A festa da Imaculada Conceição situa-se dentro do Tempo do Advento. Com
ela celebramos, ao mesmo tempo, a “bendita entre as mulheres e o bendito o
fruto do seu ventre”, o menino que vai nascer será chamado o filho de Deus.
Na 1ª Leitura, a narrativa do Gênesis com sua linguagem simples, coloca
o tema da existência do pecado na vida humana. O que está em jogo é a
capacidade humana, latente nas pessoas de todos os tempos, de frustrar o plano
de Deus, não realizar a vontade do Pai, cedendo aos próprios caprichos e
desejos humanos, sobretudo, quando esses desejos são “endeusados”.
Mas o trecho do Gênesis lido hoje deixa entrever, segundo uma antiga
interpretação, que a humanidade poderá, em algum momento, vencer essas
limitações e realizar fielmente o plano de Deus. O mal não terá, a última
palavra. É possível vencer a “serpente”. A opressão tem suas raízes na
serpente.
A serpente simboliza a auto-suficiência, isto é, o desejo que as pessoas
alimentam de ocupar o lugar de Deus. Essa é a suprema idolatria. Com Maria, que
se proclama Serva do Senhor; as comunidades que celebram sua fé vão aprendendo
a superar o espírito da auto-suficiência que gera a morte em nossa sociedade.
Como também a carta aos Efésios, na 2ª Leitura, nós também podemos hoje
dizer: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou
com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu”.
Este hino é um louvor a Deus pelo que realizou em nós por meio de
Cristo, isto é, decidiu que todos nós formassem uma só pessoa com Cristo, que
recebessem a sua vida divina e fossem introduzidos na sua família. Assim
poderemos ser eternamente felizes com ele. A humanidade não é destinada à ruína
e à destruição, mas à alegria perene.
Se no livro de Gênesis se espelha a humanidade pecadora, no Evangelho a
imagem perfeita daqueles que encontraram graça diante de Deus: a humanidade
redimida, cheia de graça.
Com Maria, Deus torna a dialogar com as suas criaturas. Deus faz de nós
novamente seus parceiros na história.
Para São Lucas, Nossa Senhora é o tipo de discípulo que Deus procura
para construir a sociedade e fazer novas histórias. Nossa Senhora se põe à
disposição do plano de Deus “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo
a tua palavra!”. Em nossa Senhora encontramos as duas atitudes fundamentais de
quem está disposto a se comprometer com a nova história trazida por Jesus: fé e
serviço.
Deus intervém em nossa caminhada para construir um mundo novo. Mas
pressupõe fé e serviço de quantos esperam a chegada e a manifestação do Messias
em nossa história. Por que para Deus, nada é impossível.
Nossa Senhora é uma criatura, nada tem de seu. Tudo nela é obra do
Onipotente “cujo o nome é Santo”. Por isso no trecho do Evangelho de
hoje é chamada “Cheia de Graça’. É a mesma graça que Deus quer dar em plenitude
a todos nós.
Nossa Senhora, não se opõe ao plano de Deus. Pergunta apenas que missão
ele quer confiar-lhe e aceita docilmente a iniciativa divina. Não pede sinais,
como Zacarias havia feito, mas se entrega em confiança plena na vontade de
Deus. Fé é crer no que não se vê, é perseverar diante do impossível.
A Boa Nova de hoje é “alegra-te”! Essa é a primeira palavra de Deus para
todas as suas criaturas e para nós também. Alegria que nasce de dentro de quem
enfrenta a vida com convicção e sabe que “Ele está no meio de nós”. Neste tempo
cheio de incertezas, escuridões, problemas e dificuldades não podemos perder a
alegria e a coragem. Em tantos apelos para nos desviar do caminho de Deus,
permaneçamos, como Maria, fiéis ao projeto do Reinado de Deus. Nossa Senhora
nos mostra que o mal pode ser vencido, mas só se tivermos a coragem de dar nós
também o “sim” a Deus. Não esquecendo que dizer “sim” a Deus é dizer “sim”
também ao ser humano, que busca vida e dignidade.
Pe. Paulo Afonso Mendes
Nenhum comentário:
Postar um comentário