“Não foram dez os curados? E os outros nove,
onde estão?” A obediência daqueles dez leprosos à Palavra de Jesus os levou à
cura, mas, aparentemente, a falta de gratidão de nove agraciados os desvia de
quem foi o Salvador. Em Jesus, aquele leproso samaritano – infiel e herege
segundo os judeus – encontrou o Deus verdadeiro e o Seu representante na terra.
Por isso, dirá Jesus ao samaritano: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”. Há,
pois, um contraste entre cura e salvação que o mundo atual não percebe, porque
os bens imediatos – embora não sejam tudo – são os únicos que interessam e
preocupam à maioria.
Aqueles leprosos
marginalizados aproximam-se de Jesus. Apesar de sua total culpabilidade perante
Deus e os homens, eles têm esperança. Sua cura dependia daquele Mestre, de quem
tinham ouvido falar como grande médico e curandeiro. O grito deles pode ser também
o nosso, quando a esperança só tem como base a bondade divina: “Jesus, Mestre,
tem compaixão de nós!”
Como pensamos que Deus
vê nossas vidas? Limpos e puros ou tão terrivelmente marcados pelo mal que
parecemos leprosos cheios de imundície?
O ponto de partida para
a ação divina é a súplica. Jesus não os busca; são eles que buscam Aquele que
tem poder para curá-los. O resto é um mandato: conformem-se com a Lei, se é que
querem viver em sociedade novamente. No tempo do profeta Eliseu, Naamã recebeu
a ordem de se lavar no Jordão. Agora, com Cristo, os dez leprosos foram
enviados ao sacerdote. Nada há de anormal ou extraordinário em ambas ocasiões.
É a obediência que atrai a ação de Deus e transforma o homem em Seu Filho amado
no qual encontra satisfação.
O agradecimento é
essencial nas relações com Deus. Todos nós somos semelhantes aos nove leprosos
curados. Incapazes de uma súplica que não seja uma petição de ajuda. Uma vez
obtida a mesma, esquecemos o louvor, o elogio, a ação de graças. Nossa religiosidade
tem muito de oportunismo, de interesse, de ingratidão. Conformamo-nos com o
nosso bem-estar e esquecemos o muito que temos recebido como dom. O pouco mal
que nos atinge não nos permite enxergar o muito de bem que nos rodeia. Por
isso, a queixa é mais abundante que o louvor.
Por esse egoísmo
próprio de quem só olha seu próprio bem, esquecemo-nos que os bens são fruto de
uma dádiva divina. Não nos servimos de Deus, nós servimos a Ele. E a melhor
maneira de servi-Lo é agradecê-Lo e obedecê-Lo.
Esquecemos que os bens
agora possuídos são uma simples amostra do que nos espera se a gratidão toma
conta de nossas vidas. O canto às misericórdias de Deus, nesta vida, é só o
começo do canto sem fim que será o “modus vivendi” na eternidade.
Desde já, devemos aprender
a recitá-lo, caso queiramos vivê-lo como experiência existencial.
A gratidão implica em
ações de graças, pelas quais comunicamos e partilhamos com os outros os bens
recebidos por nós.
Pai, que o meu coração,
repleto de fé, reconheça Jesus que me liberta de todas as lepras que o mundo
semeia entre os homens.
Padre Bantu Mendonça
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