Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu (cf. Eclesiastes
3, 1). Nesta máxima da sabedoria em Israel, fundamento da cultura grega
presente no mundo judaico, bem localizado no horizonte cristão, vê-se o quão
oportuna é a figura de um ancião que tem o intuito de instruir os jovens.
Há uma sabedoria que não pode ser esquecida sob pena de perder o
verdadeiro sabor das coisas e dos sentidos adequados para a existência,
provocando os desvarios absurdos que têm configurado a sociedade contemporânea.
Concretizados em violência, corrupção, imoralidade, indiferença com a dor dos
outros, perversidade; e ainda no entendimento da vida como disputa, na surdez
para o grito dos pobres. Estes desvarios acontecem pela falta de sabedoria que
pode estar ausente ou ser cultivada nas estratégias da governança moderna, nas
especializações das ciências deste tempo, ou mesmo na aprendizagem dos
processos formativos.
Essa sabedoria capacita corações e inteligências para o discernimento
adequado, de modo que as escolhas configurem condutas à altura da dignidade
humana em todos os níveis e na direção de cada pessoa, respeitada a sua
singularidade.
A busca dessa sabedoria é tarefa de todos. Não se pode delegá-la, seja
na família, nas instituições, nos variados contextos - ou eximir-se dessa
missão. Os fluxos que configuram a cultura ocidental estão comprometidos.
Impedem, lamentavelmente, por atos e escolhas, o cultivo permanente dessa
sabedoria para equilibrar a vida e vivê-la dignamente desde a fecundação até a
morte com o declínio natural. A vida de todos está o tempo todo por um fio. É
resultado da falta de sabedoria de que tudo tem seu tempo - discernimento que
modula a inteligência livrando-a dos desatinos da irracionalidade e preservando
o sentido de limite, sem comprometer a liberdade e a autonomia.
No livro do Eclesiastes, capítulo terceiro, o ancião se empenha na
tarefa de instruir os jovens. Insiste na compreensão que não pode ser
substituída nem pela ciência e nem por estratégias.
Vale retomar sempre as indicações do sábio ancião: "Tudo tem seu
tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de nascer e
tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo
de matar e tempo de curar, tempo de destruir e tempo de construir, tempo de
chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo de dançar, tempo de espalhar
pedras e tempo de ajuntar, tempo de abraçar e tempo de afastar-se dos abraços,
tempo de procurar e tempo de perder, tempo de guardar e tempo de jogar fora,
tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de
amor e tempo de ódio, tempo de guerra e tempo de paz". Está indicado que a
vida não pode ser vivida e conduzida sem essa sabedoria. Trata-se de um caminho
longo na vivência do amor, na prática da justiça, na assimilação de valores, no
exercitar-se no gosto de ser bom e de encantar-se com o outro.
As instituições todas, sobretudo a família, têm tarefas fundamentais
nesse processo para tecer uma cultura ancorada na sabedoria. Se esse caminho
não for percorrido, com urgência e perseverança, os desvarios da violência, das
disputas, das agressões e da perda de sentido continuarão desfigurando
instituições, culturas, modos de viver. Assim as vítimas, e também agentes,
desse processo, serão especialmente os mais jovens.
Diante da atual realidade torna-se premente modular os corações e as
culturas no horizonte dos valores que se revelam na pessoa de Jesus Cristo. A
propósito de que tudo tem seu tempo, vivenciamos o momento propício para
refletir sobre o verdadeiro sentido do Natal. É preciso sabedoria para não se
curvar diante de enfeites, de Papai Noel e de outros símbolos comerciais que
parecem ofuscar Jesus Cristo, o Dom maior de Deus Pai para a salvação da
humanidade.
É tempo de cultivar símbolos como o presépio, antiga tradição educativa
que modelou corações no bem, cuja intuição sábia de São Francisco de Assis nos
deixou como herança. É tempo de reavivar o coração na fé e nos valores que só o
encontro com Cristo pode garantir.
Resgatando a inspiração de Francisco de Assis, a Arquidiocese de Belo
Horizonte convida todos a reacenderem a chama do amor de Deus, fonte
inesgotável da sabedoria que sustenta a vida.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
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