A reflexão sobre o Livro da Sabedoria, na
1ª Leitura, nos leva a perceber que não é possível conhecer os desígnios de
Deus senão pela sabedoria que ele mesmo nos oferece. A sabedoria vinda do
espírito de Deus é que nos conduzirá e nos permitirá aprender o que agrada a
Deus e, nesta direção encaminhar nosso fazer, nosso ser, nosso viver.
Na 2 ª Leitura, São Paulo, escrevendo a carta a Filêmon, mostra
concretamente a vivência do desapego. Diz ele sobre Onésimo: “meu filho que fiz
nascer na prisão para Cristo [...] ele é como o meu próprio coração (cf. Fl
23). Então evidencia sua profunda doação interior ao revelar a Filêmon que
“gostaria de retê-lo junto de mim”, porém “o estou mandando de volta a ti”.
Esta passagem ilustra o evangelho lido hoje: o desprendimento de Paulo em
relação a Onésimo concretiza, de algum modo, as palavras de Jesus, ao ensinar
que, se alguém quer segui-lo, mas não desapega dos que lhes são queridos, não
pode ser discípulos. Lembremos que este desapego não significa abandonar
familiares e amigos, mas atribuir a primazia a Deus. É colocar o projeto de Deus
à frente de todos os outros projetos. Tudo, desde os afetos até as posses
materiais, é inserido no plano de Deus que cada um assume livremente. “Se não
renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33)isto é, aquele que não estiver disposto a ter sempre como primeira
opção os valores de Jesus, mesmo que isso exija-lhe abrir mão do que tem ou do
que desejaria fazer, não pode pertencer inteiramente ao grupo dos discípulos.
Será sempre, por assim dizer, um discípulo incompleto.
No Evangelho, Lucas nos mostra um episódio ocorrido no período em
que numerosas multidões seguiam Jesus. As pessoas pareciam sedentas por seus
ensinamentos.
Em seu sentido mais simples, o verbo
“seguir” significa “ir atrás”, tão somente “acompanhar”. Jesus indica às
pessoas que formam a multidão ao seu redor que o caminho de seu seguimento não
é assim tão simples, não é apenas ouvir palavras bonitas, talvez reconfortantes.
Seguir Jesus, no contexto da história da salvação, significa a adesão total a
uma pessoa que propões um programa de vida. O seguimento exige desapego até
mesmo das pessoas mais queridas e requer que cada um tome sua cruz, ou seja,
assuma integralmente sua condição de discípulo missionário. Embora a caminhada
não seja mais fácil, sua culminância não está na cruz em si, mas no que vem
depois dela: Jesus não terminou sua vida na cruz, mas a completou na glória da
ressurreição. Quer olhando para a cruz, quer olhando para a ressurreição, a
opção não deve ser feita apressadamente. Assim como um construtor calcula os
gastos para edificar uma obra e um rei calcula as foras que tem para enfrentar
o inimigo, também quem quer seguir Jesus deve ter consciência do quanto lhe
será exigido. A exigência de Jesus é radical: “se não renunciar a tudo o que
tem, não pode ser meu discípulo!” (Lc 14,33). Esta renúncia diz respeito,
especialmente, ao esvaziamento de si mesmo, para se deixar preencher pelo
Cristo, através do Espírito Santo.
Site Emana
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