Ao assumirmos a vida de
cristãos, somos convocados a nos unirmos de tal forma a Cristo, que Ele possa
viver plenamente em nós em todas as circunstâncias de nossa vida cotidiana. Os
pais de família devem buscar, na oração, o apoio para reger o lar.
Libertar-se do pecado
grave é somente o primeiro passo de uma caminhada mais longa, mas muito mais
frutuosa. Foi desse modo que Jesus resumiu o trajeto de vida do jovem que lhe
perguntou sobre o modo de adquirir a vida eterna: antes de tudo, viver
plenamente os mandamentos; depois, abandonar o próprio modo de vida e seguir
Cristo para ser perfeito (cf. Lc 18,22 e Mc 10-21).
Seguir Cristo é nos
tornarmos um com Ele. O tríplice múnus (obrigação/dever) de Cristo como
profeta, sacerdote e rei torna-se, assim, guardando as devidas proporções,
também nossa obrigação e meta de vida.
O que significa isso
na vida de um pai de família?
Antes de mais nada,
entregar-se à oração e pedir a Deus uma verdadeira união com Ele. União de caminhos,
união de metas e vontades. Devemos, como João Batista, entender e realizar essa
verdade: “É necessário que ele cresça, e eu diminua” (Jo 3,30).
Encontrar-se com Deus
e com si mesmo
Devemos nos atentar para
as influências que maridos e esposas causam na sua própria casa, estando
conscientes disso ou não. Vivemos numa época em que ambos participam de todas
as atividades do lar, mas é importante saber o que é próprio de cada um e como
isso transparece na vida familiar.
Enquanto a mulher acaba
influenciando em todas as relações, e é próprio do dom feminino reconhecer as
personalidades, necessidades e o modo de tratar cada membro familiar, é próprio
do homem preservar e orientar a família rumo a uma meta ou objetivo. Uma casa
que possui uma matriarca atenta é uma casa unida, e o vínculo é o amor. Uma
casa que possui um verdadeiro patriarca é uma casa unida, com princípios e
metas definidas.
Eis o primeiro benefício
da oração de um homem para si mesmo e para sua família: ele percebe para onde
precisa ir, percebe que todas as realidades do mundo passam e que sua vida (e
de sua família) precisam estar orientadas para a eternidade. Ou, seguindo os
versos que São Luís Martin (pai de Santa Teresinha) gostava tanto: “Homem, o
tempo é nada para um ser imortal! Infeliz quem o poupa, insensato quem o chora.
O tempo é teu navio e não tua morada!” (Alphonse de Lamartine).
Um homem que orienta sua
vida para viver plenamente como um cristão, imediatamente causa eco em sua
família. Seu testemunho, suas ações e palavras não deixam de ser sentidas e, se
é realmente coerente, harmoniza o lar e lhe confere uma grande segurança. A
autoridade paterna é, assim, confirmada como aquilo que realmente é: uma
participação da autoridade de Deus sobre nós. Ao orientar todas as realidades
da sua casa a Deus, o homem compartilha, na prática, do múnus sacerdotal de
Cristo.
Seja senhor de sua
casa
Devemos lembrar que, como
na parábola dos talentos, ao homem também são confiados aqueles que habitam em
sua casa. Prestaremos contas deles a Nosso Senhor e esperamos ouvir “Parabéns,
servo bom e fiel! Vem participar da alegria do teu senhor!” (Mt 24,14-30). É
deste modo que o homem faz parte do múnus de rei, governando um pequeno e precioso
tesouro. Tesouro esse que deve render sempre mais para a eternidade. Feliz o
homem que consegue ser o senhor de sua casa servindo à sua esposa e seus
filhos. É assim que vive o Papa sendo “servo dos servos de Deus”, imitando o
Cristo que “sendo de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com
Deus, mas se aniquilou a si mesmo, assumindo a condição de escravo e
assemelhando-se aos homens”(Fl 2,6-7).
Se, na vida familiar, o
“reinado” do homem deve ser serviço e zelo por sua casa, na oração, o pai de
família deve se utilizar de sua autoridade e clamar a Deus. Esse é o segundo
benefício da oração do homem por seus amados: intercessão poderosa perante Deus
em favor dos seus. Afinal, Cristo não nos confia nossa casa e nos abandona, mas
permanece atento ao nosso lado. Vemos como Jairo pediu por sua filha e foi
atendido (Mc 5, 22 e Lc 8, 41) e como o centurião, também responsável por
muitos homens, vem suplicar pela vida de um daqueles que fora deixado aos seus
cuidados (Lc 7, 2). Deus mesmo sustenta, através da oração, a autoridade que
ele constituiu na terra.
Não dorme, nem cochila
o vigia de Israel (Sl 121,4)
Aquele que é responsável
como rei e orienta todas as realidades da vida a Deus como sacerdote, precisa
vigiar incessantemente. Se “nossa luta não é contra o sangue e a carne” (Ef 6,
12), precisamos estar atentos para que permaneçamos em Cristo e “tenhamos
confiança e não sejamos confundidos por ele, na sua vinda” (I Jo 2, 28). Isso
só é possível na oração constante e confiante.
Ela nos deixa atentos
para as realidades do mundo que, muitas vezes, são pura enganação. Jesus, em
meio à agonia do Horto das Oliveiras, pediu a Pedro, Tiago e João que não
dormissem, mas que orassem e vigiassem (Mt 26, 41 e Mc 14,38). Na parábola das
dez virgens (Mt 25, 1-13) também todas acabam adormecendo, e somente aquelas
cinco que levaram azeite extra, conseguiram manter suas lâmpadas acessas ao
acordar e ir ao encontro do esposo.
Por isso, somente o homem
que vigia incessantemente sobre sua família, por meio da oração, consegue viver
o múnus de profeta no lar. Esse é o terceiro benefício conquistado pelo homem
que reza por sua família, Deus pode eficazmente conduzi-lo e orientá-lo em Sua
vontade.
É o pai-profeta quem
interpreta a vontade de Deus e as direções que Ele quer que tomemos em nossa
vida familiar. Foi assim que Abrão deixou tudo que tinha e partiu rumo a uma
terra distante (Gen 12,1), Moisés foi em busca do povo eleito para libertá-lo
(Ex 3,10) e tantos outros pais de família tomaram decisões inusitadas e
incompreensíveis para o mundo. Também é o Senhor quem nos alerta para pessoas,
situações e vivências que parecem inocentes, mas que, com o tempo, podem causar
grandes estragos familiares. Mudanças de emprego, novos cursos, esta ou aquela
escola, tais e quais amigos ou conhecidos, como viver tudo isso sem estar em
oração? Como viver tudo isso sem vigiar, sem entender que o espiritual é muito
maior e mais abrangente que o mundo visível que nos cerca?
Homens, rezem! Rezem por
vocês e por suas famílias. Rezem sem cessar (1 Ts 5, 17), sem desanimar! A sua
casa precisa de seu apoio, orientação e serviço. E quem somos nós se não
contarmos com Deus para viver tudo isso? Não se iluda achando que conhece o
mundo e a forma das coisas do mundo. Afinal, lembre-se que “por alto preço
fostes comprados, não vos torneis escravos de homens” (I Cor 7, 23) vivendo
como se o espiritual não existisse na realidade de sua família.
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