O grito do Ipiranga, desde a tarde do dia 7 de setembro de 1822, ecoa
até hoje no coração de todos os brasileiros: “Indepedência ou morte!”. Naquele
contexto de um Brasil Colônia, a atitude do Imperador Dom Pedro I expressou o
que ia no coração de todos os brasileiros: o desejo de ser uma nação soberana.
É de se perguntar se a proclamação simbólica da independência realizou,
de fato, esse sonho de soberania, uma vez que as elites rurais permaneceram com
seus privilégios políticos e focadas na exportação da matéria-prima nacional; a
escravidão foi mantida e mantidos foram também os latifúndios e o modelo de
governo monárquico. Estranhamente, o Brasil indenizou Portugal pela sua
independência pagando 2 milhões de libras esterlinas, começando, ali, a dívida externa
brasileira com a Grã-Bretanha que emprestou o dinheiro. Será que foi
independência ou morte?
Esses fatos que recordamos, todos os anos, na data cívica de sete de
setembro, tem algum significado ao coração do cristão? Encontramos a resposta
no Compêndio de Doutrina Social da Igreja da Católica, nos números 421-427, os
quais tratam do “Estado e as Comunidades Religiosas”. O assunto é muito atual,
pois, na defesa de um Estado Laico, alguns imaginam que se deveria limitar a
liberdade religiosa que permite aos cristãos, por exemplo, engajar-se no mundo
da política. Segundo a Doutrina Social da Igreja (DSI) esta liberdade religiosa
é um direito fundamental.
Então, qual seria a relação saudável entre a Igreja Católica e a
comunidade política? A DSI indica dois princípios. O primeiro é, justamente, o
da “autonomia e independência”. A Igreja e o Estado são estruturas visíveis,
mas independentes. Enquanto Igreja está organizada para atender os fins espirituais
dos fiéis, o Estado tem como finalidade cuidar e prover o bem comum temporal.
O segundo princípio é o da “colaboração”. Igreja e Estado são
independentes, mas não separados. A sadia colaboração entre eles será benéfica
para o povo. Atenção: quando a DSI fala que a missão específica da Igreja é o
bem espiritual das pessoas, não exclui as outras dimensões da vida, pois sua
missão abraça toda a realidade humana. Nesse sentido, vale a pena transcrever o
número 426 do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, que é muito claro: “A
Igreja, portanto, pede: liberdade de expressão, de ensino, de evangelização;
liberdade de manifestar o culto em público; liberdade de organizar-se e ter
regulamentos internos próprios; liberdade de escolha, de educação, de nomeação e
transferência dos próprios ministros; liberdade de construir edifícios
religiosos; liberdade de adquirir e de possuir bens adequados à própria
atividade; liberdade de associar-se para fins não só religiosos, mas também
educativos, culturais, sanitários e caritativos.”
Quem sabe possamos corrigir o grito do Ipiranga. Não se trata de
“independência ou morte”, mas “independência e colaboração”. É assim que
construiremos uma nação, na qual reine a justiça social. E enquanto ainda
existir focos de dependência e exclusão, somos chamados a promover a
solidariedade com todos os que estão na periferia da história, como sempre nos
lembra o Papa Francisco: “Não podemos dormir tranquilos enquanto crianças
passam fome”.
Padre Joãozinho, SCJ
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