Apresentar-se

Costumamos dizer “amém” no fim de alguma prece ou mesmo para mostrar nosso assentimento quando alguém nos faz alguma proposta ou há uma verdade por nós aceita. O fato de nos apresentarmos a um chamado para uma reunião, um evento ou um compromisso revela também nossa conduta afirmativa em relação a esse fato.

Era costume, no meio judeu, levar uma criança para apresentá-la no templo, consagrando-a a Deus, quando esta era o primeiro filho homem nascido de um casal. Isso aconteceu com o Menino Jesus. Sucede conosco também o mesmo no batismo, fazendo o rito de consagração como entrega a Deus da vida de uma criança ou de um adulto, com base em sua fé religiosa.

O desafio da fé é, justamente, o compromisso de fidelidade. Há quem se apresente, oferecendo-se a Deus, numa vida consagrada, seguindo o que Ele indica para nosso próprio bem. Mas, devido às propostas diferenciadas, aos limites e entraves pessoais, à fraqueza da fé e outros motivos, começa a voltar atrás na oferta de si. Em vez de renovar a própria entrega, a pessoa vai tirando o que ofertou a Deus.

Às vezes, o fingimento de ter fé leva a pessoa a praticar atos religiosos, mas sem querer seguir os ensinamentos divinos propostos pela comunidade religiosa. Há quem queira religião a seu modo, sem liame com a comunidade de fé nem compromisso pessoal de seguir a ética e a moral, contrariando sua própria fé.

Jesus fala sobre o amor a Deus, o qual exige o cumprimento de Seus mandamentos. São João Evangelista lembra: "Quem diz que conhece a Deus, mas não cumpre os seus mandamentos, é mentiroso, e a Verdade não está nele... o amor de Deus se realiza de fato em quem observa a Palavra de Deus” (1 João 2,4.5). Quem quer viver a fé conforme o Mestre não tem medo de se apresentar sempre como seguidor da pessoa d'Ele e de Seus ensinamentos. Mais: ensina também aos outros o que Ele indica, conforme a missão dada por Ele.

Depois do ato ou compromisso de fé, caracterizado no batismo, a pessoa vai mostrar sua coerência na fidelidade do seguimento ou discipulado. Não tem vergonha de testemunhar sua escolha de vida. Em todas as realidades, circunstâncias e vocações, mostra a que veio com sua fé. Baseada nela, mostra a fidelidade na vida honesta, na promoção do bem do semelhante, no compromisso com a proposta de vida cristã aos outros, no encaminhamento da família conforme os ditames do Evangelho, na ajuda à promoção da justiça e da boa política na sociedade. Não tem medo de se apresentar como pessoa do bem, coerente com a verdade e na luta pela dignidade da vida e da pessoa humana.

O Filho de Deus nos mostra que Sua apresentação no Templo marca Sua presença em nossa história como quem resgata a aliança de amor entre o divino e o humano, na oblação do amor, que faz gerar vida plena para todos.

Dom José Alberto Moura, CSS

Arcebispo Metropolitano de Montes Claros

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