A solenidade em honra
de todos os Santos é uma das mais antigas. Foi, porém,o Papa Gregório IV que em
835 quem ordenou que esta festa fosse celebrada no mundo inteiro. Trata-se de
comemorar a memória de todos aqueles que já se acham no reino do céu,
partilhando a alegria de Deus. Nesta data se coloca a questão: Que é um santo?
No exórdio do Sermão da Montanha Jesus fez o retrato falado dos eleitos, dos
bem-aventurados ( Mt 5,1-12). A fonte desta santidade é Deus, três vezes santo
(Is 6,3). É impossível expressar com palavras a santidade divina que transcende
infinitamente todas as criaturas. O ser pensante pode e deve participar, dentro
de suas limitações, desta perfeição inefável do Criador que ordenou: “Sede
santos, porque eu sou santo” (Lev 11,44). O salmista oferece também um roteiro
admirável para seguir este preceito divino: “Senhor, quem há de morar em vosso
tabernáculo? Quem habitará em vossa montanha santa? O que vive na inocência e
pratica a justiça, o que pensa o que é reto no seu coração, cuja língua não
calunia; o que não faz mal a seu próximo, e não ultraja seu semelhante. O que
tem por desprezível o malvado, mas sabe honrar os que temem a Deus; o que não
retrata juramento mesmo com dano seu, não empresta dinheiro com usura, nem
recebe presente para condenar o inocente. Aquele que assim proceder jamais será
abalado” (Sl 14).
A santidade consiste,
portanto, numa adesão total às sagradas leis divinas numa atitude inteiramente
voltada para Deus. Para o batizado se trata de uma vida nova em Cristo animada
pelo Espírito Santo. Entretanto, cumpre se observe que não há santidade sem se
passar pelo Calvário. O cristão santo tem que se mortificaroração numa série de
esforços perfeitamente positivos e sob o impulso de ardente amor ao Ser
Supremo. Amar é preferir, ou seja, sacrificar as preferências próprias, para
acatar as propostas do Criador. Amar é o sair de si mesmo para o outro, isto é,
para Deus e para o próximo. Amar a todos como Jesus os ama, ou seja, com uma
dileção pessoal até o sacrifício. É o sentir o irmão na fé, dando-lhe espaços,
ajudando-o a carregar o fardo de cada hora. Tudo isto sob os acordes do belo
hino entoado por São Paulo: “A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é
invejosa, não se ufana, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus
próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a
injustiça, mas alegra-se com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê e, tudo espera,
tudo suporta” (1 Cor 13,4-7).
Os santos que já estão
na pátria celeste realizaram de maneira excelente aquilo que todo cristão deve
sempre praticar, se estiver cônscio de sua vocação. Para que isto aconteça
cumpre deixar o Espírito Santo agir. Ele confere a toda ação a qualidade
espiritual que leva cada um a progredir sempre nos caminhos da perfeição. Assim
sendo, as tarefas são serenamente executadas. Ser santo não é ficar rezando o
tempo todo, mas, tendo cada um reservado momentos para suas preces individuais
ou comunitárias, é transformar os demais atos diários, ainda os mais
absorventes, em oração. A atividade nos múltiplos afazeres também enriquecem a
espiritualidade e faz crescer na graça santificante. É mister captar a
espiritualidade que está inerente na própria atividade, mesmo porque em
qualquer circunstância cada um está a serviço do outro. É só dar uma aplicação
transcendental ao que se está realizando sob o impulso do amor a Deus e ao
próximo, dando qualidade sobrenatural àquilo que se faz. Em outros termos, é de
vital importância a encarnação da espiritualidade na ação, o que conduz a um
crescimento na santidade existencial. Isto bem dentro da diretriz do Apóstolo:
“Quer comais ou bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a
glória de Deus (1 Cor 10,31).
É no cotidiano, nas
mais pequeninas atividades que se opera a santificação pessoal daqueles que
acreditam em Cristo. Eis por que todos os que permanecem fiéis, firmes na sua
fé, arraigados na esperança, perseverantes na caridade, podem ser considerados
como santos. Este deve ser o ideal de todo cristão, não sendo isto uma honra
reservada apenas a alguns privilegiados. O importante é estar movido pelo
espírito de Jesus e este espírito não deixa que se esteja longe da participação
da vida de Deus e aí está já configurada a salvação. Não há distinção entre ser
salvo e ser santo. É preciso ser santo para ser salvo. Todas estas verdades
devem ser aprofundadas no dia dedicado àqueles que já estão na Jerusalém
celeste, para que não se perca o rumo da Casa do Pai.
Retirado do Site da
Comunidade Shalom
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