O banquete e a festa de casamento são imagens conhecidas na bíblia para falar do reino e das realidades de Deus. A túnica e o anel, em contraposição à nudez, também ocupa na simbólica bíblica um lugar importante para evocar a dignidade dos servos e servas de Deus. Mateus junta estas duas imagens nesta parábola de duplo acento, que serve para mostrar tanto a universalidade do reino anunciado por Jesus (o banquete aberto a todos), como as exigências deste mesmo reino (a necessidade da veste adequada). Certamente a repercussão da violenta destruição de Jerusalém pelos romanos, no ano 70 d.C., influenciou Mateus ao compor este relato e ao colocar no rei da parábola muito das atitudes dos soldados daquele exército.
Jesus, sentindo-se criticado pelas autoridades religiosas do seu tempo por ser amigo dos pecadores, responde que, no banquete do reino, todos são convidados e ninguém pode sofrer exclusão. Afinal não se trata de um banquete qualquer, mas das bodas do filho do rei, símbolo da chegada do tempo messiânico. Para esta festa, todos estão convidados, começando pelos que estão mais próximos, e estendendo-se aos pobres que vivem longe do convívio social, os que foram colocados à margem.
Hoje, o que antes se chamava pobreza e se referia aos pobres do Terceiro Mundo, chama-se exclusão e se refere aos milhões e milhões de pessoas que, no mundo inteiro, estão fora de qualquer possibilidade de organizar a sua própria vida. Então, este desejo de Deus de fazer do mundo um banquete onde ninguém fique de fora, é um apelo atual e já está se cumprindo em todos os esforços de pessoas e comunidades que, no mundo inteiro, buscam formas concretas de solidariedade. Mas aponta para o que ainda falta neste mundo alquebrado pelas forças da guerra e da brutalidade dos humanos.
A celebração das comunidades é um pequeno ensaio deste mundo novo que o evangelho propõe, um sinal e uma amostra deste banquete que Deus nos servirá no final dos tempos. Talvez devamos aprender mais com nossos irmãos e irmãs das Igrejas evangélicas a dimensão da eucaristia como ceia do senhor e refeição fraterna; com os irmãos e irmãs negros, a relação essencial entre culto e alegria; com os nossos pais e mães da fé, o simbolismo do pão e de sua partilha, o qual dava, na Igreja primitiva, o próprio nome para a eucaristia – fração do pão. Que o Espírito nos ajude a fazer de nossa celebração dominical um momento de alegria e de fraterna comunhão, um sinal de abundância num mundo de famintos.
Retirado da Revista de Liturgia
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