A 1ª Leitura nos mostra
que, o dia do Senhor, mencionado várias vezes no Antigo Testamento, geralmente
é considerado como uma visitação ou vinda; como uma intervenção divina quase
sempre iminente.
A imagem do fogo não
tem por objetivo causar medo, mas é simplesmente uma metáfora tirada da vida cotidiana.
Alguns aspectos do processo de refinação de metais são simbolicamente
empregados várias vezes para discorrer sobre a purificação do pecado e como
prova de fidelidade a Deus.
A prata era obtida pelo
processo de fusão. Sob alta temperatura, as substâncias agregadas à superfície
do metal se transformavam em pó, o qual era repelido por uma rajada de ar. Nas
diversas referências bíblicas, a refinação do metal é usada simbolicamente para
ilustrar o tipo de provação à qual os seres humanos são submetidos. Em momentos
difíceis da história é que se pode constatar quem de fato é ou não fiel a Deus.
Aqueles que permanecem fiéis, firmes na fé, experimentarão a libertação
definitiva, mesmo que eventualmente suportem algumas circunstâncias difíceis.
Na 2ª Leitura, o tema
central da carta aos Hebreus é o sumo sacerdócio de Cristo. Sacerdote significa
mediador, ou seja, alguém por meio do qual se efetiva a relação entre Deus e a
humanidade, entre Criador e criatura. A mediação realizada por Jesus Cristo
somente é possível porque ele é totalmente divino e totalmente humano, ou seja,
faz parte da esfera do Criador (é Filho) e da criatura (é homem).
Na relação de Cristo
com Deus, temos o aspecto da autoridade, pois foi glorificado à direita do Pai.
Já na relação com a humanidade, temos o da misericórdia, visto que, por
experiência própria, participou de nossa fraqueza, sendo em tudo semelhante a
nós, exceto no pecado.
Cristo é sumo sacerdote
tanto por sua intimidade com o Pai quanto por sua solidariedade com a
humanidade. Ambas as relações foram levadas ao extremo. A credibilidade e a
solidariedade de Cristo fazem dele o fundamento da nossa fé. O ser humano pode
lançar toda a sua existência sobre esse fundamento, por duas razões: porque
Cristo é o Filho de Deus constituído em dignidade; porque amou a humanidade a
ponto de morrer na cruz para libertá-la do poder da morte e associá-la à oferta
de sua própria vida ao Pai.
Os primeiros versículos
do Evangelho tratam especificamente da manifestação (epifania) do messiado de
Jesus a partir do cumprimento dos ritos de iniciação na religião da sua
família, o judaísmo. Jesus e Maria, recém-nascido e parturiente, submeteram-se
a tudo que a lei de Moisés indicava a respeito do nascimento de um menino
primogênito
.
Pela circuncisão, Jesus
tinha sido oficialmente marcado como membro de Israel, ingressando na aliança
feita com os patriarcas e com os descendentes deles desde Abraão até os
escravos libertos do Egito. No momento da circuncisão, de acordo com a lei dada
por Deus a Moisés, foi imposto o nome do menino: ele foi chamado Jesus, conforme
o anjo havia orientado. Naquela cultura, o nome designava a identidade e a
missão da pessoa. Jesus quer dizer “Deus salva”. Isso significa que Deus nunca
desistiu de salvar o mundo por meio de Israel e que cumpriu essa promessa
mediante um israelita fiel, Jesus de Nazaré. Ao se tornar oficialmente membro
do povo da aliança, Jesus realizou em sua vida, morte e ressurreição a vocação
que Abraão e seus descendentes haviam recebido.
Pelo rito de iniciação
à religião judaica, ou seja, de pertença à antiga aliança, Jesus não somente
deveria ser circuncidado, mas também resgatado. O primeiro rito remetia aos
patriarcas e o segundo, à libertação do Egito. O ritual do resgate estava
vinculado à Páscoa, quando os primogênitos dos hebreus tiveram a vida poupada e
se tornaram consagrados a Deus. O resgate significava que o primogênito era
trocado por uma quantia em dinheiro e, a partir de então, podia deixar o
santuário e voltar ao convívio familiar.
Propositalmente, Lucas
não menciona o resgate de Jesus, que, à semelhança dos levitas, continuará
sempre pertencendo a Deus. Em vez do resgate do primogênito, Lucas narra a
apresentação de Jesus, evocando a entrada do Senhor no santuário para realizar
uma grande purificação. Ao dizer que o menino foi purificado, o evangelho está
afirmando que Israel inteiro foi igualmente purificado por meio dele.
A segunda parte do
evangelho de hoje fala sobre o reconhecimento do Cristo pelos representantes
dos piedosos que esperavam a vinda do Messias, ou seja, a consolação de Israel,
a qual, conforme Isaias, é sinônimo da salvação que vem de Deus. Os “pobres de
Javé” reconhecem o Messias libertador naquele frágil recém-nascido.
Primeiramente, aparece
Simeão. Seu hino de louvor é também um discurso de despedida, como acontece no
livro do Deuteronômio, que fecha o Pentateuco (Torah) com longa despedida de
Moisés. O velho Simeão reconhece que a esperança de Israel converge para aquele
menino, o qual realizará a libertação de Jerusalém, a cidade santa, que no
Antigo Testamento representa todos os escolhidos de Deus. Além disso, o menino
é uma luz que parte de Israel para as nações pagãs e será um sinal de
contradição, pois diante dele todos terão de tomar uma decisão. Nesse sentido,
ele será soerguimento para alguns e queda para outros, pois diante dele se
revelarão as intenções dos corações.
Em seguida, Ana é
mencionada. O nome dela significa “graça”, “favor”. Ao fazer referência à
família de Ana como pertencente ao clã de Fanuel, Lucas alude a uma experiência
mística do patriarca Jacó e a todos aqueles que sempre desejaram ver Deus face
a face. Também a menção à tribo de Ana é algo bastante significativo, porque,
no antigo Israel, a tribo de Aser ficava ao norte; isso mostra que Ana era uma
profetisa da Galileia e, portanto, seria considerada pelos legalistas de Jerusalém
como suspeita de heresia. No entanto, é ela, e não os líderes religiosos da
época, quem reconhece Jesus como Messias.
Homilia Dominical
Nenhum comentário:
Postar um comentário