As manifestações e os protestos, que acontecem em todo o país,
surpreenderam a população, os políticos, os governos e também a Igreja. Tudo
começou com o aumento das tarifas de ônibus urbanos nas capitais, mas agora já
ficou claro que não é este o único motivo das manifestações; na verdade, é uma
série de reivindicações de direitos que está em jogo.
O que pode acontecer de tudo isso? Por ora, é muito difícil dizer. Marco
Maciel disse que manifestações do povo, desta natureza, podem dar em tudo e
podem dar em nada. Parece-me que algo vai mudar neste país e devemos todos
trabalhar e rezar para que seja para o bem e para melhor.
Castro Alves disse que “a praça pertence ao povo assim como os céus
pertencem ao condor”. O povo está ocupando as ruas e praças para reivindicar
direitos. O cartaz de um dos manifestantes dizia: “Não exigimos 20 centavos,
mas direitos”. Quais direitos? Melhores hospitais e médicos (outro cartaz
dizia: “queremos mais hospitais e menos campos de futebol”), o fim da corrupção
institucionalizada, melhores transportes coletivos, menos inflação que corrói
os salários, menos impostos (o Brasil é campeão do mundo em cobrança de
impostos; trabalhamos cinco meses só para pagá-los). Parece que as ações
sociais do Governo já não bastam para acalmar o povo, pois este quer políticos
mais honestos, menos “toma lá da cá”, menos conchavos, menos fingimentos.
O povo quer menos violência e mais segurança, mais e melhores estradas,
portos, aeroportos, rodovias, escolas e professores. Parece-nos que todas essas
exigências estão acumuladas nas razões dos protestos. Nota-se que, sobretudo, é
um protesto da classe média que se sente prejudicada. Os pobres recebem a bolsa
família e outras bolsas, os ricos não têm problemas e sabem se defender junto
aos políticos e ao Governo.
A origem deste movimento não é muito clara. A organização que comanda as
manifestações – Movimento Passe Livre (MPL) - é regida pelos princípios do
Fórum Social Mundial como se pode conferir no site do “Movimento” (cf.
http://mpl.org.br/node/2). É um movimento que tem cores um tanto diferentes
(cf. http://mpl.org.br/node/5) com base em palavras chaves como
“horizontalidade” (sem hierarquia, cf. http://mpl.org.br/node/1). Embora se defina
como apartidário, confessa-se não antipartidário. Portanto, a não dependência
partidária explícita não significa independência partidária. O site diz: “O
Movimento Passe Livre é horizontal, autônomo, independente e apartidário, mas
não antipartidário. A independência do MPL se faz não somente em relação a
partidos, mas também a ONGs, instituições religiosas, financeiras etc.”
Há muitas perguntas a serem feitas, por exemplo: de onde vem o dinheiro
para a mobilização de toda essa massa humana em todo o país? Isso custa caro! É
cedo para decifrarmos tudo o que está acontecendo. Numa primeira – e muito
precária observação –, parece-nos que o povo, insatisfeito com muita coisa,
aproveita-se do Movimento Passe Livre e faz dele um veículo de suas manifestações.
Parece ter roubado a cena.
Há mais de vinte anos não se via, no Brasil, algo dessa natureza, o que
nos leva a crer que algo vai mudar neste país. Que seja, então, o que pede a
Igreja na sua Doutrina Social: mudanças que coloquem o homem como centro das
medidas políticas necessárias para que haja justiça, paz, verdade, amor e
liberdade verdadeira. Que o mais importante não seja o lucro nem o Estado, mas
a pessoa humana, mesmo a não ainda nascida. Peçamos a Deus que de tudo isso
nasça um “pacto social” em favor de todos, especialmente da família – célula
mater da sociedade – não só dando-lhe pão e circo, mas tudo que precisa.
Rezemos, como na oração da Bênção do Santíssimo: “Deus e Senhor nosso,
protegei... todas as pessoas constituídas em dignidade para que governem com
justiça; dai ao povo brasileiro paz constante e prosperidade completa”.
Felipe Aquino
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