pai e conosco, o que nos transforma e salva.

A palavra proclamada e acolhida com fé não fala ao passado, não lembra histórias de outrora, ela continua a se realizar em cada um de nós pela potência do Espírito.

“Bendito o que vem em nome do Senhor!”. Com esse refrão acompanhamos a procissão até a porta da igreja. A entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, no júbilo e na alegria, é inseparável da proclamação da sua Paixão, centro da liturgia eucarística deste domingo.

A 1ª Leitura do profeta Isaías, que delineia a figura e a missão do Servo do Senhor sofredor, salvado por Deus e por ele escolhido a tornar-se Salvador não somente de Israel, mas de todos os povos, destaca a mesma intrínseca conexão entre sofrimento e salvação.

Na 2ª Leitura, Paulo proclama a mesma mensagem, ao apresentar Cristo como modelo inspirador da nova maneira de viver na comunidade dos discípulos. A comunidade dos filipenses, ainda nova na experiência da fé, vive uma situação de competição e de conflitos entre seus membros. Paulo oferece a eles a única saída, coerente com o evangelho que receberam e que os fez crescer como comunidade de irmãos e irmãs.

Paulo os convida a voltar às origens, à nascente da vida cristã: é a relação estabelecida com Jesus no Batismo e seu exemplo. Jesus, o Verbo de Deus, despiu-se voluntariamente pela humilhação até a morte de cruz, a morte reservada para os escravos, aos quais a sociedade e a lei não reconhecia a dignidade de pessoa humana. Pelo paradoxo do amor do Pai, porém, em razão desta humilhação ele foi glorificado pelo Pai e constituído Senhor e Salvador de todos.

A lógica da Páscoa se torna o sangue divino que corre nas veias do corpo da comunidade, irrigando-a com sua vida. Esta reviravolta nas atitudes interiores e no estilo das relações recíprocas, passando da competição à solidariedade, não é fruto do empenho ético do homem, mas da graça de Deus que orienta em nós a vontade e os comportamentos.

Aqui emerge a graça da Páscoa que nos renova interiormente e nos impele a atuar de maneira coerente com o mistério que estamos celebrando. Nisto consiste a verdadeira “participação ativa, consciente, plena e frutuosa”, à qual temos direto e possibilidade, graças ao nosso Batismo, e que é favorecida pela estrutura ritual das celebrações, renovada pelo Concílio Vaticano II.

No Evangelho, o evangelista Mateus, preocupado em convencer seus conterrâneos sobre a Verdade de Jesus de Nazaré, usou de uma estratégia ao reler as escrituras, apontando de maneira caridosa e paciente, os textos que a ele se referiam facilitando assim a compreensão sobre o conteúdo das leituras desse Domingo de Ramos, que nos introduzem na Semana Santa, onde se celebra o Tríduo Pascal, enfocando a Vida e a morte, a plena realização e o fracasso, as trevas e a Luz, antagonismos presentes não só na Vida Terrena de Jesus, mas na vida de cada Ser Humano, que a partir de então poderá fazer suas escolhas e decidir-se por uma ou por outra, pois Salvação é exatamente isso, conhecer a Verdadeira Luz, a Vida e a Verdade Absoluta que é o próprio Cristo, e deixar-se atrair por ele tomando a decisão de segui-lo, não mais a partir de uma obrigatoriedade Legal de Caráter Religioso, mas a partir de uma experiência real como ocorreu com as Comunidades de Matheus, e o Oficial Romano, sendo este precisamente o convite e o apelo desse evangelho: que as nossas comunidades revejam toda a caminhada e em uma auto afirmação da nossa Fé, redescubramos: Jesus é o nosso Senhor, o Filho de Deus!

O máximo que se pensou sobre Jesus, é que ele fosse um Profeta, tal qual nos atesta a conclusão do relato da sua entrada em Jerusalém, Mateus não engana seus leitores, pois sendo um Profeta renomado, terá o mesmo destino dos demais, sendo ouvido por poucos, rejeitado por muitos, e finalmente esmagado com a morte. Portanto, aquilo que parece ser um momento de glória, pelo menos na visão nacionalista da Nação de Israel, irá redundar em terrível fracasso! Há Glória sim, presente no regozijo de um Homem totalmente novo, Fiel, que com sua encarnação Divinizou a todos e a cada um dos homens, resgatando neles a imagem e semelhança do Deus Criador. Um homem capaz de ter toda firmeza e confiança em Deus,, mesmo diante das contrariedades e provações, em um contexto que caminha para o iminente fracasso, como esse Servo de Iahweh, assumido pelo Profeta Isaías, e que nessa circunstância provoca a queixa orante do Salmista “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes”

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